Economia

A agropecuária brasileira está protegida. Até quando?

Brevemente e a depender dos resultados eleitorais, o Jornal Nacional levará à agropecuária o pessimismo generalizado nos corredores por onde passa o PIB nacional

"Sem lavouras e pastos bem cuidados não tem negócio agro"
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Na semana passada, citei o aumento de aquisições internacionais por complexos brasileiros do agronegócio. Usei o exemplo da oferta hostil feita por empresários brasileiros à Chiquita Brands.

Não sabia que esta CartaCapital, na versão impressa, traria capa e matéria “JBS, Negócio Suspeito”.

Concluí a coluna dizendo que seria difícil “encontrar lupa ou telescópio capaz de mostrar as repercussões de negócios construídos sobre uma base de alimentos, fibras e energia renovável, que conta muitos recursos naturais e humanos nem sempre fadados ao sucesso”.

Sérgio Lírio, em excelente matéria, usou a lupa e mostrou que antes de meus protegidos campesinos (ô bancada ruralista, desculpa o termo) a ferramenta pode arder em olhos outros: acionistas minoritários, Fisco e os que vierem.

Quiproquós assim já haviam surgido quando a AMBEV passou a servir chope com dois colarinhos, Brahma e Antarctica. Não se parou aí. Afinal o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) demora um pouco, mas sempre aprova as fusões.

Boa parte da internacionalização do agronegócio brasileiro traz sempre capítulos nebulosos sem, ao contrário dos filmes exibidos na TV, prevenir para eventuais cenas violentas e sugerir crianças fora da sala.

Existem, no entanto, certas bacteriazinhas incrustadas na Federação de Corporações que a lupa da versão impressa não pegou.

Não se deve contar com um futuro em que grãos, bois, frangos, suínos, fibras, energias renováveis, possam dispensar terras férteis, climas propícios, sulcos sobre palhadas, manejos integrados, tecnologias inovadoras nutricionais ou fitossanitárias, e depender apenas da financeirização do agronegócio.

O buraco continuará sendo mais embaixo. Sem lavouras e pastos bem cuidados não tem negócio agro.

Apesar da conotação primária que se dá à atividade, ela envolve brutal soma de valores pra resultar em ganhos de produtividade, nem sempre contemplados no momento em que a produção deixa a porteira da fazenda.

É dentro das propriedades que ocorre a agregação de valores reclamada nas folhas e telas cotidianas, que olham invejosas para a Coreia do Sul, sem imaginar o dinheirão adicionado àquela sementinha ou embrião, mais tarde comercializado como boi, soja, algodão ou etanol.

Não ver agregação de valor na produção rural, isto sim é primário, se não primitivo. O mesmo que pensar economia como a moedinha que David Ricardo (1772-1823) colocava em seu cofrinho.

Um alerta: brevemente e a depender dos resultados eleitorais, os olhares assombrados de William e Patrícia, no Jornal Nacional, levarão à agropecuária o pessimismo generalizado nos corredores por onde passa o grosso do PIB nacional. Aquele que se deixa orquestrar pela batuta operística e operadora do mercado financeiro.

Não deem muita bola. Serão “Chuvas de Verão”, como cantou Caetano Veloso sobre composição maravilhosa de Fernando Lobo, causadas pelas quedas nos preços dos grãos, afetados por excesso momentâneo de oferta.

A agropecuária brasileira quando vista assim do alto, ao contrário de EUA e Europa, fartas em subsídios, tem-se protegido pelas ainda disponíveis áreas de expansão em clima propício, demanda interna crescente, preços sustentados das exportações. Um tripé improvável de desabar mesmo que um das pernas claudique em algum momento.

Nos últimos 20 anos, a produção de grãos cresceu na base de 4,8% ao ano, parte pela expansão de área (1,9% a.a.), parte pela produtividade (2,9% a.a).

Há um futuro, no entanto, a se pensar. O custo dos fatores de produção poderá inviabilizar esse ritmo e torná-lo insuficiente diante do exigido pela demanda futura.

Faltam ações integradas para aumento de competitividade e garantia de segurança alimentar com incentivo ao consumo e justa remuneração aos produtores.

É hora, pois, de chamar a lupa.

O Censo Agropecuário IBGE 2006 revelou que 80% da população ocupada no campo são de analfabetos ou apenas concluíram o ensino básico; e também 80% dos agricultores não recebem orientação técnica para modernizar a atividade.

Vemos bacteriazinhas maléficas aí. Educacionais e técnicas.

Na próxima coluna, se eu não mudar de ideia.

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