Economia

A semana do mercado #8: o papel do dólar

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 10

Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
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A queda do dólar foi finalmente notada pelos economistas do mercado que respondem à pesquisa semanal do Banco Central para a elaboração do boletim Focus: pela primeira vez em semanas sua projeção para a taxa de câmbio no final do ano recuou para 5,35 reais por dólar. Nada curiosamente: a baixa da moeda americana coincide – para não dizer responde – às duas elevações da taxa Selic, de 2% para 2,75% em 17 de março e para 3,50% na reunião do Copom da semana passada.

A sinalização de uma política monetária mais austera fez o dólar cair 3,75%, fechando na sexta-feira a 5,22 reais na venda, menor valor desde 14 de janeiro (5,21 reais). A baixa é a maior desde 4 de dezembro, segundo a agência Reuters. Nas últimas seis semanas, o dólar acumulou uma baixa de 8,94% – a mais longa série desde outubro de 2018, ainda segundo apuração da agência de notícias. A previsão para o dólar publicada no Focus de hoje é de que a moeda encerre o ano valendo 5,35 reais, menos que os 5,40 estimados na semana anterior. Em 2022 espera-se que o dólar termine o ano em 5,40 reais.

Para muitos analistas, o BC mirou mais o câmbio que a inflação quando decidiu subir o juro básico – algo que o banco jamais admitiria. Entretanto, como explica o professor de Economia da Unicamp Fernando Nogueira da Costa, a paridade entre juros externos e juros domésticos é o principal dos três fundamentos determinantes da taxa de câmbio. “Tem peso maior que os outros porque é mais imediato”.

“É impossível ignorar essa relação entre câmbio e juros! Desde o ano passado, com a taxa de juros a 2% a.a., venho observando a fuga de capital estrangeiro”, enfatiza ele, assinalando a importância de que o Banco Central mantenha uma postura de ativismo, mostrando que está vigilante e alterando a trajetória da Selic. “Tinha que aumentar mesmo. A taxa parece muito alta, hoje, por causa do crash do ano passado, mas analisando o contexto todo, é preciso que a autoridade monetária atue para destruir essa disparidade – que antes era uma disparidade de juros internos muito altos, que agora, com a inflação, ficou muito disparitado para baixo.”

Os economistas do mercado financeiro mantiveram a mediana das expectativas para a taxa básica de juros em 5,50% ao ano para 2021 e em 6,25% ao ano para 2022. Por outro lado, elevaram suas projeções para o crescimento do PIB em 2021: de 3,14% para 3,21%. Para 2022, as projeções oscilaram de avanço de 2,31% para 2,33% no PIB. Os analistas ouvidos pelo BC mantiveram também a expectativa de saldo da balança comercial em robustos 64 bilhões de dólares (um mês atrás, projetavam 54 bilhões). Com isso, o saldo de transações correntes – a diferença entre todas as entradas e saídas de dólares do País, para simplificar – seria negativo em 1,8% do PIB. Este é outro dos chamados fundamentos da taxa de câmbio: quanto melhor o saldo, mais forte a moeda. Nogueira da Costa admite a probabilidade de a conta corrente fechar o ano superavitária, em razão da alta recordista dos preços das commodities nos mercados internacionais, o que não acontece desde 2007.

Por outro lado, como gostam de assinalar todos os economistas, o câmbio é um dos mercados mais sensíveis – se não for o mais sensível – a turbulências políticas. No curto prazo, apontam alguns, a moeda pode se estabilizar ou até cair um pouco mais. À medida que avançar a campanha para a eleição presidencial de 2022, a volatilidade dominará o câmbio, que tenderá a subir sempre que as atenções dos operadores, agentes e analistas se voltarem para a questão fiscal. Como sustenta a Carta do Gestor da Garde Assset Management deste mês: “Para que possamos almejar uma estabilização na dinâmica da taxa de câmbio, teremos que ver uma diminuição dos riscos fiscais que, como abordado acima, não é nosso cenário base no curto prazo”.

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