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Open Finance e Pix Automático avançam, mas infraestrutura do setor elétrico ainda trava a inovação

SENDI 2025 discute os desafios da interoperabilidade entre utilities e o sistema financeiro; especialistas pedem integração real e menos fricção

Open Finance e Pix Automático avançam, mas infraestrutura do setor elétrico ainda trava a inovação
Open Finance e Pix Automático avançam, mas infraestrutura do setor elétrico ainda trava a inovação
Expansão. Em março, o Brasil contava quase 1,2 mil fintechs. O número cresceu 56% em apenas um ano. (FOTO: iStockphoto)
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O avanço dos meios de pagamento no Brasil abriu caminho para soluções como o Open Finance e o Pix Automático. No entanto, a infraestrutura do setor elétrico ainda impõe limites ao crescimento dessas inovações.

Esse foi um dos temas centrais no Sendi 2025, principal evento de distribuição de energia elétrica da América Latina. Realizado em Belo Horizonte entre os dias 27 e 30 de maio, o encontro reuniu mais de 5 mil participantes.

Para especialistas, o desafio não está na criação da tecnologia – mas na capacidade de integrá-la aos sistemas legados das concessionárias e distribuidoras de energia, que ainda operam com baixo grau de digitalização.

Gargalos

A Conta Comigo Digital, fintech especializada em soluções de arrecadação, participou do evento com um alerta: sem interoperabilidade real, o Pix Automático pode fracassar na missão de substituir o boleto.

A empresa processa mensalmente mais de 40 milhões de boletos em segmentos como energia, água e telefonia. Segundo seu CEO, Vinicius Santos, a baixa adesão ao débito automático nas utilities – estimada em apenas 11% – é reflexo de um sistema que ainda apresenta falhas de confiança e atrito na experiência do consumidor.

De acordo com dados da Abecs, o volume de pagamentos recorrentes com cartão no Brasil chegou a 106 bilhões de reais em 2024. O crescimento foi de 88,5% em dois anos, mas esse movimento ainda não se reflete no setor de serviços essenciais.

Pix Automático depende de integração

A partir do próximo dia 16, o Pix Automático começa a funcionar no país. A ferramenta permitirá cobranças recorrentes programadas, sem a necessidade de autorização manual a cada transação. A expectativa é de que ele possa substituir o boleto em serviços como luz, água, telefonia e impostos – simplificando o pagamento e reduzindo inadimplência.

Porém, para funcionar com eficiência, o Pix Automático depende de integração com o Open Finance. E aí reside um novo obstáculo: segundo Santos, as operadoras precisam garantir que o consentimento do usuário seja respeitado, que os dados fluam com segurança e que as integrações estejam tecnicamente maduras.

Modernizar arrecadação é urgente

Para a Conta Comigo Digital, a digitalização das distribuidoras deve ir além do atendimento ao cliente ou do uso de medidores inteligentes. É preciso atualizar o sistema de arrecadação e tornar os pagamentos mais simples, seguros e conectados ao novo ecossistema financeiro.

“O sistema financeiro está evoluindo em ritmo acelerado. Mas, se os setores essenciais não acompanharem, a conta da complexidade segue nas mãos do consumidor”, afirma Santos.

No primeiro semestre de 2024, o Brasil registrou mais de 4 bilhões de contas emitidas apenas em serviços essenciais e impostos, segundo a Febraban. O potencial de impacto do Pix Automático nesse cenário é enorme – desde que todos os agentes estejam alinhados.

Inovação exige esforço conjunto

O debate sobre interoperabilidade vai além da tecnologia. Exige articulação entre reguladores, instituições financeiras, empresas de tecnologia e prestadores de serviços públicos. Sem essa convergência, o risco é que soluções criadas para simplificar o cotidiano acabem esbarrando em estruturas ultrapassadas – o que compromete tanto a experiência do consumidor quanto a eficiência dos processos.

A integração entre inovação financeira e infraestrutura de arrecadação será decisiva para o sucesso do Pix Automático no setor elétrico – e, por consequência, para o avanço da digitalização nos pagamentos do país.

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