Economia

A Semana do Mercado #28: Copoms pelo mundo e inflação no Brasil

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 20

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Foto: Evaristo Sá/AFP
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Semana de copoms pelo mundo, dos EUA ao Brasil, passando por Japão, Turquia, África do Sul e Reino Unido. Ou seja, cautela em todos os mercados financeiros mundiais, à espera, principalmente, daquele sinal do Federal Reserve Open Market Committee (Fomc) de quando será iniciado o processo de retirada de estímulos monetários da economia norte americana, o tapering, ou fechar a torneirinha, em tradução livre.

A reunião desta semana ocorre em um momento delicado para o Fed, o banco central dos EUA. Economistas, analistas e agentes do mercado tem levantado dúvidas sobre a eficácia da política monetária sob a presidência de Jerome Powell, cujo mandato termina em janeiro. Não só se questiona se o Fed estaria sendo leniente com a inflação, repetindo que a aceleração dos preços é temporária, como se debate o quanto sua política tem alimentado a desigualdade, ao prejudicar os poupadores e fazer os ricos ainda mais ricos, como defende Karen Petrou, sócia e fundadora da consultoria Federal Financial Analytics Inc., especializada em legislação, regulação e políticas públicas na área de bancos e finanças. Em artigo publicado no New York Times Karen afirma que a política de taxas de juros reais ultrabaixas praticada pelo Fed, em vez de estimular o crescimento como ensina a sabedoria convencional, “deixa de ter efeitos benéficos quando são tão rasas que distorcem os incentivos à poupança e, ao contrário, incentivos investimentos especulativos, como Bitcoin ou GameStop, para ficar só em dois exemplos correntes”. July 12, 2021.

Para completar, na semana passada, surgiram denúncias de que dois governadores de Fed regionais estavam movimentando suas carteiras pessoais de ações, um comportamento nada recomendável quando o banco central toda semana compra 120 bilhões de dólares de ativos do mercado, ajudando a sustentar os preços, que já montam a 8,1 trilhões de dólares em títulos encarteirados pela autoridade monetária. Robert Kaplan, presidente do Fed de Dallas, e Eric Rosengren, presidente do Fed de Boston, rapidamente prometeram vender todas as suas ações até o fim deste mês e investir apenas em fundos passivos, embora ressaltem que seus investimentos estavam em linha com as diretrizes do Fed.

Para carregar nas tintas da aversão ao risco que hoje perpassa os mercados internacionais e derruba bolsas mundo afora, os investidores estão cada vez mais apreensivos com o calote da incorporadora imobiliária chinesa Evergrande, tida como a empresa mais endividada do mundo, com um passivo estimado em 572 bilhões de yuans (89 bilhões de dólares), incluindo empréstimos de bancos e junto aos mercados de bônus dentro e fora da China. Ela é a segunda maior incorporadora da China, com 778 empreendimentos em mais de 200 cidades chinesas. Na semana passada, enviou comunicado á bolsa de Hong Kong admitindo a possibilidade de default e também reportando que as vendas mensais haviam caído quase 50%, entre junho e agosto, do equivalente a 11 bilhões de dólares para 5,9 bilhões.

O possível colapso da Evergrande derrubou não só a bolsa de Hong Kong, mas a cotação de referência mundial do minério de ferro, o preço a vista da tonelada no porto de Qingdao, que caiu abaixo de 100 dólares a tonelada, hoje, cotado a 92,98 dólares, o menor preço em mais de um ano. A crise da Evergrande afeta diretamente o mercado imobiliário chinês, grande comprador de ferro e aço.

E vem bater aqui, na Vale, que caía 4,8% na hora do almoço, ajudando a puxar o índice Bovespa para 107.943 pontos, queda de 3,14%. Na contramão da bolsa, subiam os contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) na expectativa de nova alta de 1 ponto percentual da taxa básica, a Selic, na reunião de quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). O DI para janeiro de 2022 sobe um ponto-base a 7,07%, o DI para janeiro de 2023 opera em alta de um ponto-base a 9,05%, DI para janeiro de 2025 avança um ponto-base a 10,21% e DI para janeiro de 2027 registra variação negativa de um ponto-base a 10,62%.

O pano de fundo para a alta quase geral dos futuros de juros é a inflação que não para de surpreender – negativamente. Na edição desta semana do Relatório Focus do BC, os economistas do mercado financeiro elevaram mais uma vez suas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021. Desta vez, a projeção mediana subiu de 8,00% para 8,35%. Para 2022, a previsão para a inflação aumentou de 4,03% para 4,1%. Consequentemente, a mediana das estimativas subiu de 8,00% para 8,25% ao ano em 2021 e de 8,00% para 8,50% ao ano para 2022. Isso mesmo com as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mantendo-se em 5,04% em 2021, e sendo reduzidas de 1,72% para 1,63% em 2022.

Como escrevem os economistas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em seu boletim semana, “em meio ao contínuo processo de aceleração da inflação, que segue surpreendendo diante de sua intensidade e difusão, com o IPCA se aproximando de 10% e as expectativas em alta, a dúvida é se o Copom manterá o ritmo de alta de 1 pp ou se optará por uma elevação de maior magnitude. ”

Ocorre que o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos, em evento na última semana, deum um chega pra lá nas conversas de que o BC deveria subir o juro básico em 1,5 ponto percentual, para 6,75%. Ele garantiu que o Copom não vai mudar seu plano de voo para cada dado de alta frequência, e com isso fez refluírem as apostas de elevação acima de 1 pp para a Selic na quarta, ou seja Selic a 6,25%.

Mesmo com as perspectivas de juro alto e subindo, o dólar também continuava, hoje, a escalar o comercial estavam com de alta a 5,32 reais por dólar. Para os analistas do Banco Ourinvest, que é especializado em câmbio, “embora a crise política e institucional tenha dado uma trégua após o pedido de desculpas do presidente, os investidores permanecem cautelosos com por conta desse assunto. Há muita dúvida sobre o impacto que a crise política poderá ter na evolução das reformas e, por conta disso, nossa taxa de câmbio permanece acima da média observada desde o início da pandemia, ou seja, em nível elevado. ”

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