Economia

A semana do mercado #2: E o dólar continua firme, forte e sacudido

Por aqui, o que afeta a moeda é o cenário é de incerteza persistente do nosso quadro fiscal

Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
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Marcada pelos “superferiados” em São Paulo e Rio e uma agenda econômica carregada de indicadores referentes à atividade, inflação, desemprego, crédito, contas públicas e outros, a semana começou com nova projeção de alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021, de 4,71% para 4,81% — a 12ª elevação consecutiva dos analistas consultados pelo Banco Central.

Notícia ruim para o câmbio (a não ser que você seja exportador de commodities), porque inflação é outro nome para desvalorização da moeda. De fato, o dólar começou esta semana como encerrou a outra: em alta. Hoje, abriu a 5,80 reais por dólar, uma alta de 1,03% sobre o fechamento da sexta. Na semana passada, a moeda norte-americana valorizou 4,85% frente ao real, enquanto outras moedas se valorizavam ante o dólar. O euro ganhou 0,94%; o iene valorizou 0,70%, a libra esterlina avançou 0,60%, o yuan chinês ganhou 0,49%. Também moedas latino-americanas tiveram desempenho melhor do que o real: o peso mexicano terminou a semana valendo 0,38% a mais em relação ao dólar, o peso chileno valorizou 1,87% e o peso colombiano subiu 3,28%.

Do ponto de vista das contas nacionais, haveria mais motivos para o real se valorizar ou pelo menos permanecer estável. Afinal houve uma redução do déficit em conta corrente, dos 4,7 bilhões de fevereiro de 2020 para 2,3 bilhões em fevereiro deste ano, graças à diminuição de gastos com viagens no exterior e de remessas de lucros. É certo que o superávit comercial foi algo frustrante, somando apenas 430 milhões de dólares no mês passado, ante saldo positivo
de 1,8 bilhão de dólares um ano antes. Em compensação, o fluxo de investimentos diretos somou 9 bilhões de dólares, sobretudo pela entrada líquida de 5,9 bilhões em operações intercompanhias, conforme relatório do
Banco Central.

O que afeta o dólar aqui é o cenário é de incerteza persistente do quadro fiscal do Brasil, que a votação de um Orçamento “inexequível”, na descrição do ministro da Economia, Paulo Guedes, em nada ajudou em termos de tranquilizar os mercados, cujas expectativas já estão abaladas pelo agravamento contínuo da pandemia da Covid 19 no País.

A notícia da saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na hora do almoço contribuiu para dar um fôlego à bolsa e ao real. No meio da tarde, o Ibovespa apresentava alta de 0,33% em 115.164 pontos e o Ibovespa futuro subia 0,23% em 115.222 pontos. O dólar recuou um pouco (4 centavos), para 5,76 reais, ainda em ganhando 0,22% sobre o fechamento da sexta.

O movimento da moeda no exterior ajudava sua valorização interna, porém sustentado por expectativas de recuperação da economia norte-americana, diante do rápido avanço da vacinação, em ritmo bem mais veloz do que se esperava.

O contrário do cenário brasileiro, onde o vagar na vacinação prenuncia um quadro ainda mais sinistro da pandemia, com paralisações da produção – como acontece com as montadoras de automóveis – e necessidades de mais gasto público com auxílio emergencial e enfrentamento do virtual colapso da saúde. As estimativas do Relatório Focus, divulgado nesta manhã pelo Banco Central, sinalizou nova queda da expectativa de crescimento do PIB em 2021, de 3,22% para 3,18%, no quarto corte semanal seguido. Para 2022, caiu de 2,39% para 2,34%, após manutenção na semana passada.

“A verdade é que nenhum dos nossos problemas parece encaminhado e ainda aparece mais esse do orçamento, que é o que vai dar o Norte em todos os mercados nesta semana”, avaliou o estrategista da asset Ouro Preto, Bruno Komura, sintetizando o sentimento prevalecente. “Vai ser uma semana curta, mas com muita emoção”, vaticinou.

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