Do Micro Ao Macro
Frete grátis: por que o brasileiro ama e como aplicar sem comprometer a margem
Estudos mostram que o benefício influencia até 67% das decisões de compra no e-commerce; estratégia depende de dados e perfil do consumidor


No comércio eletrônico brasileiro, o frete grátis deixou de ser diferencial e passou a ser expectativa. Rodrigo Garcia, diretor-executivo da Petina Soluções Digitais, explica que a forma como o consumidor processa o custo da entrega é diferente da avaliação do preço do produto.
“Quando o frete é zero, mesmo que o valor do item seja um pouco mais alto, o cérebro interpreta como ganho absoluto. Esse ‘efeito zero’ aumenta a conversão e pode até anular a busca pelo menor preço total”, afirma o executivo.
Peso nas decisões
Levantamento da Opinion Box com a Octadesk mostra que 67% dos consumidores brasileiros apontam o frete grátis como fator decisivo na compra. Outro estudo, da CT Trends, indica que 65% desistem diante de fretes elevados e 85% preferem lojas que oferecem entrega gratuita ou mais acessível. Já a Econsultancy aponta que custos de envio respondem por até 55% dos abandonos de carrinho.
Estratégia por segmento
Segundo Garcia, a aplicação do frete grátis deve ser pontual. Categorias de alta recorrência e margem, como moda íntima, beleza e cuidados pessoais, permitem diluir o custo no comportamento de recompra. Em setores de maior valor e menor frequência, como eletrônicos e móveis, a lógica muda: o ideal é estabelecer frete grátis acima de determinado valor ou em datas sazonais.
O executivo destaca o papel da inteligência de dados. “É preciso cruzar custos logísticos, margem por produto e comportamento de compra para criar regras automáticas e rentáveis. Negociações mais agressivas com marketplaces e operadores logísticos também são parte da equação”, diz.
Valor emocional
Garcia reforça que o benefício vai além do aspecto financeiro. “O frete grátis é percebido como um presente, um gesto de cuidado da marca. Isso gera vínculo emocional, lealdade e pode ser o fator que define a escolha final.”
Para ele, o debate atual não é mais sobre oferecer ou não, mas sim sobre o desenho da estratégia. “A questão hoje é ‘como, quando e para quem oferecer’. O consumidor busca conveniência, transparência e preço justo. As marcas que compreenderem esse tripé terão vantagem competitiva”, conclui.
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