Do Micro Ao Macro
Homens fogem do cuidado emocional e só 29% buscam Psicologia
Levantamento aponta que saúde mental masculina responde por menos de um terço dos atendimentos psicológicos, com busca tardia e baixa continuidade
A saúde mental masculina segue distante do cuidado regular no Brasil. Levantamento do Research Center da Conexa indica que apenas 29,6% dos atendimentos em Psicologia na plataforma foram realizados por homens, um volume 58% menor em relação às mulheres, mesmo com o aumento do debate público sobre saúde emocional.
Além disso, a procura masculina se concentra em faixas etárias mais jovens. Entre 21 e 30 anos está o maior volume de atendimentos. Depois dos 50 anos, a presença cai ainda mais, com somente 22,2% dos atendimentos feitos por homens, ampliando o alerta sobre a saúde mental masculina ao longo da vida.
Ansiedade leva homens ao pronto atendimento
Outro dado reforça a busca tardia por apoio. A ansiedade já aparece como a quinta maior causa de entrada masculina em Pronto Atendimento. Isso sugere que muitos homens recorrem ao sistema de saúde apenas quando os sintomas já interferem no cotidiano, em vez de buscar acompanhamento preventivo em saúde mental masculina.
Segundo Guilherme Weigert, CEO da Conexa, o padrão reflete barreiras culturais ainda presentes. “Muitos homens só buscam ajuda quando o sofrimento já está insustentável. A saúde costuma ser tratada de forma pontual, quando o acompanhamento integrado, físico e emocional, reduz riscos”, afirma.
Menor uso contínuo dos serviços
Os dados também mostram diferença no uso dos serviços ao longo do tempo. Entre janeiro e novembro, os homens representaram quase 40% da base de pacientes da Conexa, mas responderam por apenas 32,6% dos atendimentos realizados. A média masculina ficou em três consultas por pessoa, enquanto as mulheres chegaram a quatro.
Além disso, a adesão a jornadas integradas é menor. Somente 9,1% dos homens utilizaram mais de um serviço da plataforma no período, contra 13,4% entre as mulheres. O número indica menor continuidade no cuidado e menor engajamento com práticas voltadas à saúde mental masculina.
Barreiras culturais seguem presentes
Para Weigert, o tema ainda precisa ganhar espaço quando se fala em saúde do homem. “A combinação entre menor percepção de risco, tabus históricos e dificuldade de buscar ajuda faz com que os homens cheguem mais tarde aos serviços”, diz.
A leitura dos dados aponta que a saúde mental masculina permanece associada a episódios críticos, com pouca prevenção e acompanhamento contínuo, o que amplia riscos e reduz o uso regular dos serviços disponíveis.
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