Economia

A crise pode ser uma desculpa

Desde setembro de 2008, quando teve seu momento mais intenso, a crise virou bode expiatório para tudo; demissões, cortes, redução de gastos públicos, etc

Escreve Monbiot, do Guardian: “A crise demonstra que o pensamento neoliberal é uma fraude de alto a baixo”. Foto: Joel Saget/AFP
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Desde setembro de 2008, quando teve seu momento mais intenso, a crise, de repente, virou bode expiatório para tudo; demissões, cortes, redução e aumentos de gastos públicos, redução da taxa de juros, emissões de títulos etc. E, no caso brasileiro, não é diferente.

Entretanto, é bom salientar, que certa maneira, mesmo com a crise mundial, a estrutura da política econômica brasileira vem se mantendo. Desde o início do plano Real, os governos ou intensificam ou apenas dão sequência em um dos pilares fundamentais da estruturação do Real que é a política fiscal, sendo mais direto, os ditos cujos superávits primários.

O ajuste desse ano é de 55 bilhões de reais, no ano passado foi de 50 bilhões de reais, portanto um incremento de 10%, não custa lembrar que a inflação, a depender do índice utilizado, no período foi em torno de 6,5%, portanto, o governo federal, mesmo com a crise, está fazendo um sobre-esforço para com essa renúncia de gastos, remunerar os juros da dívida pública que esse ano será aproximadamente de 140 bilhões de reais. Os credores da União agradecem, pois praticamente 40% de sua remuneração, ou seja, os juros, já estão garantidos.

Qualquer interferência na política fiscal tem reflexos diretos no crescimento econômico, haja vista, o que podemos observar na Europa e, mais recentemente, o ano passado, em nosso país. Redução de gastos, na maioria das vezes vem acompanhada de redução do crescimento econômico. Mas por que então mantemos um certo crescimento? Devido ao aumento das exportações brasileiras, mesmo sendo de baixa tecnologia, há inversões financeiras e diretas estrangeiras e nacionais sendo realizadas no país, que por sua vez, estimula a geração de empregos e renda.

Nos últimos anos, parece que fomos infectados com a doença dos 4% de crescimento, há uma síndrome de não que não se pode ultrapassar essa meta, pois vislumbram inflação, crise de mão-de-obra, crise de infraestrutura, crise de abastecimento entre outras coisas. Uns evocam os anos 70 e 80 para explicar o porquê não podemos crescer, outros afirmam que somente com extinção do Estado é possível ultrapassar essa meta.

De fato, por conta dos anos 80, 90 e 2000 o investimento público brasileiro cessou e começou a ser canalizado em um primeiro momento para a dívida externa e, em outro momento, para a dívida interna. Os apagões que tivemos em vários setores da economia foi justamente porque o Estado modificou a sua lógica, preferindo dar o seu quinhão de contribuição muito mais ao capital financeiro do que ao capital industrial.

Portanto, para superar os gargalos impostos nas ditas décadas perdidas somente com aumento do investimento público a resolução desses problemas estará encaminhada. O governo federal tanto o ano passado, como esse ano, quando efetuou os cortes procurou não interferir nos investimentos, mas ainda é muito pouco para quem vislumbra uma economia mais pujante, sólida, desenvolvida e entre as maiores do mundo.

A discussão que deve ser enfrentada pelo governo e pela sociedade é a seguinte; continuaremos, através do Estado, privilegiando o capital financeiro? Pois a redução dos gastos públicos não é simplesmente uma manobra ou instrumento para controlar a inflação e induzir a redução dos juros. Isso é apenas uma desculpa econômica e financeira. Nos últimos tempos nunca enfrentamos riscos inflacionários, pois a capacidade instalada de nossa indústria se quer chegou em 90% e, para “ajudar”, importamos uma fábula de bens de alta tecnologia.

É evidente que a política econômica acerta ao acompanhar os desdobramentos econômicos internacionais, mas poderíamos aproveitar a oportunidade e avançar ainda mais na política social, industrial, urbana, de trabalho e renda, neste caso, é preciso focar na geração de emprego decente e de qualidade.

