Economia
Alta do dólar não deve aumentar exportações
Analistas acreditam que moeda no patamar de R$ 1,90 não traz ganho de competitividade à indústria brasileira


A incerteza no cenário global, principalmente em relação à Espanha, e a expectativa pelo corte da Selic para 9% ao ano ajudaram o dólar a emplacar uma semana com forte alta. Além disso, a atuação do Banco Central (BC) em leilões de compra da moeda elevou a cotação na quinta-feira 19 ao patamar de 1,88 real, a maior desde novembro de 2011.
O BC tenta valorizar a moeda – que em abril já tem alta de 3,23% e no ano superou as perdas para avançar 0,91% – inclusive com dois leilões de compra na quarta-feira 18 a indicar uma tentativa de manter o dólar próximo a 1,90 real. Um patamar que, segundo especialistas ouvidos por CartaCapital, deveria ser situado acima de 2 reais para restaurar a competitividade da indústria, afetada com a valorização do real.
Mas a atuação do órgão regulador é vista pelo ministro Guido Mantega como necessária e, por isso, deve ser mantida.
Devido a um cenário menos tenso nos mercados europeus nesta sexta-feira 20 e dados positivos sobre a zona do euro e o Reino Unido, o dólar interrompeu a trajetória de alta. Até o fechamento desta reportagem, a moeda caia 0,53% para 1,872 real.
O esforço do BC, no entanto, não é visto de forma unânime entre os analistas de mercado. Para Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas, o custo desse movimento é alto para o País, que assume dívidas a uma taxa alta, de 9% ao ano. Para evitar essa taxa, Khair tem outra sugestão. Como saída para conter o dólar e ajudar as exportações, o analista defende a emissão de moeda. “O governo brasileiro adota estímulos pequenos, mas é preciso ampliar a liquidez da economia. Ao emitir moeda, é possível comprar dólar, como o BC vem fazendo, sem emitir títulos.” O Planalto é contrário a essas medidas. Quando os países desenvolvidos fizeram emissões de moeda, a presidenta Dilma Rousseff classificou a estratégia como causadora de um “tsunami monetário” na economia mundial. Internamente, também é improvável que a Fazenda trilhe este caminho. A emissão de moeda pode produzir inflação, coisa que o governo tenta evitar a todo custo.
Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP, avalia que o benefício desta ação é válido, embora de curta duração. “O capital estrangeiro tem forte entrada no Brasil, o que desvaloriza o real e força o BC a agir para reverter esse cenário em certos momentos.”
Além disso, o cenário internacional incerto e medidas protecionistas adotadas por alguns países não favorecem a um aumento significativo das exportações brasileiras. “Diversos países em dificuldade procuram exportar para o restante do mundo e temos salários altos em relação ao nosso nível de produtividade industrial. Por isso, o custo aqui é maior que em países do sudeste asiático, o que dificulta a competição”, diz Santos.
E completa: “Há um problema de desindustrialização e as medidas para tentar minimizá-lo, como a taxa de juros mais baixa e o câmbio [mais alto], não são suficientes.”
Neste cenário, Khair defende a necessidade de se reduzir a importação por meio do controle do câmbio para equilibrar as contas externas, aliado à emissão de moeda. “Aí o governo poderia fazer desonerações para valer para a indústria e a sociedade.”
O ex-secretário também defende que o governo dose o câmbio de acordo com a necessidade das contas externas, buscando estabelecer uma cotação do dólar que lhe favoreça.
Ao contrário da indústria, a balança comercial – que em abril está com saldo negativo em 280 milhões entre importações e exportações-, pode ser beneficiada pela alta do dólar, que deve reduzir a saída de recursos e os gastos no exterior. “Conforme o câmbio aumenta, o saldo comercial é ampliado, há redução na remessa de dividendos [ao exterior] e cai o rombo da conta do turismo. Hoje para o brasileiro convém comprar no exterior, é um turismo de compras.”
A incerteza no cenário global, principalmente em relação à Espanha, e a expectativa pelo corte da Selic para 9% ao ano ajudaram o dólar a emplacar uma semana com forte alta. Além disso, a atuação do Banco Central (BC) em leilões de compra da moeda elevou a cotação na quinta-feira 19 ao patamar de 1,88 real, a maior desde novembro de 2011.
O BC tenta valorizar a moeda – que em abril já tem alta de 3,23% e no ano superou as perdas para avançar 0,91% – inclusive com dois leilões de compra na quarta-feira 18 a indicar uma tentativa de manter o dólar próximo a 1,90 real. Um patamar que, segundo especialistas ouvidos por CartaCapital, deveria ser situado acima de 2 reais para restaurar a competitividade da indústria, afetada com a valorização do real.
Mas a atuação do órgão regulador é vista pelo ministro Guido Mantega como necessária e, por isso, deve ser mantida.
Devido a um cenário menos tenso nos mercados europeus nesta sexta-feira 20 e dados positivos sobre a zona do euro e o Reino Unido, o dólar interrompeu a trajetória de alta. Até o fechamento desta reportagem, a moeda caia 0,53% para 1,872 real.
O esforço do BC, no entanto, não é visto de forma unânime entre os analistas de mercado. Para Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas, o custo desse movimento é alto para o País, que assume dívidas a uma taxa alta, de 9% ao ano. Para evitar essa taxa, Khair tem outra sugestão. Como saída para conter o dólar e ajudar as exportações, o analista defende a emissão de moeda. “O governo brasileiro adota estímulos pequenos, mas é preciso ampliar a liquidez da economia. Ao emitir moeda, é possível comprar dólar, como o BC vem fazendo, sem emitir títulos.” O Planalto é contrário a essas medidas. Quando os países desenvolvidos fizeram emissões de moeda, a presidenta Dilma Rousseff classificou a estratégia como causadora de um “tsunami monetário” na economia mundial. Internamente, também é improvável que a Fazenda trilhe este caminho. A emissão de moeda pode produzir inflação, coisa que o governo tenta evitar a todo custo.
Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP, avalia que o benefício desta ação é válido, embora de curta duração. “O capital estrangeiro tem forte entrada no Brasil, o que desvaloriza o real e força o BC a agir para reverter esse cenário em certos momentos.”
Além disso, o cenário internacional incerto e medidas protecionistas adotadas por alguns países não favorecem a um aumento significativo das exportações brasileiras. “Diversos países em dificuldade procuram exportar para o restante do mundo e temos salários altos em relação ao nosso nível de produtividade industrial. Por isso, o custo aqui é maior que em países do sudeste asiático, o que dificulta a competição”, diz Santos.
E completa: “Há um problema de desindustrialização e as medidas para tentar minimizá-lo, como a taxa de juros mais baixa e o câmbio [mais alto], não são suficientes.”
Neste cenário, Khair defende a necessidade de se reduzir a importação por meio do controle do câmbio para equilibrar as contas externas, aliado à emissão de moeda. “Aí o governo poderia fazer desonerações para valer para a indústria e a sociedade.”
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