Economia
Antes tarde
Em votação apertada, o BC decide iniciar a fase de cortes na taxa Selic


Por 5 votos a 4, incluídas as posições do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do novo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, o Comitê de Política Monetária reduziu em meio ponto porcentual a taxa de juros Selic, dos 13,75% estabelecidos um ano atrás para 13,25%, após forte pressão do governo e de amplos setores da sociedade. Foi a primeira diminuição do juro de referência depois de três anos de recordes de alta, apesar de melhoras sucessivas dos chamados indicadores relevantes. “A decisão foi positiva, sobretudo porque era discutida uma redução menor, de somente 0,25 ponto. É importante destacar também a sinalização de reduções semelhantes nas próximas reuniões. Ao que tudo indica, a entrada dos novos diretores já está diminuindo a rigidez do BC”, ressalta o economista João Romero, professor do Cedeplar-UFMG, em referência aos dois diretores designados por Lula. Além de Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, passou a integrar a cúpula do BC o funcionário de carreira Ailton Aquino dos Santos, no cargo de diretor de fiscalização.
José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, aponta o fato de que, apesar de a decisão de reduzir a Selic não ter sido unânime, a divergência não impediu o Banco Central de anunciar no seu comunicado que, confirmado o cenário esperado, os integrantes do comitê, unanimemente, anteveem reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que este é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária, até que se consolidem a desinflação e a ancoragem.
Por contracionista, sublinha Gonçalves, entendem-se juros acima da taxa neutra. Se a Selic até então em 13,75% e uma taxa neutra de 4,5%, conforme aviso recente do Copom, conviviam, existia um excesso de 9,25% que soma a inflação esperada e o nível contracionista da política monetária. Taxa neutra, cabe acrescentar, seria aquela adequada para o estímulo da economia sem afetar a inflação ao longo do tempo. “No limite, é cabível esperar que 7,50% seja o valor final do ciclo de queda da Selic, isto é, 3% de inflação esperada e 4,5% de taxa neutra de juros.”
A diminuição dos juros retrata alguma redução do espaço da política monetária, que exerce seus efeitos maiores sobre os detentores de ativos, e amplia aquele das políticas fiscais, que podem ser adaptadas para favorecer os ricos ou os pobres conforme decisões políticas, observam vários economistas. •
Publicado na edição n° 1271 de CartaCapital, em 09 de agosto de 2023.
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