Economia

A safra 2013/14

Com a demanda emergente mantida, dificilmente haverá excesso estrondoso na oferta capaz de deprimir drasticamente as cotações dos grãos

É recorrente as regiões produtoras de grãos disputarem um cara ou coroa entre soja e milho
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A esta altura do ano o agricultor brasileiro de grãos já decidiu sobre a extensão de área que irá plantar e quais culturas. Principalmente, soja ou milho, que permitem certa alternância. Assim precisa ser. Ao anteciparem o plano, definem a compra dos insumos e amenizam a precária logística dessas entregas.

O momento certo de semear fica por conta de São Pedro, com os milímetros de chuva que irá mandar. O santo não espera eventuais desavisados correrem atrás de variedades de sementes, formulações de adubos e preventivos de pragas e doenças.  Por aí correrão os destinos da futura colheita.

Antes disso, porém, é recorrente as regiões produtoras de grãos disputarem um cara ou coroa entre soja e milho. Conjectura-se a tendência de seus preços quando da comercialização.

“O que dará melhor preço, soja ou milho?”, perguntam para instigar o interlocutor. Não se arrisquem. Em geral, eles já têm a resposta e ninguém os fará mudar de plano.

Para a safra 2013/14, já autorizadas pelas águas bem-vindas da primavera, sei que as plantadeiras das regiões Sul e Sudeste já estão comendo chão, indicando maior opção pela soja. Duvida-se do preço futuro do milho. Coisa da safra norte-americana.

Se assim for, provável repetirmos um clássico da agricultura mundial: no plantio, todos “no soja”, como se diz nos estados do Sul e Centro-Oeste; poucos “no mio”, como soltam os de Minas. Na colheita, a gramínea com preço e a oleaginosa sem.

Todos sabem do risco, mas farão. Assim é a atividade, a emoção da aposta e a dúvida que tirará seus sonos até a hora da venda.

De uns tempos para cá, no entanto, sinto esse risco muito menor.

Com a demanda emergente mantida, os limites de produtividade no teto e a pequena possibilidade de expansão de fronteiras nos grandes produtores do Hemisfério Norte, dificilmente, nos próximos anos, haverá excesso estrondoso na oferta de grãos capaz de deprimir drasticamente as cotações dos grãos.

Respeitando-se ciclos de leve oscilação, o mesmo se pode dizer de trigo, arroz, algodão, açúcar e dos complexos de carnes e laticínios. Vida menos fácil para as culturas perenes. Café, laranja e cacau, por exemplo.

Daí ser estranho a FAO, braço das Nações Unidas para alimentação e agricultura, agora comandada por um brasileiro, José Graziano da Silva, dizer-se preocupada com a volatilidade dos preços dos alimentos. Uma volatilidade que nunca deixou de existir. Agropecuaristas que produzem para exportação sabem disso. Mas há uma dose que mata e outra que deixa doente por um tempo. É preciso saber o grau.

O mesmo que ocorre no mercado interno de alimentos. Por acaso, não é frequente vermos uma ciranda de preços de feijões, tomates e chuchus, que fazem arquear as sobrancelhas de William e Patrícia, no Jornal Nacional?

Mais intrigante fica a preocupação da FAO, quando a própria organização estima crescimentos significativos na produção global de milho (12%), trigo (7,5%) e soja (7%). Preocupação para valer pode estar no outro lado da moeda. Aquele que sempre cai pra cima quando opção dos mais ricos.

Apesar da produção de alimentos ter crescido substancialmente no período, desde 1990 que a ajuda alimentar internacional não chegava a níveis tão baixos, como em 2012.

Tudo indica que as traquinagens dos rapazes do mercado financeiro internacional, que entre 2007 e 2008 levaram as economias avançadas a dificuldades, fizeram o pão dos mais pobres cair com o lado da manteiga pra baixo.

Isso justifica os países importadores de alimentos, e mesmo alguns exportadores emergentes, priorizarem a segurança alimentar através da formação de estoques estratégicos, deprimindo preços e agoniando os exportadores brasileiros de produtos agropecuários.

Uma discussão para a próxima semana.

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