Economia

A Semana do Mercado: Inflação e precatórios não saem do radar

Analistas já veem a possibilidade de a bolsa continuar a cair, recuando abaixo da marca dos 100 mil pontos

Foto: iStock
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Inflação e precatórios. Há semanas o mercado não pensa em outra coisa. E esta não será diferente, ainda mais com o mercado norte-americano “encurtado” pelo feriado do Dia de Ação de Graças, na quinta-feira, logo, com menor liquidez, alta volatilidade e preços manipuláveis. Além disso, o único indicador doméstico importante é justamente o IPCA-15, uma prévia do indicador oficial de inflação do País — que por ser calculado num período diferente, mostra a tendência do resultado do final do mês.

Os operadores, investidores e analistas aguardam a divulgação do IPCA-15 de novembro para calibrar expectativas sobre a reunião do Copom de dezembro. O cenário é de pressões de preços ainda crescentes e, como lembram os economistas da Febraban em boletim semanal. Diz o texto: “com o presidente do BCB alertando que as expectativas de inflação para 2022 estão saindo da meta”.

A expectativa é que o IPCA-15 suba 1,11% no mês, pressionado, em especial, pela alta dos combustíveis, diante do repasse ao varejo dos reajustes da Petrobras às refinarias. O avanço, no entanto, deve seguir disseminado, com alta dos preços dos alimentos, bens industriais e serviços. Com o resultado, a inflação deve acelerar de 10,34% para 10,66% no acumulado em 12 meses, maior patamar desde fevereiro de 2016.

Mesmo havendo espaço para que a bolsa caia ainda mais, o mercado deve se animar com os preços baixos e se concentrar na alta sazonal de final de ano

Por isso, os analistas da Itaú Asset Management, assim como outros observadores do cenário econômico, destacam a evolução das projeções publicada no Focus, que vem registrando sucessivas elevações em expectativas de inflação.

Os economistas da corretora Terra, por sua vez, destacam que a projeção para este ano já chegou aos dois dígitos, ao subir dos 9,77% da semana passada, para 10,12% na edição do Focus divulgada esta manhã. “O problema é que a pressão inflacionária já contamina 2022. O mercado já espera um IPCA de 4,96% para o ano que vem, muito perto do teto de 5% da meta (3,5% mais margem de tolerância de 1,5 ponto)”, sublinham. Sinal de que o ano “inflacionário” de 2021 já virou passado, é a projeção de taxa de juros básica, a Selic, inalterada em 9,25% para a reunião do Copom em dezembro, mas cuja expectativa para 2022 é de aumento de 11% para 11,25% — há apenas um mês, essa mesma projeção era de 9,5%.

Mas o espectro da inflação vai assombrar os próximos anos, na medida em que as expectativas de inflação acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional se estendem para 2022 e 2023, pelas projeções do Focus, contaminando até 2024. Ou seja, não é só o impacto de custos derivados das atipicidades oriundas da pandemia, como os gargalos nos chips, por exemplo. E sim uma percepção de que, mesmo quando a produção se restabelecer e normalizar no mundo e aqui, o Brasil ainda terá de lidar com um descontrole fiscal que está sendo contratado por Jair Bolsonaro para se reeleger.

O economista Samuel Pessôa, pesquisador da FGV e da gestora Julius Baer Family Office, alertou, no seminário internacional Acrefi 2021: “Acredito que em 2023 voltaremos a essa agenda. Se nós olharmos os últimos anos, a nossa democracia tem mostrado uma certa intolerância em relação à aceleração da inflação. Aqueles políticos de que produziram inflação foram punidos pelo eleitor, a sociedade não aceita inflação”, disse. “Isso sustenta uma aposta que em 2023, independentemente de quem for eleito, entraremos uma trajetória de ajuste fiscal estrutural”.

Responsável pela síntese e comentários no evento, o economista Eduardo Giannetti destacou as preocupações em relação à situação fiscal do país com as eleições no ano que vem. “Nós estamos sem âncora fiscal e esse quadro pode se agravar ainda mais por ser um ano eleitoral. Os hormônios tanto do Executivo como do Legislativo ficarão muito exaltados no sentido descontrole de gastos. A dúvida que fica aqui é sobre a questão fiscal. O BC tendo que agir sozinho de forma muito mais contundente sem nenhum tipo de suporte da política fiscal tem limite. E o limite é dado no momento em que uma política monetária mais agressiva, de aumento juros mais pronunciado, começa a gerar ainda mais desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas, mais desvalorização cambial. É um quadro bastante preocupante.”

É contra esse pano de fundo que analistas já vêm a possibilidade de a bolsa continuar a cair, mesmo com 70% dos balancetes do terceiro trimestre terem mostrado resultados positivos, dentro ou até acima do esperado, na contabilização da Genial Investimentos. O Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, a B3, atingiu na última semana o patamar de 102 mil pontos, na menor pontuação de fechamento do ano.

Operadores, gestores e analistas vêm a PEC dos Precatórios como o limiar para o índice continuar caindo nos próximos dias até menos dos 100 mil pontos. A expectativa é de que o Senado aprove nos próximos dias a PEC dos Precatórios Ainda que seja considerada uma alternativa ruim em si, porque demonstra o descompromisso do governo com a disciplina fiscal, é o que tem pra hoje, na visão do mercado, servindo para aliviar incertezas de curto prazo em relação às contas públicas.

“As chances do Ibovespa cair abaixo dos 100 mil pontos são altíssimas”, assevera Leonardo Santana, especialista em ações da Top Gain “Se a PEC não for aprovada, Bolsonaro vai querer, da mesma forma, aprovar o Auxílio Brasil. E de onde vai sair esse dinheiro se não tem?”, analisa Santana. “Ele já tinha falado que, se a PEC não for aprovada, ele vai terá de decretar estado de calamidade pública, a fim de suprimir o limite do teto de gastos e, aí, poder gastar com muito mais facilidade. Vai tratar de encaixar aumento para os servidores, auxílio para os caminhoneiros e o que precisar pela frente. Outra coisa que ele tinha comentado é aumento de salário de servidores públicos. Ou seja, o rombo vai ser muito maior.”

Por outro lado, o analista de ações da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura observa que, mesmo havendo espaço para que a bolsa caia ainda mais, o mercado deve se animar com os preços baixos e se concentrar na alta sazonal de final de ano.

Enrico Cozzolino, analista da Levante, também dúvida do Ibovespa abaixo de 100 mil pontos nos próximos dias, apontando a marca dos 102 mil pontos como um suporte importante para prever os próximos movimentos do indicador. Ele sustenta que cotações baratas farão a bolsa subir. “Tomando-se o lucro das empresas, excluindo Petrobras, Vale e financeiras para não distorcer a amostra, o lucro líquido foi 140% maior do que em 2020 e comparado ao lucro antes da pandemia, de 2019, é 350% maior. Então, tem empresas baratas”, explica.

No meio do pregão, o Ibovespa avançava 1,33%, em 104.409 pontos, puxado pelas empresas de commodities, como Vale e siderúrgicas, na esperança de que o banco central da China voltará a estimular a economia, o que provoca a valorização do minério ferro.

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