Do Micro Ao Macro
Saúde mental: o silêncio que ameaça as empresas
Falta de segurança psicológica gera medo, presenteísmo e perda de inovação dentro das organizações brasileiras


Um espaço de trabalho silencioso pode ser fundamental, a depender da atividade desenvolvida. Mas nem todo silêncio é positivo. O medo de represálias e julgamentos pode criar um ambiente silencioso. E o silêncio, nesse contexto, não é prudência. É risco corporativo, afirmou Tatiana Pimenta, CEO da Vittude.
Quando a confiança não existe
O consultor Patrick Lencioni, em Os 5 Desafios das Equipes, afirma que a ausência de confiança é a base das disfunções que prejudicam resultados. Sem confiança, há medo do conflito. Sem conflito, não há debate. Sem debate, não há inovação.
Para Tatiana Pimenta, a segurança psicológica é a chave para evitar esse ciclo. “Sem confiança, o time se cala e problemas se transformam em crises que poderiam ser evitadas em uma boa conversa”, observa a executiva.
Impactos do silêncio
Dados do Censo de Saúde Mental da Vittude mostram que 31% da força de trabalho brasileira apresenta presenteísmo. Isso significa comparecer ao trabalho com a capacidade produtiva reduzida por problemas de saúde, inclusive mental.
Segundo Tatiana Pimenta, o silêncio agrava esse quadro. “Quando não há espaço para dizer ‘não estou bem’, trabalhadores seguem adoecendo em silêncio. Esse custo recai sobre pessoas, empresas e lideranças”, explica.
Cultura de máscaras
A ausência de segurança psicológica transforma escritórios em palcos. Pessoas escondem dúvidas para não parecerem incompetentes. Engolem desconfortos para não parecerem frágeis. Fingem concordar para não serem vistas como resistentes.
Tatiana Pimenta avalia que essa cultura de conformismo mina a inovação e paralisa o crescimento. “A máscara protege no curto prazo, mas rouba autenticidade e impede o aprendizado coletivo”, afirma.
O papel da liderança
Liderar com segurança psicológica significa criar condições para que erros, dores, opiniões e perguntas possam ser expressos. Isso não se resolve apenas com campanhas sazonais.
Para Tatiana Pimenta, é necessário compromisso constante. “É preciso ação madura das lideranças e uma escuta ativa que vá além do discurso. O silêncio, quando não enfrentado, se transforma em crise. E, quando explode, já é tarde demais para perguntar por que ninguém avisou”, reforça.
Caminhos possíveis
A reversão é possível, mas exige intencionalidade. Empresas que desejam se manter sustentáveis — do ponto de vista humano, ético e financeiro — precisam substituir medo por confiança, silêncio por diálogo e omissão por aprendizado.
Como conclui Tatiana Pimenta, “o risco real não está no que é dito, mas no que as pessoas deixam de dizer”.
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