Economia

A Semana do Mercado: inflação e precatórios (ainda) dominam

O editor de Finanças William Salasar comenta as principais tendências de abertura da Bolsa nesta segunda 8

O ministro Paulo Guedes. Foto: Carl de Souza/AFP
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Inflação e PEC dos Precatórios. Não há outra coisa no front da Faria Lima. Mas a verdade é que a incerteza quanto à política fiscal – até sobre a existência de alguma coisa que lembre uma política fiscal – continua alimentando as expectativas (ruins) do mercado, como atestam as projeções dos economistas consultados pelo Banco Central para a elaboração do Relatório Focus, que já contaminam as expectativas até 2024. 

Em razão da vitória apertadíssima, com apenas quatro votos além do mínimo necessário no 1º turno, e a pressão de alguns partidos em prol da mudança de voto, a aprovação da medida não é garantida. E ainda que a Câmara aprove a PEC dos Precatórios, o governo vai ter dificuldades para passar o calote no Senado. Tanto que há quem diga que o calote dos precatórios já começa a ser visto no mercado como a melhor saída possível para a incerteza que têm prevalecido nas últimas semanas. Também já se embute nos preços um possível abandono da PEC e abertura de crédito extraordinário para financiar o Auxílio Brasil em 2022.

Na agenda de indicadores econômicos, destaque para o resultado do IPCA de outubro, que o IBGE divulga na quarta-feira, e deve mostrar alta de 1,07% no mês, acelerando no acumulado em 12 meses de 10,25% para 10,48%. Em outubro, as principais pressões de alta devem vir dos derivados de petróleo, entretanto, o processo inflacionário deve continuar disseminado entre os diversos grupos analisados (industriais, serviços, alimentos). Neste sentido, agora pela manhã, a FGV informou que o IGP-DI subiu 1,60% em outubro, acima das expectativas (1,31%), pressionado pela alta dos itens industriais no atacado (+2,72%), com destaque para o reajuste do diesel (+10,24%), sinalizando novas pressões dos combustíveis no varejo. 

Nada a estranhar, portanto, que as projeções de inflação dos economistas publicadas no Focus desta segunda feira tenham acentuado ainda mais o tom negativo. Com exceção de 2023, as estimativas para todos os anos foram reajustadas para cima, o que impacta também as projeções da taxa básica de juros, a Selic, para os próximos anos. Ocorre que o IPCA-15 de outubro veio acima das expectativas do mercado, anulando em boa parte o viés mais “hawkish”, isto mais agressivo em relação à inflação, da Ata do Copom divulgada na semana passada. O Copom divulgou a ata da sua última reunião, realizada nos dias 26 e 27 de outubro, quando elevou a Selic em 1,5 pp, para 7,75% aa, e como esperado pela maioria dos analistas, aprofundou o debate em torno do cenário fiscal, trazendo suas implicações para a condução da política monetária.

O Comitê responsável por subir e baixar os juros afirmou que os recentes questionamentos em torno do atual regime fiscal, que aumentaram os prêmios de risco e o risco de desancoragem das expectativas de inflação, implicam em maior probabilidade para cenários que considerem taxas neutras mais elevadas. Tal assimetria implica em um viés de alta em suas projeções de inflação, sendo assim, necessário um grau de aperto monetário significativamente mais contracionista do que o utilizado no cenário básico. Após tal discussão, o Colegiado mencionou que avaliou diversos cenários com diferentes ritmos de ajuste para a Selic, inclusive, com variações superiores a 1,5 pp, mas, que prevaleceu a leitura que tal ritmo é compatível com a convergência da inflação para a respectiva meta ainda em 2022. Por fim, sinalizou que o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude em sua próxima reunião (dias 7 e 8 de dezembro), podendo ser ajustado, a depender da evolução do quadro econômico. Diante de tal indicação, a Selic deve encerrar o ano em 9,25% aa, e o mais provável é que esta siga em elevação no início de 2022, devendo atingir, pelo menos, 10,75% aa (elevação adicional de 1,5 pp em fevereiro).

Assim, o Focus de hoje trouxe estimativas para o IPCA deste ano subindo de 9,17% para 9,33% (estava em 8,59% quatro semanas atrás). Em relação ao IPCA de 2022, as estimativas foram elevadas pela 16ª semana seguida, desta feita de 4,55% para 4,63%. E muito embora a projeção para 2023 tenha permanecido em 3,27%, a projeção para 2024 avançou pela terceira semana seguida, de 3,07% para 3,1%, acima da meta de 3% estipulado para o período.

Coerentemente, os economistas subiram também as projeções da Selic, de 8,75% para 9,25% no fim deste ano, enquanto há quatro semanas estava em 8,25%. Os economistas mantêm a projeção de alta de 1,5 ponto percentual na taxa Selic na última reunião do ano em dezembro, seguindo a promessa do Banco Central no último comunicado. Mas para 2022, a projeção também se alterou, com a expectativa de encerrar o ano que vem de 10,5% para 11%. As projeções para 2023 também subiram, de 7,25% para 7,5%, como também em 2024, de 6,75% para 7%.

Juro alto é sinônimo de atividade baixa. Assim, os economistas voltaram a rebaixar as estimativas para a alta do PIB no fim do ano, com avanço projetado de 4,94% para 4,93%, enquanto há quatro semanas estava em 5,04%. Foi a quarta queda de projeções para o PIB deste ano. Para 2022, a estimativa de também caiu, de 1,2% para 1%, quinta semana seguida de redução das estimativas. A expectativas para 2023 se manteve em 2%, enquanto para 2024 caíram novamente de 2,2% para 2,05%, refletindo a promessa de aperto monetário maior do que projetado inicialmente pelo Copom.

Em relação ao dólar, as apostas se mantiveram em R$ 5,50 para 2021, enquanto há quatro semanas a estimativa estava em R$ 5,25. Para 2022, as estimativas também se mantiveram em R$ 5,50. Já as projeções de 2023 subiram, com expectativa de fechar o ano de R$ 5,25 para R$ 5,30, enquanto para 2024 continuou em R$ 5,20. 

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