É sempre bom lembrar; a crise é dos países do norte, temos condições e estamos enfrentando com altivez, mas, também, é o momento de mostrarmos que é possível iniciar um novo padrão de desenvolvimento capitalista brasileiro com a indução e regulação do Estado e, o mais importante, com a criação de riqueza real e não fictícia como os ditos países de primeiro mundo fizeram e continuam realizando. Para tanto, temos uma ótima desculpa… É a crise…

Desde setembro de 2008, quando teve seu momento mais intenso, a crise, de repente, virou bode expiatório para tudo; demissões, cortes, redução e aumentos de gastos públicos, redução da taxa de juros, emissões de títulos etc. E, no caso brasileiro, não é diferente.

Entretanto, é bom salientar, que certa maneira, mesmo com a crise mundial, a estrutura da política econômica brasileira vem se mantendo. Desde o início do plano Real, os governos ou intensificam ou apenas dão sequência em um dos pilares fundamentais da estruturação do Real que é a política fiscal, sendo mais direto, os ditos cujos superávits primários.

O ajuste desse ano é de 55 bilhões de reais, no ano passado foi de 50 bilhões de reais, portanto um incremento de 10%, não custa lembrar que a inflação, a depender do índice utilizado, no período foi em torno de 6,5%, portanto, o governo federal, mesmo com a crise, está fazendo um sobre-esforço para com essa renúncia de gastos, remunerar os juros da dívida pública que esse ano será aproximadamente de 140 bilhões de reais. Os credores da União agradecem, pois praticamente 40% de sua remuneração, ou seja, os juros, já estão garantidos.

Qualquer interferência na política fiscal tem reflexos diretos no crescimento econômico, haja vista, o que podemos observar na Europa e, mais recentemente, o ano passado, em nosso país. Redução de gastos, na maioria das vezes vem acompanhada de redução do crescimento econômico. Mas por que então mantemos um certo crescimento? Devido ao aumento das exportações brasileiras, mesmo sendo de baixa tecnologia, há inversões financeiras e diretas estrangeiras e nacionais sendo realizadas no país, que por sua vez, estimula a geração de empregos e renda.

Nos últimos anos, parece que fomos infectados com a doença dos 4% de crescimento, há uma síndrome de não que não se pode ultrapassar essa meta, pois vislumbram inflação, crise de mão-de-obra, crise de infraestrutura, crise de abastecimento entre outras coisas. Uns evocam os anos 70 e 80 para explicar o porquê não podemos crescer, outros afirmam que somente com extinção do Estado é possível ultrapassar essa meta.

De fato, por conta dos anos 80, 90 e 2000 o investimento público brasileiro cessou e começou a ser canalizado em um primeiro momento para a dívida externa e, em outro momento, para a dívida interna. Os apagões que tivemos em vários setores da economia foi justamente porque o Estado modificou a sua lógica, preferindo dar o seu quinhão de contribuição muito mais ao capital financeiro do que ao capital industrial.

Portanto, para superar os gargalos impostos nas ditas décadas perdidas somente com aumento do investimento público a resolução desses problemas estará encaminhada. O governo federal tanto o ano passado, como esse ano, quando efetuou os cortes procurou não interferir nos investimentos, mas ainda é muito pouco para quem vislumbra uma economia mais pujante, sólida, desenvolvida e entre as maiores do mundo.

A discussão que deve ser enfrentada pelo governo e pela sociedade é a seguinte; continuaremos, através do Estado, privilegiando o capital financeiro? Pois a redução dos gastos públicos não é simplesmente uma manobra ou instrumento para controlar a inflação e induzir a redução dos juros. Isso é apenas uma desculpa econômica e financeira. Nos últimos tempos nunca enfrentamos riscos inflacionários, pois a capacidade instalada de nossa indústria se quer chegou em 90% e, para “ajudar”, importamos uma fábula de bens de alta tecnologia.

É evidente que a política econômica acerta ao acompanhar os desdobramentos econômicos internacionais, mas poderíamos aproveitar a oportunidade e avançar ainda mais na política social, industrial, urbana, de trabalho e renda, neste caso, é preciso focar na geração de emprego decente e de qualidade.

É sempre bom lembrar; a crise é dos países do norte, temos condições e estamos enfrentando com altivez, mas, também, é o momento de mostrarmos que é possível iniciar um novo padrão de desenvolvimento capitalista brasileiro com a indução e regulação do Estado e, o mais importante, com a criação de riqueza real e não fictícia como os ditos países de primeiro mundo fizeram e continuam realizando. Para tanto, temos uma ótima desculpa… É a crise…

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