Economia

As conquistas da cafeicultura brasileira

Os produtores lembram antepassados ao poupar os bolsos com matérias orgânicas para reduzirem as caríssimas doses de agroquímicos

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Outubro terminou com intensas Andanças Capitais em regiões cafeeiras. Primeiro, no sul de Minas Gerais, verificando resultados de final de colheita bastante razoáveis para as diversas variedades da espécie arábica, apesar de adversidades climáticas pontuais. Depois, no norte do Espírito Santo, onde há três anos os produtores de robusta (conilon) sofrem uma seca brava, a ponto de escassez fazer sua cotação, tradicionalmente 40% menor, igualar à da espécie arábica, de melhor qualidade.

Nas duas últimas semanas, mais acadêmico, estive em Serra Negra (SP), no 40º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras e, mais prático, em Jacarezinho (PR), na 20ª Feira Internacional de Cafés Especiais.

Como não escrevo sem antes espicaçar os medíocres, mesmo sem ler, posso apostar que o “colunista de agronegócios” da Folha de São Paulo e líder da banda “Ronaldo Caiado e seus Berrantes”, como faz desde que lá passou a escrever, não tocou em nenhum assunto agropecuário. Deve ter continuado a defender a PEC 171 + 70, negar as palestras de Lula em Angola, já provadas factuais em vídeos, e elogiar a ministra-presidente do STF em sua hombridade (êpa!).

A cafeicultura no Brasil tem história espetacular. Em introdução, idas, vindas e conquistas. Ao contrário de culturas recentes, pop-stars, desenvolveu-se em completa interação terra, clima, relevo, ambiente, homens e mulheres. Fora o Triângulo Mineiro e o sul da Bahia, foi aberta aquém de terras de cerrado. Suas árvores duram e produzem por décadas.

Do plantio à apanha, amalgamou nossas condições naturais à vontade de campesinos, caboclos e sertanejos, locais ou imigrantes. Enquanto o planeta continuar aumentando o consumo e os produtores brasileiros insistirem em pesquisas para obter qualidade, teremos sucesso.

A “velhice” da cultura cafeeira permitiu entender as vantagens orgânicas quando associadas aos nutrientes minerais. Isto, está no sangue dos cafeicultores paulistas, tenham eles se tornado barões ou não. O uso da palha, do esterco, de ovinos e caprinos na capina, a colheita “no pano”.

Daí ser mais fácil para quem constrói cafezais absorver as novas tecnologias, que já existem fundamentadas na ação benéfica sobre a microbiota dos solos. São fertilizantes compostos orgânicos, condicionadores e substratos, extratos vegetais, aminoácidos e hormônios naturais, fermentações de microrganismos, resultam em capacidade de se aproveitar os acúmulos de agroquímicos lá existentes e não aproveitados, além de aumentarem a resistência contra pragas, doenças e estresses climáticos.

Sabem que, assim, reduzem expressivamente seus custos e podem se defender das variáveis não controláveis, como o preço no momento da comercialização e as variáveis climáticas.

Em todo esse trajeto percebi que o desgastado conceito de sustentabilidade, que se espalha sob risco de inocuidade, se mantém sem qualquer rotulação pelo lado econômico, mais do que tudo.

Se os pioneiros no plantio de grãos demoraram para entender o cultivo em plantio direto na palhada e, praticamente, aí pararam em usar o meio ambiente como seu aliado, os cafeicultores foram rápidos em entender as vantagens no café-cereja descascado, o tratamento de águas residuais, a colheita em ponto de seca. Agora começam a lembrar antepassados e entender como poupar seus bolsos utilizando matérias orgânicas para reduzirem as caríssimas doses de agroquímicos.

Entendem que aumentarão a produtividade, aproveitando o que já sobrevive no solo. Nutrientes depositados, mas indisponíveis. Enfim, não são tolos completos como pensa a indústria química.

O mesmo que ocorre na cultura do café se repete com a olericultura e a fruticultura. Ainda corre lenta no segmento dos grãos, pela sua expressão volumétrica, mais visado na massificada divulgação da indústria agroquímica. Parecem bebês reféns de mamadeiras sintéticas. Recusam os peitos de suas mães sem reconhecer as futuras deficiências que virão. Não imaginam a quantidade de leite derramado em seus solos que poderia fácil e imediatamente ser liberados se ativassem os microrganismos benéficos existentes em “suas terras”.

Enquanto Chicago, o protecionismo e o custo Brasil permitirem, eles têm todo esse direito. Quando os ventos mudarem de direção, precisarão usar suas costumeiras posições políticas para contar com a ajuda de Henrique Meirelles. Ou não.

Oferta mundial de grãos

Segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), em previsão que pouco difere do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global de grãos, na safra 2016/17, deverá atingir 2,1 bilhões de toneladas. Pouco inferior à colhida na safra anterior, mas suficiente para manter os estoques equilibrados em relação à demanda. Aproveitem, meninos e meninas, para reduzirem seus custos de produção.

Amanhã, como sabiam Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, “nada será como antes”. 

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