Do Micro Ao Macro

PIB cresce com impulso do agro, mas recuo da indústria de transformação acende alerta, diz Fiesp

Alta nos investimentos e consumo das famílias sustentaram a atividade, mas juros altos e cenário externo devem reduzir ritmo nos próximos meses

PIB cresce com impulso do agro, mas recuo da indústria de transformação acende alerta, diz Fiesp
PIB cresce com impulso do agro, mas recuo da indústria de transformação acende alerta, diz Fiesp
Foto: Reprodução
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A economia brasileira iniciou 2025 com forte avanço. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, segundo dados com ajuste sazonal.

Esse resultado veio próximo das projeções da Fiesp e do mercado, ambas de 1,5%.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 2,9%.

Com isso, o carregamento estatístico para o ano alcança 2,2%.

Pelo lado da oferta, o principal destaque foi a agropecuária, que avançou 12,2%.

Esse desempenho foi impulsionado por uma safra recorde de grãos, especialmente soja e milho.

Além disso, os serviços também apresentaram variação positiva, com alta de 0,3%.

O segmento de informação e comunicação, com expansão de 3,0%, teve o maior peso entre os serviços.

Por outro lado, a indústria geral recuou 0,1%, puxada pela indústria de transformação, que caiu 1,0%, e pela construção civil, que recuou 0,8%.

Tabela 1: Variações trimestrais do PIB (%)

Dados dessazonalizados

Fonte: elaboração Fiesp a partir de dados do IBGE.

Indústria sente impacto de juros altos e ambiente externo adverso

A retração de 1,0% na indústria de transformação interrompeu uma sequência de quatro trimestres de crescimento.

Esse setor, que representa cerca de 58% da indústria geral, é altamente sensível ao custo do crédito e às condições financeiras.

Além disso, o cenário externo contribuiu para a desaceleração, com menor demanda global e aumento da incerteza internacional.

Esses fatores afetam tanto a atividade produtiva quanto os investimentos no setor.

Apesar do recuo da indústria de transformação, outros segmentos industriais registraram desempenho positivo.

A indústria extrativa cresceu 2,1%, enquanto eletricidade, gás, água e esgoto avançaram 1,5%.

Consumo das famílias volta a crescer com mercado de trabalho aquecido

Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 1,0% no trimestre.

Esse avanço reverte a queda de 0,9% registrada no último trimestre de 2024.

Segundo os dados, o desempenho foi sustentado pelo mercado de trabalho aquecido e pela elevação da renda.

A taxa de desemprego caiu para 7,0%, o menor patamar histórico para esse período do ano.

O rendimento médio real do trabalho cresceu 4,0% em relação ao mesmo trimestre de 2024.

Já a massa salarial teve alta de 6,6% na mesma comparação.

Além disso, a renda foi reforçada por medidas como a liberação de R$ 6 bilhões do FGTS em março.

O consumo do governo também cresceu, com alta de 0,1%, marcando o terceiro trimestre seguido de expansão.

Investimentos mantêm trajetória de alta com apoio do setor público

Os investimentos também sustentaram o crescimento do PIB.

A formação bruta de capital fixo (FBCF) avançou 3,1% no trimestre, mantendo a sequência de seis trimestres positivos.

Esse desempenho foi favorecido pela produção de bens de capital, que subiu 0,9%, e pela importação de plataformas de petróleo.

Apesar do cenário restritivo para o investimento privado, os investimentos públicos seguem em expansão.

Segundo a Fiesp, estados e municípios lideram esse movimento.

A participação dos municípios nos investimentos públicos passou de 37,6%, na média de 2010 a 2020, para 52,8% em 2024.

Enquanto isso, a fatia do governo federal caiu de 27,4% para 14,0% no mesmo intervalo.

A expectativa da Fiesp é de que os investimentos cresçam 4,5% em 2025 e 2,6% em 2026.

Para o investimento privado (FBCF privada), a projeção é de alta de 3,1% em 2025 e 0,7% em 2026.

Setor externo teve contribuição negativa no trimestre

A contribuição do setor externo foi negativa no primeiro trimestre.

As exportações cresceram 2,9%, mas as importações subiram 5,9%.

Esse descompasso reflete a recuperação da demanda doméstica e a maior importação de bens de capital.

Além disso, o aumento das importações está relacionado ao crescimento dos investimentos produtivos.

Mesmo assim, a balança comercial impactou negativamente o PIB do período.

Fiesp eleva projeção de crescimento do PIB para 2,4% em 2025

Diante do resultado positivo no início do ano, a Fiesp revisou sua projeção de crescimento do PIB.

A estimativa subiu de 2,0% para 2,4% em 2025.

Segundo a entidade, o forte crescimento no primeiro trimestre e o desempenho dos investimentos justificam a revisão.

Por outro lado, a Fiesp destaca que os próximos trimestres devem ser marcados por desaceleração.

A principal razão está nos efeitos defasados da política monetária contracionista.

Com juros elevados e crédito mais restrito, setores mais sensíveis, como a indústria de transformação, devem seguir pressionados.

Expectativas para o segundo semestre indicam moderação da atividade

A Fiesp prevê desaceleração mais evidente da economia a partir do segundo semestre.

O aperto monetário, que já impacta a indústria, deve atingir outras áreas da economia.

Indicadores antecedentes, como o IAT da indústria de transformação, sinalizam arrefecimento da produção industrial.

Por outro lado, o desempenho forte no início do ano deixou um carregamento estatístico de 2,2%.

Além disso, medidas de estímulo à demanda e investimentos públicos devem ajudar a sustentar a atividade.

Entre essas medidas estão a liberação de recursos do FGTS e a criação do crédito consignado privado.

Com isso, mesmo com moderação, a economia deve manter trajetória positiva ao longo de 2025.

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