Economia

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A escalada das healthtechs

Investimentos no setor triplicam em dois anos com projetos de inovação digital

Tecnologia. André Florence, da Alice, e Douglas Pimenta, da W3.Care, celebram os avanços na assistência médica
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Um dos setores que mais recorreram à tecnologia na pandemia, a saúde tem intensificado processos de digitalização para atender às necessidades surgidas da crise sanitária e acelerar uma série de projetos de inovação digital com impacto em todo o ecossistema. Publicado em abril, um estudo da consultoria Deloitte mostra que quase 65% dos provedores de saúde da Europa registraram aumento na adoção de tecnologias digitais para apoiar o trabalho dos médicos na crise sanitária. No Brasil, que vive o mesmo processo de transformação, foi preciso criar a Lei 13.989, de abril de 2020, aprovada em caráter emergencial e com vigência enquanto durar o estado de pandemia definido pela Organização Mundial da Saúde, para os médicos poderem realizar consultas a distância usando as tecnologias disponíveis.

Os projetos na área são variados e vão de uma simples prescrição até soluções de pronto-atendimento digital, que possibilita consultas de baixa complexidade e assistência em tempo real nos casos de urgência e emergência dentro da ambulância ou em unidades fixas, como Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento e UTIs, fazendo a triangulação com especialistas. “Essa é uma grande vantagem da telemedicina, garantir o acesso ao serviço médico”, atesta Paula Mateus, líder do Comitê de ­Healthtech & Wellness da Associação Brasileira ­Online to Offline, e consultora de empresas de hiperautomação hospitalar.

Não é surpresa, portanto, terem triplicado os investimentos destinados às startups de saúde, as healthtechs, em quase dois anos. Foram 415,5 milhões de dólares recebidos desde 2020, ou seja, quase 60% de todo o volume de recursos aportado nos últimos dez anos (718 milhões), segundo dados da Distrito Dataminer, plataforma de informações sobre startups. Hoje, o segmento conta com 973 healthtechs – a metade em São Paulo – empregando 18.328 pessoas em 14 categorias, principalmente nas áreas de Gestão (28,6%), Acesso à Saúde (15,5%) e Telemedicina (11,6%).

Uma das poucas candidatas a unicórnio no ramo da saúde – empresas avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares – a ­Alice, criada em 2019, é uma healthtech com um modelo de negócio que combina tecnologia, atendimento primário por uma equipe própria de profissionais de saúde e uma política de resultados, na qual a remuneração é feita de acordo com a satisfação do cliente e o desfecho clínico. “O setor de saúde no Brasil ficou, por muitos anos, sem inovação, e um dos grandes desafios é enfrentar a fragmentação do sistema, com seus especialistas e hospitais, que fazem a sua parte, mas sem ninguém olhando cada pessoa de maneira integral”, diz o CEO André Florence. Além disso, destaca ele, “os planos de saúde tradicionais funcionam como seguro-saúde, sem promover saúde de fato”.

Foram 415,5 milhões de dólares recebidos desde 2020, quase 60% do volume de aportes em dez anos

Por essa razão, o objetivo da Alice é fazer a “gestão da saúde”, ou seja, o acompanhamento do beneficiário por uma equipe de profissionais, não só médicos. Assim, o primeiro atendimento é sempre realizado por um enfermeiro, de modo que “88% dos casos são solucionados sem que a pessoa precise sair de casa, o que garante que ela só irá para hospital ou rea­lizar algum procedimento se realmente for necessário”. Entre seus parceiros, figuram nove hospitais, alguns de ponta, mais de 200 unidades diagnósticas, médicos especialistas e laboratórios, todos conectados à sua plataforma, para garantir o acompanhamento do histórico dos pacientes. “Toda a jornada do paciente fica registrada e pode ser acessada pelos beneficiários, que hoje são mais de 5 mil e vêm crescendo, em média, 20% todo mês”, diz o CEO. A Alice recebeu 47,8 milhões de dólares de investimento desde a sua fundação, em 2019, e em fevereiro passado realizou a maior captação em Séries B para uma healthtech no País, 33,3 milhões de dólares. Em novembro, fez sua primeira aquisição, a healthtech Cuidas, focada em atenção primária para melhorar a qualidade de vida dos funcionários de seus clientes, ampliando para 530 o total de colaboradores.

Fundada em 2018 por Jamil Cade, médico, professor e doutor em Cardiologia, a W3.Care é pioneira no desenvolvimento de tecnologias com inteligência artificial para atendimento de urgência e emergência pré-hospitalar, de menor complexidade. Seu sistema se destina tanto às UBS, UPAs e hospitais quanto às ambulâncias e unidades de resgate. “A partir de uma base de informações que segue protocolos de atendimento, damos suporte automatizado para o profissional de saúde tomar as melhores decisões”, destaca Douglas Pimenta, sócio da empresa. Além disso, o sistema permite acionar remotamente um especialista para fazer a triangulação do atendimento e possibilitar avaliações mais precisas, o que é importante, considerando que casos cardiovasculares e traumas são os mais frequentes. Ele garante que o tempo que leva do início da ocorrência ao tratamento mais adequado caiu de dois dias para menos de seis horas. “A maior precisão no processo de triagem, com avaliação adequada e encaminhamento para hospitais certos, permite essa otimização do tempo, que pode significar diminuir as sequelas da doença ou impedir mortes.”

Cade participou de um projeto pioneiro de atendimento de casos de infarto agudo por telemedicina em um hospital de São Paulo, que reduziu em 42% a mortalidade e o impacto econômico no SUS. Da mesma forma, integrou um programa da Universidade Stanford, nos EUA, onde desenvolveu um projeto pioneiro para atendimento por telemedicina a vítimas de trauma, de forma a aperfeiçoar as cirurgias e reduzir os custos hospitalares. Os dois projetos foram fundamentais para a criação da W3.Care, que recebeu mais dois sócios em 2019, entre eles Pimenta. Até o momento, a empresa recebeu cerca de 4 milhões de reais de aporte de recursos, de familiares de ­Cade e de investidores-anjo do setor. Em agosto, a startup fechou parceria com a Bem Emergências Médicas para digitalizar ambulâncias da rede na cidade de São Paulo. Além da Bem Emergências, a W3.Care atende um importante hospital paulistano e um plano de saúde. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1186 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE DEZEMBRO DE 2021.

CRÉDITOS DA PÁGINA: FIORELLA MOLINELLI E REDES SOCIAIS

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