Do Micro Ao Macro

Greenwashing ameaça credibilidade dos créditos de carbono

Empresas utilizam créditos para aparentar sustentabilidade, mas práticas prejudicam combate às mudanças climáticas

Greenwashing ameaça credibilidade dos créditos de carbono
Greenwashing ameaça credibilidade dos créditos de carbono
Greenwashing: 60% das cias brasileiras relatam práticas ESG, mas só 29% têm auditoria externa
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Greenwashing, ou “maquiagem verde”, envolve empresas que promovem uma imagem ambientalmente responsável sem adotar práticas sustentáveis de verdade. Para Cassio J Krupinsk, CEO da BlockBR, essa estratégia “distorce a percepção dos consumidores, levando-os a crer que as empresas estão comprometidas com o meio ambiente”.

Essa prática é marcada por discursos exagerados e falta de transparência, onde pequenas iniciativas são promovidas como grandes mudanças. Multinacionais, como Apple e Coca-Cola, já foram acusadas de greenwashing. A Apple, por exemplo, destacou alguns avanços ambientais, mas evitou discutir questões como a obsolescência programada e as emissões associadas à produção na China. Já a Coca-Cola enfrentou críticas por subestimar o impacto ambiental de suas garrafas PlantBottle, enquanto continua entre os principais poluidores de plástico globalmente.

Outras empresas, como Unilever, Toyota, Starbucks e Walmart, também foram apontadas por alegações ambientais que mascaravam problemas reais. A Unilever enfrenta questionamentos sobre a transparência na cadeia de suprimentos do óleo de palma. A Toyota, por sua vez, promoveu veículos híbridos como se fossem totalmente elétricos. Já a Starbucks lançou tampas sem canudo que utilizam mais plástico, repassando o impacto do lixo plástico para países em desenvolvimento. A Walmart foi multada por rotular produtos de bambu quando, na verdade, eram feitos de raiom, um material semissintético com efeitos ambientais adversos.

Greenwashing e o mercado de créditos de carbono

Esse problema também chegou ao mercado de créditos de carbono. Muitas empresas compram créditos para cumprir normas ambientais e atrair consumidores, sem investir em políticas ecológicas reais. Krupinsk destaca que “essas práticas buscam atrair clientes que valorizam ações ambientais, mas com uma solução superficial”.

Exemplos recentes incluem a Woodside, que foi processada pelo Greenpeace por afirmar que reduziu emissões em 11% usando créditos de carbono, quando suas emissões reais aumentaram. A Delta Air Lines também foi alvo de ação nos EUA, após declarar que se tornara “neutra em carbono”, apesar de essa compensação ter sido questionada pela qualidade dos créditos utilizados.

Desafios na criação de créditos confiáveis

A comercialização de créditos de carbono enfrenta desafios técnicos e regulatórios para garantir a transparência desses ativos digitais. Krupinsk ressalta que é necessário assegurar a matrícula da área, permitindo o acompanhamento dos projetos ao longo do tempo e a contabilidade precisa dos créditos. Ele afirma que “um ambiente regulado, que garanta registros e documentos adequados, é imprescindível para evitar sobreposições de áreas e problemas com licenças ambientais”.

A importância da tokenização na segurança de créditos de carbono

A tokenização pode ser uma alternativa viável para garantir um ambiente seguro e confiável na documentação e transações de créditos. De acordo com Krupinsk, “o valor dos tokens RWA não está no produto em si, mas na área a ser desenvolvida e na segurança de sua produção”. Ele acredita que “projetos bem documentados e transparentes são fundamentais para que os créditos de carbono realmente contribuam para a sustentabilidade, evitando o greenwashing e garantindo que ações ambientais tenham impactos no combate às mudanças climáticas”.

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