Economia

A Semana do Mercado: A política (e o fiscal) no centro das preocupações

O IPCA-15 de 0,69% divulgado na sexta, reforçou as expectativas de uma política de arrocho monetário por mais um bom tempo

Descontrole. O aumento dos juros não detém os repasses na feira. O saque no supermercado evoca tempos sombrios. Guedes é mesmo um caso patológico - Imagem: Adriano Ishibashi/Frame/Folhapress, Edu Andrade/ME e Redes sociais
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A política (e suas implicações fiscais) é o que movimenta os mercados financeiros nesta semana de agenda econômica fraca, limitada ao IGP-M de junho, que sai na quarta-feira; o Caged de maio e a Pnad Contínua Mensal, que traz informações sobre a taxa de desemprego, na quinta, e Produção Industrial, na sexta. 

Segundo a Agência Senado, o relator da PEC 16, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), deve entregar seu relatório na tarde desta segunda-feira, propondo incluir na Constituição um aumento de 200 reais no valor do Auxílio Brasil, um reajuste do auxílio-gás em torno de 70 reais e a criação do “pix caminhoneiro”, que será de 1.000 reais para 680 mil motoristas. Tudo com validade até o fim deste ano, ou seja, não afetam a estrutura do regime fiscal. O problema, aponta análise da Genial Investimentos, é a ofensiva de membros e apoiadores do governo contra a Lei das Estatais e o Teto de Gastos, e o resultado é o aumento das taxas de juros, a alta do dólar e a queda da Bolsa.  

As taxas de juros no mercado entre instituições financeiras permanecem em patamar elevado, precificando alta de mais de 13% ao ano no período de dois anos, observa o banco de câmbio Ourinvest em análise semanal – não só porque o Banco Central sinalizou na ata da reunião do Copom, divulgada na terça-feira passada, que deve dar continuidade ao ciclo de aperto monetário no curto prazo, visando levar a inflação à meta nos próximos anos. Além disso, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, esclareceu que a estratégia é trazer a inflação de 2023 para o “redor da meta”, devido às incertezas e aos choques mais persistentes. “Ao redor é menos que 4%”, disse Campos Neto, sem especificar números, em entrevista coletiva na quinta passada, sobre o Relatório Trimestral de Inflação que será publicado no dia 30. Entretanto, em evento hoje em Portugal, Campos Neto afiançou que “o pior da inflação já passou”, ressalvando que “tem algumas medidas sendo desenhadas pelo governo, que a gente precisa entender qual vai ser o efeito disso no processo inflacionário; ainda não está claro”.

O IPCA-15 de 0,69% divulgado na sexta, que apresentou variação de 0,69% para junho, após 0,59% em maio, reforçou as expectativas de uma política de arrocho monetário por mais um bom tempo. Apesar de uma desaceleração em relação ao mês passado, o número observado foi marginalmente acima de 0,67% esperado pelo mercado, a economista da Somma Investimentos, Eduarda Korzenowski, resumiu o sentimento dos analistas do mercado apontando os patamares ainda elevados do núcleo da inflação, que exclui os itens mais voláteis como alimentos e energia, permaneceu em patamar elevado, de 0,89%, assim como do índice de difusão, em 8,69%. Para ela, a limitação do ICMS dos estados sobre os preços dos combustíveis terá um efeito marginal na inflação, de modo que o Copom tenderá a elevar a taxa básica de juros, a Selic, em mais 0,5 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. 

Em geral, essa expectativa de juros básicos elevados tenderia a pressionar o dólar, porém a moeda norte-americana continuou em alta na semana passada, pela expectativa de elevação na taxa de juros nos EUA e o que a análise do Ourinvest descreve como “desconforto com uma possível crise institucional por aqui, após reajuste dos combustíveis e possibilidade de medidas populistas do governo atual, visando o ano eleitoral”. O dólar fechou sua quarta semana consecutiva de alta, em 5,23. Na abertura dos mercados de hoje, já subia 0,84%, para 5,27.

A bolsa também abria em alta, de 0,6%, a 98.672 pontos, seguindo a tendência altista do exterior, enquanto os investidores aguardavam reunião do Conselho de Administração da Petrobras para aprovar, ainda hoje, a indicação de Caio Paes de Andrade como quarto presidente da estatal sob o governo de Jair Bolsonaro. É baixa a expectativa de que o Índice Bovespa consiga reverter a tendência baixista que, na sexta, acumulava uma queda mensal de mais de 11%, diante do quadro de deterioração fiscal em curso.

 

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