Economia

A Semana do Mercado #10: de olho no indicador de inflação preferido do FED

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 24

Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
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Fim de mês geralmente tem batelada de indicadores para mexer com os mercados, tanto internamente quanto no mundo. Mas os números que, nesta semana, têm maior influência em todos os mercados é o dado de inflação nos Estados Unidos que o Federal Reserve – o banco central norte-americano – escrutina com mais carinho.

Trata-se do PCE Index, sigla de Personal Comsuption Expenditures, ou simplesmente gastos pessoais, que integra o Relatório Mensal de Rendas e Despesas Pessoais apurado pelo Birô de Análise Econômica do Departamento do Comércio.

O PCE foi adotado em 2012 como principal parâmetro de inflação do Fed para suas decisões de política monetária, por ser formado por uma série mais diversificada de gastos, e ponderada por dados obtidos mediante pesquisas entre empresas, que tendem a ser mais confiáveis. Além disso, a pesquisa do PCE capta mudanças no comportamento do consumidor ocorridas no curto prazo. Isso faz do PCE uma medida da inflação mais abrangente.

A expectativa do mercado é que o PCE de abril indique uma aceleração da inflação em 12 meses para 3,5%. Em março, a estimativa era de 2,3%.

Duas semanas atrás, a divulgação de um CPI acumulando inflação em 12 meses de 4,2% em abril, cima dos 2,6% de março fez as bolsas do mundo todo caírem como dominós, enquanto as taxas de juros de referência para os mercados de dinheiro e dívida empinaram. O S&P 500 recuou 0,87%. Dow Jones caiu 1,36% e Nasdaq teve leve queda de 0,09%.

O índice Stoxx 600, que reúne as maiores empresas da Europa, cedeu 1,97%. O FTSE 100, de Londres, caiu em 2,4%. Na Ásia, o índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, fechou em queda de mais de 2%, e o Nikkei 225, do Japão, encerrou a sessão de Tóquio com baixa de mais de 3%. O Índice Bovespa acompanhou, caindo 2,65, para 119.710 pontos.

O dano pode ser menor com relação ao PCE, na medida em que os mercados já assimilaram e incluíram em suas avaliações e projeções a perspectiva de a política monetária norte-americana endurecer, pelo menos um pouco. Apesar de a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Fed (Fomc) não ter avalizado expressamente essa possibilidade. Entretanto, para o analista de ações da Levante Ideias de Investimento, Eduardo Guimarães, uma leitura mais atenta da ata do Fomc prenuncia, “tímida e cautelosamente”, uma possível mudança de rota na condução da política monetária dos EUA.

“O resumo das 13 páginas da Ata pode ser este: dependendo dos indicadores da economia americana (empregoPIB e inflação), os membros do Comitê podem começar a discutir uma redução das medidas de estímulo econômico. Mesmo usando a linguagem neutra e cautelosa dos bancos centrais, essa declaração indica uma nova direção”, sustenta Guimarães, em seu comentário semanal, lembrando que, desde o início da pandemia, o Fed vem comprando 120 bilhões de dólares em títulos públicos todos os meses. “Em um cálculo aproximado, seu balanço atingiu 7,9 trilhões de dólares, quase o dobro do que era antes do coronavírus”, frisa ele. 

“A impressora norte-americana está ligada praticamente desde a crise de 2008, promovendo um aumento persistente da liquidez, da impressão de dólares, que se acentuou com as medidas para enfrentar as perdas de produção e consumo da pandemia”, frisa o analista Filipe Ferreira, da consultoria de investimentos e educação financeira Com dinheiro. Sem a contrapartida de aumento correspondente da produção, o resultado é o aumento dos preços – que as autoridades monetárias controlam elevando as taxas básicas de juros. Uma eventual escalada dos juros norte-americanos impacta os mercados de ativos de risco, como ações, ouro, commodities, bitcoins via fuga de investidores para a renda fixa, principalmente, para títulos públicos, cuja segurança é maior. O efeito se espalha pelos países, afetando mais os tidos como mais arriscados.  No Brasil, o resultado seria fuga do investidor estrangeiro da bolsa e dos títulos de dívida, o que acarretaria alta do dólar, sinaliza Ferreira.

Além do PCE, os EUA divulgarão nesta semana a 2ª prévia do PIB do 1º trimestre do país, que o mercado antecipa deve registrar crescimento anualizado de 6,5% no período, confirmando a retomada da economia norte-americana, os dados de confiança do consumidor de maio, bem como informações do setor imobiliário e de encomendas de bens duráveis nesta. Por fim, na quarta-feira ainda serão conhecidos os lucros industriais da economia chinesa referentes a abril e, ainda, divulgados os dados finais da confiança do consumidor do mês de maio na Zona do Euro.

Por aqui, saem as estatísticas do Banco Central sobre crédito, emprego, inflação, setor externo, contas públicas, de abril. Segundo pesquisa da Febraban, a carteira total de crédito deve crescer 0,5% no mês, fazendo com que o ritmo de expansão anual volte a acelerar, para 15,0%. Além de mostrar que a oferta de crédito segue em ritmo importante neste início do ano, o resultado deve confirmar a percepção de que a atividade já vem mostrando uma recuperação a partir de abril. 

E pra não dizer que não falei de flores, o bitcoin – a papoula do século XXI – foi mais uma vez condenado pelo  presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey. Ele afirmou hoje que criptomoedas e similares são um perigo para o público e que só quem está querendo perder todo seu dinheiro investe nesse “flower money”.

“Francamente, sou cético em relação aos criptoativos porque eles são perigosos, e há um grande entusiasmo por aí”, disse Bailey à Comissão do Tesouro do Parlamento britânico, reiterando que o bitcoin e quejandos não cumprem funções essenciais de meio de meio pagamento.

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