Do Micro Ao Macro
Habilidades socioemocionais ganham relevância frente a diplomas e cargos no currículo
Estudo mostra avanço do modelo baseado em competências e revela novo perfil de liderança no mercado de trabalho brasileiro


O mercado de trabalho brasileiro passa por uma mudança estrutural. A trajetória profissional baseada em diplomas e cargos está sendo substituída por um modelo focado em habilidades — especialmente socioemocionais.
Essa é a principal conclusão do estudo Mind the Soft Gap – o novo valor do trabalho, realizado pela Afferolab, consultoria de aprendizagem corporativa, com apoio da PEZCO Economics. O levantamento ouviu mais de 400 líderes e analisou dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego.
Para Alessandra Lotufo, sócia e managing director da Afferolab, o comportamento passou a ocupar o centro da discussão sobre carreira. “O modelo tradicional, baseado em estudar, formar-se e trabalhar, foi superado. O avanço tecnológico e a cultura digital transformaram a forma como o sucesso é construído”, afirma.
Competências superam diplomas
O levantamento mostra que empresas de todos os portes priorizam habilidades lógicas, estratégicas e sistêmicas. Essas competências são valorizadas tanto em cargos operacionais quanto em posições de liderança.
A pesquisa aponta que a capacidade de adaptação, o pensamento crítico e a aplicação prática do conhecimento em contextos variados são os novos critérios de progressão na carreira. A ligação direta entre diploma e cargo, comum no século XX, vem perdendo força.
Liderança mais jovem
A presença de líderes com menos de 35 anos aumentou nas empresas. Entre 2018 e 2023, houve crescimento expressivo em todas as regiões. Os maiores avanços ocorreram no Norte (75,9%), Sul (70,4%) e Sudeste (67,4%).
Segundo Alessandra, isso reflete uma nova lógica de desenvolvimento. “Esses profissionais assumem posições de liderança antes de acumular décadas de experiência formal. Por isso, precisam dominar competências como inteligência emocional, fluência digital e visão sistêmica.”
Escolaridade mínima cresce
A pesquisa mostra que a parcela de trabalhadores com ensino médio completo no mercado formal aumentou 30% nos últimos cinco anos. Esse nível de escolaridade se consolidou como um requisito básico para vagas em setores mais organizados, principalmente aqueles que exigem familiaridade com tecnologias e aprendizado contínuo.
Essa tendência, no entanto, traz riscos. A especialista alerta para o possível agravamento da exclusão entre quem não concluiu o ensino básico. A solução passa por programas de requalificação que combinem reforço educacional e capacitação técnica.
Perfil técnico em alta
O estudo identificou aumento no número de vínculos formais em cargos de gerência e direção. Também houve crescimento em setores com alta ou média-alta intensidade tecnológica. Para a Afferolab, isso sinaliza o surgimento de uma nova classe média técnica, com foco em funções operacionais e técnicas, e não apenas em cargos de gestão.
Segundo Alessandra, esse movimento mostra que o mercado busca profissionais com conhecimento prático, capacidade de adaptação e domínio tecnológico. A qualificação deixa de ser puramente acadêmica e passa a ser aplicada diretamente nos processos produtivos.
Rotatividade aumenta
Entre 2018 e 2023, vínculos com até dois anos de duração cresceram significativamente. Isso reforça a ideia de que o tempo de permanência nas empresas está menor e que a estabilidade perdeu espaço no mercado formal.
Essa movimentação exige que profissionais atualizem suas habilidades constantemente. A atualização contínua (upskilling) se torna uma resposta às exigências do modelo baseado em competências.
Para Alessandra, “o desafio é equilibrar o valor das habilidades humanas com a velocidade da validação digital. Essa transição exige preparo técnico, pensamento crítico e domínio de ferramentas que sustentem inovação”.
Habilidades socioemocionais ganham relevância frente a diplomas e cargos no currículo
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