Do Micro Ao Macro

Pix Automático deve substituir débito automático, mas não ameaça o uso do boleto

Nova funcionalidade do Banco Central resolve entraves antigos e se firma como aposta para pagamentos recorrentes no e-commerce

Pix Automático deve substituir débito automático, mas não ameaça o uso do boleto
Pix Automático deve substituir débito automático, mas não ameaça o uso do boleto
Pix Automático e Pix por Aproximação estão entre as novidades que prometem agilizar pagamentos e aumentar a proteção contra fraudes
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O lançamento oficial do Pix Automático pelo Banco Central, com início de operação marcado para 16 de junho, é visto como um marco para os pagamentos recorrentes no Brasil.

A avaliação é da Conta Comigo Digital, fintech que processa mais de 40 milhões de boletos por mês. Para a empresa, a nova funcionalidade representa uma mudança estrutural no sistema financeiro e promete ampliar o acesso a meios de pagamento mais transparentes, interoperáveis e compatíveis com o comportamento de consumo da maioria da população.

Segundo Vinicius Santos, CEO e fundador da Conta Comigo Digital, o Pix Automático não deve ameaçar o boleto bancário, como chegou a ser especulado. O impacto, segundo ele, será mais direto sobre o modelo tradicional de débito automático, que há décadas enfrenta limitações operacionais e baixa adesão.

“O que essa nova funcionalidade realmente enterra é o débito automático, uma solução que nunca entregou a comodidade que prometia”, afirma.

Desconfiança e baixa adesão limitam o débito automático

Para Santos, a resistência ao débito automático está relacionada à falta de confiança dos consumidores nas empresas cobradoras.

“O consumidor já passou por cobranças indevidas, valores sem explicação e dificuldade para cancelar. Isso cria uma barreira que vai além do setor em que o problema ocorreu”, explica.

Ele lembra ainda que muitos brasileiros vivem no limite de renda mensal. “Grande parte da população tem propensão marginal ao consumo, ou seja, o que entra no mês é o que se gasta. Esse usuário decide a cada mês o que vai pagar. O débito automático nunca foi compatível com essa realidade.”

Dados da Conta Comigo Digital reforçam esse diagnóstico. Em média, apenas 11% dos consumidores de concessionárias utilizam o débito automático. Entre pessoas de baixa renda, a adesão é ainda menor.

Enquanto isso, o boleto segue como o meio de pagamento recorrente mais utilizado, especialmente em setores como energia, água, gás e telecomunicações. O principal motivo, segundo a fintech, é a autonomia e a previsibilidade oferecidas ao pagador.

Pix Automático elimina gargalos históricos

A principal vantagem do Pix Automático está no modelo de autorização prévia. O usuário consente com a cobrança e, a partir disso, os pagamentos podem ser agendados.

Diferente do débito automático, não há necessidade de acordos bilaterais entre empresas e bancos, algo que historicamente limitou a expansão do modelo tradicional.

“O Pix Automático resolve o maior gargalo do modelo atual: a dependência de negociações com múltiplas instituições financeiras. Isso abre espaço para mais participantes e acelera a digitalização de setores ainda presos a estruturas analógicas”, afirma Santos.

Além da praticidade, a funcionalidade favorece a entrada de novos players e a expansão da recorrência em segmentos como streaming, marketplaces e serviços por assinatura.

E-commerce sai na frente com nova funcionalidade

Durante o Conexão Pix, evento realizado pelo Banco Central em 4 de junho, o protagonismo do e-commerce ficou evidente.

Empresas como GloboPlay, Amazon, OLX e Mercado Pago foram algumas das primeiras a aderir ao Pix Automático. A movimentação indica que o comércio digital será o principal vetor de crescimento da nova modalidade nos primeiros meses.

Já no setor de utilities, a adoção deve ocorrer de forma mais lenta. Segundo a Conta Comigo Digital, a expectativa é que o Pix Automático represente inicialmente cerca de 5% dos pagamentos em concessionárias.

Ainda assim, a fintech acredita que a nova ferramenta criará as condições para mudanças mais amplas no médio prazo, com impacto positivo para consumidores, empresas e novos modelos de cobrança digital.

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