Do Micro Ao Macro
Exportadores perdem até 5% da receita por converter dólar na hora errada
Sem autonomia cambial, maioria das empresas brasileiras segue presa a modelos antigos e gera perdas silenciosas no comércio exterior


Um cruzamento de dados do Banco Central com o comportamento de empresas exportadoras revelou um dado preocupante: quase 70% dos exportadores brasileiros ainda convertem seus dólares em momentos desfavoráveis. O motivo está na falta de autonomia para gerenciar o câmbio.
Muitas empresas operam com estruturas limitadas ou seguem regras inflexíveis dos bancos tradicionais. Esse padrão, segundo especialistas, pode representar perdas expressivas e recorrentes nos resultados financeiros, além de comprometer a competitividade.
Custo da conveniência é alto
Para Vinicius Ramos, fundador da Hood – empresa especializada em câmbio para pessoas jurídicas – o maior problema é estrutural. “O Brasil ainda exige que o exportador traga o valor para o país imediatamente, mesmo que o câmbio esteja desfavorável”, explica.
Na prática, isso impede estratégias básicas de retenção da moeda, antecipação de pagamentos a fornecedores internacionais ou decisões mais vantajosas no tempo certo. “O empresário acredita que está seguro porque a operação não dá dor de cabeça. Mas isso custa caro. A margem vai se corroendo aos poucos”, afirma Ramos.
Perda de competitividade
Boa parte das empresas ainda opera dentro de um modelo herdado dos anos 1990. Processos manuais, falta de previsibilidade e exigência de aprovação bancária para cada operação impedem que o câmbio seja utilizado como ferramenta de gestão.
Enquanto isso, países como México e Polônia oferecem contas multimoeda e estruturas de hedge acessíveis para empresas de todos os portes. Aqui, essas soluções ainda são vistas como algo sofisticado – quando deveriam ser o padrão mínimo.
Prejuízos altos
Segundo estimativas de mercado, empresas que atuam no comércio exterior perdem entre 2% e 5% do total transacionado por falhas na gestão cambial. Em uma empresa com receita anual de 5 milhões de dólares, isso pode representar até 250 mil dólares desperdiçados. O mais alarmante é que esse valor muitas vezes desaparece sem que os gestores percebam a origem da perda.
Além da perda direta, há o impacto da instabilidade no caixa. Oscilações no dólar, tarifas voláteis e juros globais flutuantes exigem previsibilidade. Sem controle sobre o momento da conversão, oportunidades são perdidas e negociações ficam comprometidas.
Modernizar o câmbio é urgente
Para Vinicius Ramos, o câmbio precisa deixar de ser tratado como um problema e passar a ser visto como ferramenta estratégica. “Não estamos falando de especular com o dólar, mas de usar inteligência financeira”, ressalta. A boa notícia, segundo ele, é que já existem alternativas mais modernas surgindo no país.
A própria Hood se prepara para lançar uma estrutura com contas em moeda estrangeira, autonomia de conversão e menos dependência dos prazos e formatos bancários tradicionais. Essas soluções permitem que empresas operem com mais liberdade, acompanhem os momentos mais favoráveis do mercado e ganhem eficiência na operação internacional.
“Se o Brasil quer competir globalmente, precisa permitir que as empresas tenham controle sobre o próprio dinheiro. Isso é o básico”, finaliza Ramos.
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