Economia

A Semana do Mercado: aqui e no mundo, juros básicos são o destaque

De longe, o Fed comanda o espetáculo

Menor atratividade. O aumento dos juros básicos garante retornos com menor risco e afasta os investidores não habituais da Bolsa - Imagem: Miguel Schincariol/AFP
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Juros básicos são o destaque desta semana, aqui e no mundo. Aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) delibera e divulga a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, na quarta-feira – mesmo dia em que o Federal Open Market Committee (Fomc) do Federal Reserve, o Fed, banco central dos EUA, anuncia a nova taxa dos Federal Funds. Também o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o Banco do Povo da China, o Riksbank da Suécia e o BC da África do Sul anunciam, nesta semana, suas metas de política monetária.

Mas, de longe, é o Fed que comanda o espetáculo, já que juros mais altos no maior, mais profundo e mais líquido mercado financeiro do mundo estimulam uma migração de capital. Tanto que, na expectativa de novo aumento dos juros norte-americanos, as Bolsas da Europa e Ásia estão caindo nesta segunda, apesar do Banco do Povo ter cortado a taxa de recompra – uma das taxas básicas do BC chinês – e aumentado as injeções de liquidez na economia, buscando impulsionar o crescimento na segunda maior economia do mundo, prejudicada duramente por causa dos lockdowns impostos para tentar conter novos surtos de Covid-19.

Os mercados estão convictos de que virá uma nova dose de alta da taxa básica do Fed. A controvérsia gira em torno de uma terceira nova alta de 0,75 p.p, que leva para 3% ao ano a taxa de juros das operações de um dia (overnight) entre bancos, ou se virá uma dose ainda mais amarga, de 1p.p, na sequência da divulgação, na semana passada, do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de agosto, que surpreendeu pela alta de 0,1%, levando o acumulado em 12 meses para 8,3%, quando as expectativas gerais eram de uma deflação de 0,1%, basicamente por conta da queda dos preços de combustíveis.

No entanto, a alta dos preços dos alimentos suplantou a baixa na energia. O pior é que, mesmo excluindo os preços mais voláteis de energia e alimentos, a inflação em agosto foi de 0,6%, fazendo o chamado núcleo da inflação subir para 6,3% em 12 meses. O Fed não foca o CPI na sua política monetária, preferindo o índice de Preços das Despesas com Consumo (CPE), mas para o mercado e seus seguidores o que interessa é especular – em todos os sentidos – com cada indicador que sugira que o Fed pode subir, ou baixar, a taxa básica. Um exemplo: o ex-administrador de fundos de arbitragem (que os argentinos chamam de “fundos abutres”) Jim Cramer, hoje uma celebridade do canal de economia e mercados CNBC, argumenta que o Federal Reserve deveria prestar atenção nos relatórios da transportadora global Federal Express, que vem alertando para uma sensível queda nas entregas de encomendas, nos EUA e no mundo, indicando uma recessão em curso. E, assim, o Fed poderia afrouxar a política monetária. 

Por aqui, a expectativa de manutenção da taxa Selic nos atuais 13,75% a.a., expressa no Relatório Focus da semana passada, deu lugar a dúvidas se poderia haver mais um aumento de 0,25%, além dos 12% efetivados desde março de 2021, quando a taxa estava em 2%. Motivos: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a batalha contra a inflação ainda não foi vencida, deixando a porta aberta para uma alta residual, a percepção de risco fiscal a partir de 2023 aumentou, os principais bancos centrais do mundo endureceram as suas políticas monetárias e, por fim, apesar da queda nos últimos índices de inflação, a aceleração dos preços resiste, quando se excluem os itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos.

No entanto, as projeções para a Selic do Relatório Focus divulgado agora cedo permaneceram nos 13,75% até o final deste ano, caindo para 11,25% no final de 2023; 8% em 2024 e 7,5% em 2025. Para a Genial Investimentos, “a deterioração do risco fiscal elevou as expectativas inflacionárias para horizontes mais longos no momento de sua aprovação”, enquanto “as leituras do IPCA mostram que as medidas subjacentes seguem bastante elevadas, sinalizando que a desinflação dos componentes mais persistentes exigirá uma política monetária contracionista por um período mais longo do que o antecipado.”

Não foi à toa, portanto, que as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI, o custo do dinheiro entre bancos) mantiveram forte alta na semana passada, em relação à semana anterior, em todos os vencimentos, como observa a XP Investimentos em seu boletim semanal. “A curva de juro real, a qual representa as taxas dos títulos públicos indexados à inflação (NTN-Bs), também apresentou movimento de elevação”, assinala a instituição.

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