Economia

A Semana do Mercado #30: Pandora Papers e indicadores de inflação agravam a incerteza

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 4

O MINISTRO DA ECONOMIA, PAULO GUEDES. FOTO: EDU ANDRADE/ASCOM/ME
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Mais uma semana em que indicadores de inflação e correlatos piscarão insistentes nas telas dos operadores do mercado. No Brasil, o IGP-M e o IPCA de setembro sinalizarão o comportamento da inflação. No mundo, o indicador mais aguardado é do emprego nos Estados Unidos, que tende a apontar se a redução das compras de ativos pelo Fed, começará efetivamente em novembro. Também não se deve esquecer da China, onde dados do mercado de crédito deverão sinalizar como o mercado está reagindo à difícil situação da Evergrande, segunda maior empresa do setor imobiliário do país.

No front político, as atenções se voltam para os debates da reforma do Imposto de Renda no Senado e a continuação da discussão sobre a prorrogação do Auxílio Emergencial.

Depois de o Banco Central se mostrar mais pessimista em relação à economia e mais preocupado com pressões inflacionárias no curto prazo, a divulgação do índice de preços ao consumidor apurado pelo IBGE trará informações importantes para avaliar a persistência dos choques recentes. A expectativa é que o IBGE mostre alta de 1,24%, a maior para o mês desde 1994, levando o indicador para 10,33% no acumulado em 12 meses, maior nível desde fevereiro de 2016.

Para os analistas da Levante Ideias de Investimento, o relatório do BC mostrou que, apesar de algumas melhoras pontuais, o cenário permanece adverso para a inflação e para o crescimento da economia. A estiagem pressiona os preços de alimentos, combustíveis e energia, mantendo a inflação em alta e impelindo o Banco Central a elevar mais ainda o juro básico da economia, a taxa Selic. Tanto que o relatório admite, sem sombra de dúvidas, que a inflação em 2021 vai romper a meta de 3,75%. O esperado para os 12 meses até setembro é de 10,2%, e 8,5% em dezembro.

O motivo básico é a crise hídrica, que não só acarreta aumento nos preços dos alimentos, como também da energia, uma vez que geradoras têm de recorrer mais à eletricidade produzida pela queima do petróleo e do gás natural. Como esta energia é mais cara do que aquela gerada nas hidrelétricas, as tarifas também aumentam, impactando quase toda atividade econômica. Por isso, no relatório do BC, a projeção de inflação para os preços administrados (que incluem as tarifas de energia) em 2021 é de 13,70%. Se confirmada, a inflação será a mais alta desde os 18,07% de 2015.

Os analistas da Levante expõem outro motivo: “A inflação está se retroalimentando devido ao aumento das expectativas dos investidores e dos empresários. Eles vêm revisando suas projeções devido ao novo cenário de alta do dólar e das commodities no mercado internacional. Só o minério de ferro tem sido um elemento a pressionar os preços no atacado, o componente mais importante dos Índices Gerais de Preços (IGP) da Fundação Getúlio Vargas”.

Reflexo desse ambiente, os economistas de 100 instituições consultados semanalmente pelo Banco Central subiram, pela 26ª vez consecutiva, sua projeção de INPC acumulado no final deste ano: de 8,45% para 8,51%. Também para 2022 a estimativa avançou de novo, de 4,12% para 4,14%, também acima da meta a ser perseguida pelo BC, de 3,50% em 2022, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Entretanto, as estimativas para os demais indicadores permaneceram os mesmos da semana passada, inclusive as da taxa básica de juros da economia foi mantida em 8,25% para o final de 2021 e igualmente mantida em 8,5% para o final de 2022. Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa em 1 ponto percentual, de 5,25% para 6,25% ao ano, e indicou que outras altas estão por vir até que o juro alcance o patamar acima do neutro. A expectativa para o crescimento da economia neste ano se permaneceu em 5,04% e para o próximo continuou em 1,57%.

Nada disso contribuiu para a melhoria do mercado de ações, que em poucos meses devolveu todo o ganho do primeiro semestre – o Índice Bovespa recuou da casa dos 130 mil pontos para a dos 110 mil pontos. Se na semana passada, o destaque foram as discussões sobre o Auxílio Emergencial, esta semana começa com a série de reportagens “Pandora Papers”. Os jornalistas apuraram que Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, possuem ou chegaram a ter empresas offshore em paraísos fiscais. Especialistas veem conflitos de interesse no caso. Na hora do almoço, o Ibovespa apresentava queda de 2,05%, em 110.609 pontos.

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