Economia

A Semana do Mercado: PEC dos Precatórios continua no radar

O editor de Finanças William Salasar comenta as principais tendências de abertura da Bolsa terça 16

Bolsonaro, ao centro, com o Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Foto: SERGIO LIMA/AFP
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Sem indicadores domésticos mais relevantes, exceto a chamada “prévia do PIB”, isto é, o índice IBC-Br, divulgado na manhã desta terça-feira 16, os mercados financeiros continuam atentos, nesta semana, à PEC dos Precatórios, com a qual o governo pretende não só furar o teto de gastos mas conseguir mais dinheiro para comprar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro com verbas para parlamentares usarem em suas paróquias eleitorais.

O Ibovespa abriu em alta, porém inverteu o sinal com a divulgação do índice IBC-Br de atividade econômica, que registrou queda de 0,27% em setembro, decorrente da retração dos três principais setores no período: varejo (-1,1%), serviços (-0,6%) e indústria (-0,4%), conforme já divulgado pelo IBGE. Como o IBC-Br é lido como uma antecipação do Produto Interno Bruto, apurado pelo IBGE, a variação negativa do indicador divulgado nesta manhã reforçou a percepção de que a atividade seguiu relativamente estagnada no 3º trimestre, mantendo o viés de baixa para as projeções de crescimento de 2021 e 2022.

O outro indicador divulgado hoje é o IGP-10 da FGV, que registrou alta de 1,19% em novembro, pressionado, especialmente, pelas recentes elevações dos preços dos combustíveis no atacado, que fez com que o IPA – Índice de Preços no Atacado – subisse 1,31% no mês, além de pressões no varejo (0,79%). Em 12 meses, o índice ficou em 19,78% (ante 22,53% em outubro). Ou seja, mais inflação e menos crescimento. Na hora do almoço, o Índice Bovespa acusava baixa de 1,8%, a 104.425 pontos ,enquanto que o dólar comercial para a venda acusava alta de 0,69%, a 5,4957 reais.

Refletindo o cenário de estagflação, o Relatório Focus, em que o BC divulga as médias das projeções de economistas consultados por ele para compulsar os ânimos do mercado financeiro, informou que as expectativas de crescimento da economia ficaram abaixo de 1% para 2022 pela primeira vez, enquanto as de inflação continuaram subindo. A expectativa atual para o PIB é de um crescimento de 0,93%, contra 1% na semana passada. A projeção para o PIB deste ano também caiu pela quinta semana seguida e chegou a 4,88%.

O Focus mostra a inflação de 2022 em 4,79%, na 17ª semana seguida de alta. Com isso, fica cada vez mais próxima do teto da meta, de 5%. A meta para o ano que vem é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para a inflação, a expectativa para o final de ano subiu pela 32ª semana consecutiva, batendo em 9,77%. Na semana passada, estava em 9,33%. Para 2022, a projeção subiu a 4,79%, ante 4,63% na semana passada. Para 2023, subiu de 3,22% para 3,32%. O centro da meta oficial para a inflação em 2021 é de 3,75% e para 2022 é de 3,50%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

As expectativas para a taxa básica de juros, a Selic, ficaram estáveis para o final deste ano, em 9,25%, e para o final de 2022, em 11%. Já para 2023, subiram de 7,50% para 7,75%.

Hoje pela manhã, em palestra em Lisboa, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enviou recados que a Federação Brasileira de Bancos considerou “importantes”. Campos destacou que o grande desafio do BCB no combate à inflação tem um forte componente externo, o que é diferente e mais grave que nos ciclos inflacionários anteriores.

“O presidente do BC também voltou a mencionar a importância de que seja reafirmado o compromisso com o controle fiscal, após toda discussão em torno da PEC dos Precatórios”, assinalou a entidade. A expectativa aqui parece ser a de que a discussão no Senado não piore o quadro e que o governo e Congresso reforcem a mensagem de que, passado este episódio, vai retomar a âncora fiscal. O desafio aqui não é pequeno, mas a mensagem parece ser a de que sem uma contribuição do lado fiscal será muito difícil que a política monetária sozinha consiga controlar as pressões inflacionárias presentes na economia, analisa a Febraban.

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