Do Micro Ao Macro
O que as empresas podem aprender com a economia criativa do Vale do Silício
Mais do que tecnologia, o diferencial da região está em transformar criatividade em método de inovação e vantagem competitiva
O Vale do Silício se consolidou como o maior polo global de tecnologia, mas sua principal lição vai além das inovações digitais. A região se tornou um modelo de economia criativa aplicada aos negócios — uma combinação de design, empatia e tecnologia voltada à geração de valor e propósito.
Segundo o Global Innovation Index 2025, elaborado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO), os Estados Unidos ocupam o 3º lugar no ranking global de inovação, atrás apenas de Suíça e Suécia. O desempenho é sustentado por fatores como cultura empreendedora, investimento em pesquisa e colaboração entre empresas, universidades e criadores — elementos que sustentam a economia criativa.
No Brasil, o setor também cresce. De acordo com a Firjan, a indústria criativa representa 3,59% do PIB nacional, movimentando R$ 393,3 bilhões em 2023, com destaque para design, audiovisual, moda, comunicação e games — segmentos que têm crescido acima da média da economia formal.
Criatividade com processo e empatia
Para o designer e empreendedor Guilherme Ferreira, o que diferencia o Vale do Silício é a capacidade de tratar a criatividade como método. “A diferença está em enxergar a inovação como processo, não como acaso. É preciso escuta ativa, empatia e método para transformar ideias em valor”, explica.
Ferreira observa que nos Estados Unidos o design thinking, abordagem centrada no ser humano, tornou-se parte da rotina corporativa. Esse modelo tem levado empresas a desenvolver experiências digitais mais intuitivas e emocionalmente conectadas.
Em um projeto recente no varejo, sua equipe aplicou princípios semelhantes e obteve aumento de 40% na taxa de conversão e 30% no tempo de permanência dos usuários no site. “Resolver o problema real do cliente e fazê-lo se sentir especial é o que gera fidelidade. É o digital com alma de loja de bairro”, afirma.
A união entre dados, empatia e tecnologia
O avanço da inteligência artificial generativa amplia as possibilidades da economia criativa. Segundo estimativas da Accenture, empresas que adotarem essa tecnologia devem crescer 2,4 vezes mais até 2026. Quando associada ao design e à empatia, a IA permite personalizar experiências, otimizar processos e escalar ideias criativas.
Ferreira destaca que a tecnologia só tem valor quando conecta dados à sensibilidade humana. “A IA pode desenhar interfaces e produtos em tempo real, mas é o olhar humano que garante sentido à experiência”, comenta.
O papel da economia criativa nos negócios
A cultura de inovação aberta, consolidada no Vale do Silício, também começa a se fortalecer no Brasil. Polos como Florianópolis, Recife e São Paulo atraem startups, universidades e empresas que apostam na colaboração para gerar novos produtos e modelos de negócio.
Para Ferreira, o desafio das companhias brasileiras é estruturar a criatividade, tornando-a parte do sistema de gestão. Isso envolve equipes multidisciplinares, cultura de testes e experiências digitais acessíveis e personalizadas.
Ele resume o caminho adiante com uma provocação: “A economia criativa é o ponto de encontro entre arte, tecnologia e estratégia. É o que dá identidade à inovação. No fim, tecnologia sem sensibilidade é só código.”
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