Do Micro Ao Macro

Sem acesso ao sistema financeiro, 35 milhões de brasileiros seguem invisíveis para o crédito

Dados da Serasa mostram que 21,7% dos adultos não têm registro financeiro; especialistas pedem soluções mais acessíveis

Sem acesso ao sistema financeiro, 35 milhões de brasileiros seguem invisíveis para o crédito
Sem acesso ao sistema financeiro, 35 milhões de brasileiros seguem invisíveis para o crédito
Rafa Cavalcanti, cofundadora e CEO da CloQ - Crédito da imagem: Luciano Alves
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Segundo a Serasa Experian, 35,3 milhões de brasileiros adultos não têm qualquer registro econômico vinculado ao CPF. O número representa 21,7% da população adulta. Essas pessoas não possuem conta de consumo, financiamento, cartão de crédito ou qualquer outro produto bancário formal.

Como resultado, elas estão fora do cadastro positivo e são invisíveis para o sistema financeiro. Essa exclusão compromete o acesso ao crédito, dificulta investimentos e reduz as chances de empreender. Com isso, o potencial de crescimento da economia também é afetado.

Desenho de produtos desconsidera realidades sociais

Rafa Cavalcanti, CEO da fintech de impacto social CloQ, afirma que os produtos financeiros precisam ser pensados para a realidade brasileira. Ela destaca que boa parte da população tem renda variável e, muitas vezes, vive com ganhos irregulares. Mesmo assim, a maioria das soluções disponíveis é voltada a quem tem renda fixa e previsível.

Segundo Cavalcanti, não basta oferecer conta digital ou cartão de crédito. É necessário criar parcelamentos acessíveis, juros compatíveis e formas de pagamento adequadas ao dia a dia de quem está nas classes C e D.

Exclusão financeira limita inovação e amplia riscos

A concentração de produtos financeiros nos públicos de maior renda inibe a inovação no setor. Muitas instituições ainda ignoram fatores como informalidade, escolaridade baixa e instabilidade de renda como parte da realidade brasileira.

Essa desconexão empurra milhões de pessoas para soluções informais, que costumam ser mais caras e arriscadas. Com isso, o ciclo de exclusão financeira se repete.

Cavalcanti alerta que a ausência de produtos acessíveis impede que a população avance no consumo e no empreendedorismo.

Impactos vão além da renda individual

A exclusão do sistema bancário afeta também políticas públicas. Transferências de renda e incentivos fiscais exigem algum nível de bancarização para funcionarem de forma eficaz.

Sem acesso ao crédito, as famílias consomem menos. Pequenos negócios enfrentam mais obstáculos para crescer. A informalidade dificulta ações do Estado e reduz o alcance de programas sociais e econômicos.

Fintechs buscam preencher a lacuna deixada pelos bancos

A CloQ é uma das fintechs que tentam atender esse público ignorado pelos bancos tradicionais. A empresa oferece nano-crédito para ajudar pessoas sem histórico financeiro a construírem um perfil positivo e confiável.

Segundo Cavalcanti, isso pode fortalecer o sistema financeiro como um todo. Ela afirma que, ao oferecer produtos compatíveis com a realidade da população, é possível impulsionar o consumo e reduzir desigualdades.

“Sem inclusão, o sistema segue limitado. E milhões continuam à margem”, conclui.

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