Do Micro Ao Macro

Mulheres negras podem e devem superar a síndrome da impostora no mercado de trabalho

Ausência de representatividade, racismo estrutural e autocrítica constante reforçam barreiras à ascensão profissional

Mulheres negras podem e devem superar a síndrome da impostora no mercado de trabalho
Mulheres negras podem e devem superar a síndrome da impostora no mercado de trabalho
Alcione Balbino, especialista em Diversidade e fundadora da Pretas Pardas Potentes, propõe reflexões sobre como mulheres pretas podem fortalecer sua autoconfiança e superar a pressão no mercado de trabalho
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A síndrome da impostora segue afetando o desempenho e a autoestima de mulheres em diversos ambientes de trabalho. No caso das mulheres negras, o impacto é ampliado por fatores estruturais como o racismo e a falta de representatividade em cargos de liderança.

O conceito foi identificado na década de 1970 pelas psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes. Ele descreve a sensação persistente de inadequação vivida por pessoas que, apesar de bem-sucedidas, acreditam não merecer suas conquistas.

Esse sentimento leva a uma constante autocrítica e à ideia de que, a qualquer momento, alguém pode descobrir que ela não é tão competente quanto parece.

Entre as mulheres negras, o efeito é intensificado por estigmas sociais, julgamentos externos e falta de referências em posições de poder.

Mulheres negras sentem mais pressão para provar valor

Segundo Alcione Balbino, especialista em Diversidade e fundadora da Pretas Pardas Potentes, o problema vai além da esfera individual.

Ela explica que a pressão por resultados é agravada pela sensação de isolamento em ambientes majoritariamente brancos.

“Muitas vezes, somos as únicas em espaços de decisão. A ausência de lideranças negras faz com que duvidemos da legitimidade da nossa presença”, afirma Alcione.

Ela também aponta que esse sentimento obriga as profissionais a redobrar o esforço para demonstrar competência.

Racismo estrutural e falta de oportunidades agravam cenário

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, apesar de representarem 54% da população, as mulheres negras ainda enfrentam desigualdades expressivas.

Em 2021, 52% delas estavam no mercado de trabalho, frente a 75% dos homens.

Apenas 3% ocupavam cargos de liderança, segundo o levantamento.

Esses números revelam a dificuldade de ascensão causada pelo racismo estrutural, muitas vezes invisível nas relações cotidianas.

Para Alcione, o sistema não foi desenhado para incluir mulheres negras em posições de poder.

Reconhecer conquistas é passo para romper o ciclo

Com mais de 20 anos de experiência no setor corporativo, Alcione compartilha que também viveu a síndrome da impostora ao longo da carreira.

Segundo ela, o sentimento não se resume à dúvida pessoal.

“É também sobre o peso de ter que justificar nossa presença o tempo todo”, afirma.

Ela defende que as mulheres negras celebrem suas conquistas sem depender da validação externa.

“Nosso espaço é resultado da nossa competência, e não uma concessão. A dúvida que sentimos é fruto de um sistema que nos marginaliza”, afirma.

Empresas devem criar ambientes inclusivos

De acordo com Alcione, romper com esse padrão exige mudanças institucionais.

Ela reforça que o combate à síndrome da impostora não depende apenas da mulher negra.

É necessário que empresas criem ambientes que promovam igualdade, segurança e desenvolvimento para profissionais negras.

A especialista conclui que a valorização do talento deve substituir o esforço constante de provar pertencimento.

“Mulheres negras precisam ser reconhecidas pela sua capacidade. Não pelo quanto lutaram para estar ali”, afirma.

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