Do Micro Ao Macro
Ineficiência digital ameaça até 25% do faturamento do varejo brasileiro
Falta de integração tecnológica e processos manuais reduzem competitividade e rentabilidade, alerta executivo
Enquanto a digitalização se consolida como discurso dominante, o varejo brasileiro ainda enfrenta perdas relevantes por não automatizar etapas-chave da operação. Estimativas com base em levantamentos da McKinsey e da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) indicam que falhas em processos desconectados — como gestão de estoque, atendimento e CRM — podem corroer de 10% a 20% do faturamento das empresas.
O impacto é ainda mais expressivo quando se considera o cenário de margens reduzidas por custos logísticos e pela concorrência acirrada. Apesar do avanço de plataformas de e-commerce e aplicativos, a ausência de integração entre sistemas internos continua sendo um dos principais entraves à eficiência operacional.
De acordo com Guilherme Carvalho, CEO da Backlgrs e especialista em transformação digital, o problema não está apenas na falta de tecnologia, mas na forma como ela é utilizada. “Muitas companhias investem em ferramentas modernas, mas não conectam essas soluções. Isso gera retrabalho, perda de dados e decisões desalinhadas. O resultado é um ciclo de ineficiência: o estoque não acompanha a demanda, o cliente recebe ofertas sem relevância e o time comercial gasta tempo com tarefas que poderiam ser automatizadas”, afirma.
A falta de integração impacta diretamente o desempenho financeiro. Um cálculo incorreto de demanda pode levar à falta de produtos e perda de vendas, enquanto o excesso de estoque reduz capital de giro e rentabilidade. No atendimento, respostas lentas ou despadronizadas entre canais prejudicam a experiência do consumidor e aumentam o risco de migração para concorrentes.
Segundo dados do setor, empresas que adotam automação integrada nas áreas de vendas, marketing e atendimento conseguem reduzir custos operacionais em até 50% e elevar a taxa de conversão entre 30% e 40% no médio prazo.
Ainda assim, Carvalho observa que o desafio cultural costuma ser maior do que o técnico. “O varejo brasileiro é fragmentado em ilhas de informação. Para que a digitalização gere valor, é necessário repensar processos antes de implantar tecnologia. Caso contrário, o investimento se perde. A questão central é como os dados circulam e orientam decisões dentro da empresa”, explica.
Com o aumento da pressão por margens em meio a juros altos e consumo instável, a automação integrada deixou de ser diferencial competitivo e passou a ser condição de sobrevivência. Empresas que adiam essa mudança correm o risco de acumular ineficiências que, no longo prazo, comprometem receita, produtividade e capacidade de adaptação às novas exigências do mercado.
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