Do Micro Ao Macro
Uma em cada três empresas não tem estratégia para a Geração Z, mostra levantamento
Estudo revela desconexão entre marcas e jovens consumidores; especialistas defendem abordagem estruturada e autêntica


Mais de 30% das empresas brasileiras ainda não adotam estratégias específicas para se conectar com a Geração Z, formada por pessoas de 15 a 29 anos. A constatação vem da pesquisa “Quais as dificuldades das empresas brasileiras com a Geração Z?”, realizada pelo InstitutoZ, núcleo de estudos da consultoria Trope, em parceria com a MMA Latam e com apoio da Share.
A Geração Z é reconhecida por influenciar hábitos de consumo e tendências culturais. Ainda assim, segundo o estudo, 32% dos profissionais entrevistados afirmaram que suas empresas não possuem nenhum planejamento voltado especificamente para esse público.
Falta de estratégia afeta resultados
Entre as companhias que dizem ter alguma estratégia, os resultados são variados. Apenas 35% consideram suas ações eficazes. Já 6% reconhecem que não são eficientes e 27% não conseguem avaliar a efetividade das iniciativas.
Segundo Luiz Menezes, fundador da Trope, muitas empresas apenas repetem modelos antigos com estética atualizada. Isso leva a campanhas desconectadas da realidade da Gen Z. Para ele, há uma movimentação no mercado baseada mais no receio de parecer antiquado do que em uma compreensão real do comportamento dessa geração.
Comunicação limitada a redes sociais
A pesquisa também mapeou os principais caminhos adotados pelas marcas para dialogar com o público jovem. Quase metade dos respondentes (48%) aposta em comunicação por redes sociais. Outros 24% fazem parcerias com influenciadores. Já 18% preferem personalizar produtos e serviços.
Além disso, 13% recorrem a projetos sociais e ambientais como estratégia de aproximação. No entanto, o levantamento indica que esses jovens sabem identificar quando uma ação é pensada para eles e quando é apenas oportunista.
Segmentação demográfica não basta
Ainda segundo Luiz Menezes, o erro mais comum das empresas está na segmentação simplista. Ele afirma que não é possível tratar jovens de diferentes regiões e classes sociais como um bloco homogêneo.
“Se a estratégia está desenhada apenas para a faixa etária de 13 a 24 anos, sem considerar comportamentos e contextos específicos, não é uma estratégia de Geração Z. É apenas um recorte demográfico genérico”, explica o especialista.
Geração Z busca autenticidade
Para Fabiano Lobo, CEO da MMA Latam, é urgente que as empresas passem a desenhar estratégias profundas e com foco no longo prazo. “Surfar no hype pode atrair atenção, mas não é suficiente para manter esse público engajado”, avalia.
Ele destaca que a Geração Z também já ocupa cargos no mercado de trabalho e, portanto, exige abordagens que respeitem sua complexidade como consumidores e profissionais.
Influência e consumo passam por cocriar
Por fim, o estudo conclui que muitas marcas ainda falham ao tentar se comunicar com a Geração Z porque não envolvem esse público de forma real no processo de criação. A ausência de cocriação limita o impacto das campanhas e dificulta a construção de vínculos duradouros.
“A Gen Z deve ser vista como formadora de opinião e força ativa no consumo”, afirma Luiz Menezes. Para ele, o desafio está em criar experiências completas, que estejam alinhadas ao comportamento e às expectativas desse público. Só assim será possível garantir relevância no presente e crescimento no futuro.
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