Do Micro Ao Macro
Microcrédito Produtivo movimenta R$ 114,5 milhões na economia do Brasil
Crescimento reflete aumento no ticket médio e maior demanda por recursos entre pequenos empreendedores


O microcrédito produtivo orientado apresentou uma expansão significativa no primeiro semestre de 2024, liberando R$ 114,5 milhões para pequenos empreendedores. Esse valor se aproxima dos R$ 121,16 milhões registrados em todo o ano de 2020, período impactado pela pandemia.
Em 2023, o total de concessões alcançou R$ 171,71 milhões. Nos últimos quatro anos e meio, a modalidade somou R$ 901 milhões liberados. Esses empréstimos têm como objetivo apoiar empreendedores, oferecendo também orientações financeiras. Os dados foram divulgados pelo Ceape Brasil, instituição especializada em microcrédito.
Aumento no ticket médio
Além do aumento no volume de concessões, o valor médio dos empréstimos também subiu. Em julho de 2024, o ticket médio alcançou R$ 7.013, uma alta de 31,67% em comparação com janeiro, quando o valor era R$ 5.326.
Segundo Cláudia Cisneiros, diretora do Ceape Brasil, a demanda por microcrédito continua crescendo. No entanto, a instituição adota uma abordagem cautelosa para evitar empréstimos muito altos que possam gerar dívidas.
Para ilustrar a evolução, em 2019, o valor médio dos empréstimos era R$ 3.893,38. Já em 2023, esse valor chegou a R$ 5.855,86, representando um aumento de mais de 50%.
Educação financeira no foco
O microcrédito produtivo orientado tem como objetivo, além de financiar negócios, fornecer aos empreendedores orientações sobre gestão financeira. Essa orientação ajuda a manter a saúde financeira dos negócios ao longo do tempo.
Diferente de outras modalidades de crédito, voltadas para o consumo, o foco está no desenvolvimento sustentável das empresas. “Nosso propósito é fazer com que os pequenos negócios cresçam de forma sustentável, gerando renda e empregos”, explica Cisneiros.
Ela ainda ressalta que muitos pequenos empreendedores enfrentam dificuldades para obter crédito em bancos tradicionais. Isso ocorre porque é exigida a formalização completa da empresa para acessar linhas de crédito com melhores condições.
“Muitas vezes, o empreendedor precisa do dinheiro justamente para formalizar seu negócio. Sem esses recursos, ele não consegue atender às exigências necessárias”, destaca Cisneiros.
Impacto social do microcrédito
O microcrédito também desempenha um papel importante na transformação social. Cerca de 60% dos beneficiários são mulheres, muitas delas responsáveis pelo sustento de suas famílias.
Essas trabalhadoras, ao receberem o microcrédito, conseguem iniciar ou expandir seus negócios, gerando renda e melhorando a qualidade de vida. Além disso, ao formalizarem seus empreendimentos, elas começam a recolher impostos e, em alguns casos, a contratar funcionários.
Um exemplo é Lucinete Barbosa de Sousa, de 70 anos, moradora de Castanhal, no Pará. Comerciante há mais de 40 anos, ela foi diagnosticada com câncer de mama em março de 2024.
Apesar de ter estabilidade financeira, Lucinete contou com o suporte do Ceape Brasil para enfrentar o tratamento. Nos últimos sete anos, ela fez empréstimos para melhorar seu negócio e, surpreendentemente, recebeu um auxílio médico oferecido pela instituição.
Além de contar com descontos em consultas e exames, Lucinete recebeu uma indenização de R$ 10 mil, o que aliviou os custos do tratamento.
O Ceape Brasil atua nos estados do Maranhão, Pará, Tocantins e São Paulo. Atualmente, atende 21 mil clientes ativos, ou seja, empreendedores com empréstimos em andamento.
A instituição é especializada em microcrédito produtivo e combina crédito com educação financeira. Desde sua fundação, já liberou mais de R$ 2,5 bilhões, beneficiando cerca de 1,5 milhão de pequenos empreendedores, principalmente na região Nordeste.
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