Economia

A Semana do Mercado: Guerra, petróleo e inflação no centro das projeções

No Brasil, a disparada do petróleo avivou a atenção do mercado para os projetos que visam conter a alta dos preços dos combustíveis

Situação em Zhytomyr em 2 de março de 2022. Foto: Emmanuel Duparcq/AFP
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A semana começa com os preços do petróleo em disparada, batendo em 139 dólares o barril, a maior cotação desde 2008; as bolsas em queda generalizada; e as taxas de juros dos títulos do Tesouro norte-americano em alta, à espera da reunião do Fed, o banco central dos Estados Unidos, daqui a dez dias.

Na noite de domingo, a cotação do petróleo tipo Brent do Mar do Norte, a referência no mercado internacional da commodity, chegou aos 139,13 dólares o barril, seu nível mais alto desde julho de 2008. A disparada perdeu parte da força durante a madrugada, mas a alta ainda era firme nesta manhã, com o barril a 126 dólares.

O motivo da disparada são as declarações do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, de que o governo norte-americano e seus aliados na Europa estudariam proibir as importações russas de petróleo e gás natural. Em linha com os comentários do secretário de Estado, a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, anunciou em carta aos membros da bancada democrata que a casa está “explorando uma legislação dura” para proibir a importação de petróleo russo, uma medida que “isolaria ainda mais a Rússia da economia global”.

Como os asiáticos importam quase todo o petróleo de que necessitam, as bolsas do extremo oriente sentiram o golpe. O índice japonês Nikkei 225 fechou em queda de 2,94%, aos 25.221 pontos. O índice sul-coreano Kospi caiu 2,29%, aos 2.651 pontos. Na China, a Bolsa de Xangai encerrou em queda de 2,17%, aos 3.373 pontos, e a bolsa de Hong Kong caiu 3,87%, aos 21.057 pontos.

Por fim, a Bolsa de Sydney perdeu 1,02%, a de Cingapura cedeu 1,21% e a da Indonésia caiu 0,86%.

Na Europa, os mercados abriram em forte queda na leitura de que um embargo ao óleo russo representa um risco de “estagflação” global, mas depois reagiram. O Índice FTSE 100 de Londres, que caía 2,33%, estabilizou em +0,41%; o DAX alemão, que chegou a cair 4,62%, ficou estável em -0,13%; o CAC 40 francês, que bateu -3,57%, terminou em +0,01%, e o europeu STOXX ficou em +0,18%.

A B3 acompanhou a flutuação do exterior: abriu em baixa, subiu por alguns momentos e perto da hora do almoço operava praticamente estável, com 0,32% de baixa, em 114.107 pontos.

A disparada do petróleo avivou a atenção do mercado para os projetos que visam conter a alta dos preços dos combustíveis no mercado doméstico. Neste final de semana surgiram informações de que o Executivo estuda a edição de uma medida provisória que criaria um subsídio aos combustíveis, que poderia se estender por três a seis meses, a depender da evolução do conflito.

A ideia seria a fixação de um preço-base e que eventuais diferenças fossem bancadas pelo governo utilizando dividendos da Petrobras e outras receitas, como os royalties que a União recebe pela exploração de campos do pré-sal. A equipe econômica seria contrária a essa ideia, dado o potencial custo fiscal e a eficácia duvidosa. Logo, a atenção do mercado será grande.

O mais importante na agenda doméstica são os dados de inflação – o IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas será divulgado amanhã. A expectativa é de alta de 1,52% no mês, refletindo a alta dos preços de uma série de commodities no atacado. Em 12 meses, o índice deve ficar em 15,73% (ante 16,73%). Vale citar que as próximas leituras devem vir ainda mais pressionadas pelos efeitos da guerra.

Na sexta 11, o IBGE divulga o IPCA de fevereiro, que deve subir 0,93%, com nova aceleração no acumulado em 12 meses, de 10,38% para 10,46%. O indicador deve ser pressionado, especialmente, pelos reajustes anuais das mensalidades escolares, que, apesar de sazonais, devem ficar acima dos anos anteriores. Ainda, os preços dos bens industriais e dos alimentos, sobretudo dos itens in natura, diante dos problemas climáticos neste início do ano, também devem seguir em elevação. Adicionalmente, a recente disparada das commodities, agravada pela guerra na Ucrânia, deve manter a inflação (mundial) em alta, tornando ainda mais difícil a tarefa do Copom de levar a inflação para o intervalo da meta.

Os economistas do mercado consultados semanalmente pelo Banco Central para a elaboração do Boletim Focus apontaram, pela oitava semana consecutiva, um IPCA em 2022 mais distante do teto da meta (5,0%), na edição do relatório divulgada nesta segunda-feira. A estimativa para 2022 subiu de 5,60% para 5,65%, ante 5,44% há um mês. O objetivo a ser perseguido pelo Banco Central neste ano é de 3,50%, com tolerância de 2,0% a 5,0%. Entretanto, as medianas para 2023 e 2024 foram mantidas, respectivamente em 3,51% e 3,50%, ainda que acima do alvo central estabelecido para esses anos (3,25% e 3,00%, respectivamente).

A escalada do conflito na Ucrânia e a subsequente elevação dos preços das commodities em geral, não só o petróleo, mais a rapidez e a severidade das sanções aplicadas à Rússia desenham um cenário de inflação mais estagnação da atividade econômica, notadamente na Europa, mas com reflexos em todo o mundo – incluindo o Brasil.

Por isso, como aponta o estrategista-chefe da casa de análise Levante, Rafael Bevilacqua, “o conflito bélico entre Rússia e Ucrânia não somente continua a fazer preço nos mercados globais, como também aparenta ser o único evento a fazer preço nos mercados globais”.

Nesse contexto, as taxas de juros das notas do Tesouro norte-americano de prazo de dez anos voltaram ao patamar de 1,75% ao ano nesta manhã, após terem subido para mais de 2% em meados de fevereiro, indicando que o mercado espera moderação do Fed na fixação da taxa básica de juros, em 0,25%, na reunião deste mês do Comitê de Mercado Aberto, o Copom do Fed, mesmo com a inflação beirando os 8% ao ano nos EUA.

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