Do Micro Ao Macro
Quando o silêncio fala mais alto: como as empresas devem agir diante da morte de um colega
Falta de preparo pode agravar crises e comprometer a saúde emocional dos funcionários em momentos delicados


Aviso de conteúdo: Esta matéria aborda temas sensíveis relacionados à saúde mental e ao suicídio. Caso você esteja passando por um momento difícil ou precise de apoio emocional, procure ajuda especializada. O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece atendimento gratuito, sigiloso e disponível 24 horas por dia. Basta ligar para 188 ou acessar o site www.cvv.org.br. Você não está sozinho.
No Brasil, 14 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde.
São 38 mortes por dia.
Grande parte das vítimas está em idade produtiva e inserida no mercado de trabalho.
Mesmo assim, o tema ainda encontra resistência nas empresas.
Discutir suicídio continua sendo visto como algo difícil, restrito a campanhas pontuais como o Setembro Amarelo.
No entanto, segundo a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, é necessário romper esse padrão e incluir o cuidado emocional como parte da cultura da empresa.
Falta de escuta pode transformar sofrimento em crise
Para a especialista, o silêncio constante sobre saúde mental acaba criando um terreno fértil para o agravamento de casos.
Sinais como mudanças bruscas de comportamento, afastamento repentino, queda de rendimento ou isolamento costumam aparecer antes de um episódio mais grave.
Por isso, lideranças precisam estar preparadas para perceber esses indícios e saber como agir.
Ignorar sinais ou improvisar abordagens pode expor quem sofre e gerar ainda mais riscos.
“Com orientação adequada, é possível acolher com responsabilidade, técnica e respeito”, afirma Camila, que também é cofundadora da Caliandra Saúde Mental.
Falar sobre suicídio é parte da prevenção
Abrir espaço para o diálogo é uma das estratégias mais eficazes de prevenção.
Ao contrário do receio comum, nomear o sofrimento e reconhecer sinais não estimula crises. Pelo contrário: contribui para salvar vidas.
A construção de um ambiente de segurança psicológica permite que funcionários compartilhem suas dores sem medo de julgamento.
Esse processo reforça vínculos, promove relações mais humanas e fortalece o coletivo.
Cultura do cuidado começa com preparo
Não basta querer ajudar. É necessário ter um protocolo claro para lidar com situações delicadas.
Saber quem acionar, como agir e o que evitar evita ações impensadas que podem piorar o quadro.
Frases que minimizam a dor ou reforçam estigmas devem ser evitadas.
“Em momentos de crise, não se pode culpabilizar. O acolhimento precisa ser técnico e empático”, reforça Camila.
Programa ajuda empresas antes, durante e depois da crise
Na Caliandra, a atuação começa antes do problema acontecer.
A empresa desenvolve programas personalizados que incluem capacitação de lideranças, construção de políticas de cuidado emocional e acompanhamento de casos complexos.
Segundo Camila, a ideia é garantir que o cuidado não seja uma resposta emergencial, mas uma política contínua.
A saúde mental, quando integrada à estratégia da empresa, contribui diretamente para o futuro da organização.
“Aqui, a sua vida importa” é uma mensagem que precisa ser percebida na prática, no cotidiano da equipe.
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