Do Micro Ao Macro
Turismo rural ganha força no interior e amplia receitas do agro paulista
Com rotas temáticas, crédito e inovação tecnológica, pequenas propriedades transformam produção agrícola em negócio turístico e fortalecem o interior paulista
O turismo rural avança de forma consistente no interior de São Paulo e se integra à economia agrícola como uma nova frente de geração de renda. A combinação entre produção agropecuária, visitação e venda direta vem fortalecendo o empreendedorismo rural e transformando pequenas propriedades em negócios sustentáveis.
O movimento, antes restrito a experiências isoladas, ganha impulso com programas públicos, crédito e infraestrutura, que criam condições para que o campo também se torne destino.
A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, no primeiro semestre de 2025, o título de Município de Interesse Turístico (MIT) para 70 cidades, ampliando o potencial de investimento e reconhecimento de localidades que reúnem natureza, agricultura e cultura.
Tal medida incentiva os produtores a abrirem suas propriedades a visitantes, criando experiências ligadas à produção, à gastronomia e à tradição local. Essa aproximação entre agricultura e turismo tem se mostrado uma alternativa concreta de diversificação de receitas, sobretudo em propriedades de pequeno e médio porte.
Programas e crédito
Entre os programas que sustentam o avanço do turismo rural está o Melhor Caminho, que recupera estradas vicinais e de terra. Atualmente, há 33 obras em andamento, somando 210 quilômetros e cerca de R$ 32,6 milhões em investimentos. O programa facilita o deslocamento de turistas e o escoamento da produção, reduzindo custos logísticos e estimulando o comércio regional.
A formalização também vem crescendo. O SISP Artesanal, responsável pela certificação de pequenos produtores, já regularizou 215 empreendedores, dos quais 175 nos últimos dois anos, permitindo a comercialização segura de queijos, doces e cachaças com selo de origem e qualidade.
Rotas e tecnologia
As Rotas do Agroturismo organizam esse potencial em roteiros integrados que conectam propriedades e experiências. A Rota do Café e a Rota do Vinho já estão estruturadas, e a Rota da Cachaça Paulista está em implantação. Esses circuitos ampliam o alcance dos produtores e geram oportunidades de negócio ao associar visitação e consumo local.
Enquanto isso, o Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP) oferece crédito para obras e equipamentos voltados ao turismo, enquanto a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) auxilia produtores na gestão, recepção de visitantes e adequação sanitária.
A tecnologia também se tornou aliada do empreendedor rural. O Programa Rotas Rurais, desenvolvido com apoio do Google, já mapeou 288 mil propriedades e 57 mil quilômetros de estradas no estado, criando endereços digitais para áreas que antes não constavam em sistemas de navegação. Em Ribeirão Preto, o programa validou 387 propriedades e 235 quilômetros de rotas; em Franca, são 976 propriedades e 232 quilômetros. O mapeamento facilita o acesso a propriedades turísticas e amplia a visibilidade de negócios familiares, como o tradicional comércio Zé Goleiro, ponto de encontro de ciclistas e jipeiros na região de Ribeirão, que passou a receber mais visitantes após obter seu endereço digital.
O crescimento do turismo rural reflete um novo ciclo de empreendedorismo no campo, que alia vocação produtiva e atendimento ao público. Dados da Embratur mostram que, entre janeiro e junho de 2025, o Brasil recebeu 5,33 milhões de turistas estrangeiros, alta de 48,2% em relação ao mesmo período de 2024. O estado de São Paulo recebeu 1,38 milhão de visitantes internacionais, avanço de 24% no mesmo intervalo. A Serra da Mantiqueira, o Vale do Ribeira e o Litoral Norte estão entre as regiões que mais atraem turistas interessados em experiências ligadas à agricultura, à gastronomia e à natureza.
Novos empreendedores
Exemplos locais mostram como o empreendedorismo rural tem transformado o interior. Em Parelheiros, zona sul da capital, o Sítio Campo Verde, administrado por Auricleide Gonçalves Duarte, passou a receber visitantes para colheita de mirtilo, café da manhã e trilhas leves. Metade da renda do sítio já vem do turismo, e a produtora planeja construir chalés para hospedagem.
Na Serra da Mantiqueira, a Vinícola Villa Santa Maria, em São Bento do Sapucaí, cultiva 70 mil pés de uva vinífera e recebe visitantes para degustações e refeições no restaurante instalado na propriedade, transformando o negócio agrícola em um empreendimento turístico completo.
O Sebrae reforça que o turismo rural é uma das formas mais acessíveis de empreender no campo, pois permite começar com estrutura simples e crescer de forma gradual. .
Esse novo ciclo de empreendedorismo rural também é sustentado por políticas de crédito e investimento. Na Agrishow de 2025, o governo estadual anunciou R$ 600 milhões para o setor, com recursos voltados à recuperação de estradas, ao seguro agrícola e à compra de maquinário. Os investimentos fortalecem a infraestrutura e criam condições para que as propriedades agrícolas possam produzir e receber visitantes com qualidade.
Mais do que um complemento ao agronegócio, o turismo rural representa uma mudança no modo de empreender no campo. Ele mostra que o interior paulista tem capacidade de gerar renda e inovação a partir da sua própria vocação produtiva, abrindo espaço para um novo perfil de empreendedor: o produtor que colhe, recebe, ensina e vende — tudo no mesmo lugar.
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