Economia

A Semana do Mercado #20 – Com Copom e CPI, a semana promete!

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 02

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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A reunião do Copom é, de longe, o evento mais importante da semana. Na quarta-feira, os diretores do Banco Central decidem em quanto vão elevar, de novo, a taxa Selic; se dão mais 0,75 de ponto percentual, subindo o juro de referência dos atuais 4,25% ao ano, para 5,00%, ou 1 ponto inteiro, com que a Selic iria para 5,25%.

É consenso nos mercados financeiros que a alta desta semana será de 1 ponto percentual, diante da persistente aceleração da inflação, nos últimos meses, agravada por incertezas políticas – que impactam o dólar e, por tabela, produtos de exportação, como soja, frango, petróleo, entre outros – e preocupações com a situação fiscal.

O Relatório Focus, que toda segunda-feira traz a média das expectativas captadas pelo BC entre economistas de instituições financeiras, estima alta de 1 ponto percentual da  Selic nesta semana e de mais outro ponto cheio para setembro, o que levaria a Selic para 6,25%. A expectativa é que a taxa básica de juros encerre 2021 em 7%, aí permanecendo até dezembro de 2022 – sem alterações em relação ao relatório da semana passada.

“A inflação, em crescente alta, superou as expectativas iniciais, quando o IPCA-15 de julho acumulou 8,59% em 12 meses”, detalha o economista Nicola Tingas, da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). “Para combater essa ascensão inflacionária o BC tem aumentado a taxa básica de juros em busca de juros reais acima da inflação, de 3%, a fim de meta de inflação de 3,5% em 2022”, sinaliza.

A preocupação crescente do mercado com a inflação foi expressada novamente – e pela 17ª vez – no Relatório Focus de hoje. As projeções de aumento do Índice IPCA para este ano subiram de 6,56% na semana anterior para 6,79% nesta semana. Essa projeção de inflação aproxima-se do dobro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, de 3,75% para 2021. Para 2022, os economistas agora indicam alta de 3,81%, ante 3,80% anteriormente.

E isso sem mudanças nas expectativas de crescimento da economia, que apontaram crescimento de 5,30% do PIB em 2021, praticamente em linha com o crescimento de 5,29% estimado na semana anterior, e mantiveram em 2,10% a expansão da atividade em 2022.

Acontece que nem só de expectativa de crescimento da economia e de inflação vivem os juros. Também impactam as expectativas com as contas do governo federal – que foi o que ajudou a bolsa a despencar, o dólar subir e fez disparar os juros expressos nos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI). São os contratos futuros que sinalizam o custo do dinheiro grosso no mercado monetário. “A discussão a respeito do Bolsa Família e a possibilidade de se furar o teto de gastos se refletiu na curva de juros, piorando o ambiente fiscal”, atesta a empresa de análises financeiras Levante Ideias de Investimentos em comentário semanal, referindo-se a notícias de que o governo estuda financiar o novo Bolsa Família com recursos que estariam fora do teto de gastos.

“Ainda hoje [sexta, dia 30], o presidente Jair Bolsonaro declarou ser possível o país contrair dívida para financiar o programa. Por sua vez, o ministro Paulo Guedes declarou em evento que o orçamento para 2022 estima recursos da ordem de R$ 25 bilhões de modo a acomodar o pagamento de até R$ 300 do Bolsa Família”, acrescentou a Levante. “Há o receio de que o teto dos gastos seja definitivamente abandonado na tentativa de recompor renda via transferências do Bolsa Família. Investidores também ficaram incomodados com a deterioração da inflação de médio prazo e alguns se questionam se o IPCA de 2022 já não poderia estar sendo contaminado”, comentou em relatório o economista-chefe da Necton, André Perfeito.

Nesse caldo, os contratos futuros de juros fecharam o mês de julho com expectativas de risco maiores – leia-se custo do dinheiro mais salgado – da ponta dos vencimentos mais próximos, ou curtos, aos mais distantes, ou longos. No começo deste ano, os contratos de prazo mais longo, com vencimento em janeiro de 2031, apontavam para 7,24% ao ano. Fecharam na sexta em 9,45%. No prazo mais curto, setembro, os juros ficaram em 5,01% na sexta, em comparação aos 2,32% registrados em janeiro passado.

Com isso tudo, o principal indicador da bolsa de valores, o Índice Bovespa, desabou 3,08%, com apenas três das 84 ações que compõem essa carteira escapando do massacre. E acabou fechando o mês com queda de 3,94% em 121.800 pontos. Hoje, a bolsa estava mais animada – até porque a forte baixa da sexta ensejou oportunidades de comprar barato. Por volta das 14h, o Índice Bovespa apresentava alta de 2,05%, em 124.297 pontos.

E o dólar, na contramão da bolsa, caía 1,8% para 5,1157. Na sexta, a moeda norte-americana, acompanhando os juros, fechou o mês vendido no mercado à vista por R$ 5,2097, alta de 2,57%. Um forte sinal de que o ruído político foi o principal causador da alta do dólar na semana passada é a estimativa da taxa de câmbio média apurada pelo Focus para o final do ano: 5,10 reais, ante 5,09 reais por dólar na semana anterior. Para 2022, os economistas ouvidos pelo BC mantiveram a projeção de um dólar a 5,20 reais no final do próximo ano.

Mas a semana promete: hoje acaba o recesso parlamentar e a CPI da Covid volta ao radar, assim como a retomada das discussões sobre a PEC do voto impresso, que tem sido um importante fator de conflito entre o executivo e membros do STF, e as negociações sobre a Reforma do Imposto de Renda, que o presidente da Câmara pretende colocar para votar até o final de agosto.  “Em outras palavras, o risco político deve voltar a aumentar, gerando volatilidade”, alerta o boletim da Genial Investimentos.

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