Do Micro Ao Macro

Uso do boletim Focus como balizador da economia carrega conflito de interesse, aponta entidade

Conselho Regional de Economia questiona influência das projeções financeiras sobre a política de juros e defende ampliação da diversidade na amostra

Uso do boletim Focus como balizador da economia carrega conflito de interesse, aponta entidade
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O Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) publicou um comunicado com críticas ao uso do Boletim Focus como base para decisões econômicas.

Segundo a entidade, o levantamento semanal do Banco Central induz agentes públicos e privados a interpretações equivocadas.

O Focus apresenta projeções de cerca de 160 instituições financeiras e consultorias sobre inflação, juros, PIB e câmbio.

Embora seja divulgado pelo BC, o conteúdo representa exclusivamente a expectativa do mercado.

Ainda assim, o boletim influencia as deliberações da própria autoridade monetária sobre a taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano.

Participantes buscam retorno com juros altos

O Corecon-SP destaca que os participantes do Focus têm interesse direto em manter juros elevados.

Essas instituições aplicam fortemente em títulos públicos, que oferecem liquidez e baixo risco, com remuneração atrelada à Selic.

Por isso, segundo o documento, há um incentivo para que as projeções pressionem por uma taxa básica mais alta.

“O conflito de interesses é visível quando as instituições que opinam são as mesmas que lucram com juros elevados”, afirma o texto.

Erros sucessivos nas projeções

O Conselho chama atenção para os desvios frequentes entre as projeções do Focus e os resultados efetivos da economia.

Entre o primeiro e o último relatório de 2024, a estimativa do IPCA variou de 3,9% para 4,9%.

A previsão para o PIB passou de 1,59% para 3,49%, e o dólar saltou de R$ 5,00 para R$ 6,00.

Já a Selic projetada subiu de 9% ao ano para 11,75% ao ano.

Essas mudanças indicam, segundo o Corecon-SP, fragilidade técnica nas previsões.

Mercado expressa desejo, não expectativa

Para o Conselho, as projeções revelam mais o desejo dos participantes do que análises baseadas em fundamentos.

Existe, segundo o texto, um incentivo quase sem risco para inflar artificialmente as expectativas de inflação.

Esse comportamento ajudaria a justificar a manutenção da taxa Selic em patamares elevados.

Como resultado, os juros reais seguem altos e favorecem os ganhos do setor financeiro.

Impacto sobre investimentos e emprego

O Corecon-SP também aponta consequências práticas da influência do Focus sobre a economia real.

Empresários deixam de investir diante das expectativas pessimistas, o que afeta o crescimento e a geração de empregos.

Segundo o texto, a falta de diversidade entre os respondentes contribui para esse efeito.

Com predominância de agentes financeiros, o levantamento desestimula decisões voltadas à atividade produtiva.

Conselho propõe alternativas

Para reduzir o desequilíbrio, o Corecon-SP defende ampliar a representatividade no levantamento.

A entidade cita o Relatório Firmus como exemplo de abordagem complementar.

A pesquisa é realizada trimestralmente e foca a percepção de empresas não financeiras sobre a economia.

Em fase piloto, a iniciativa já está na terceira edição e busca captar como as variáveis econômicas influenciam a atividade empresarial.

“O Firmus precisa ganhar visibilidade e apoio institucional”, afirma o comunicado.

A íntegra do documento pode ser lida aqui .

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