Do Micro Ao Macro
Empresas deixam R$ 300 bilhões na mesa ao ignorar consignado privado
Projeções indicam que o consignado privado pode atingir R$ 300 bilhões em cinco anos e criar novas receitas para empresas de vários setores.
O mercado de consignado privado no Brasil, hoje estimado em R$ 50 bilhões, pode alcançar R$ 300 bilhões em cinco anos. O avanço da modalidade, que permite empréstimos com desconto em folha a trabalhadores do setor privado, ocorre com a entrada de fintechs e plataformas especializadas, mas ainda há grande espaço para novos participantes.
Logo no início de 2025, empresas de diferentes setores passaram a analisar oportunidades nesse formato. Segundo Juliana Freitas, CEO e cofundadora da Bull, as condições oferecidas aos trabalhadores, como taxas menores e garantia de pagamento direto na folha, ampliam o interesse. Para as empresas, a oferta de crédito se converte em relacionamento mais duradouro com o público.
Entraves e desconhecimento do consignado
Ao longo dos primeiros meses de operação, muitas empresas descobriram que o consignado privado ainda é pouco explorado. Lançado em março de 2025, o produto ainda é desconhecido por companhias que têm grande base de clientes pessoa física e poderiam oferecer crédito estruturado para ampliar receita.
Segundo Juliana Freitas, a falta de familiaridade com a modalidade e com suas exigências impede a adoção em escala. A compreensão sobre regulação, riscos e operação ainda é limitada entre potenciais ofertantes.
Regulação e operação
Em seguida, surgem os desafios regulatórios. Empresas precisam criar sistemas próprios de análise e gestão de crédito, obter autorização do Banco Central, captar recursos para financiar operações e manter rotinas de compliance e reporte a órgãos como a Dataprev.
Para José Pires Neto, COO da Bull, a dificuldade técnica e regulatória costuma atrasar iniciativas. Ele afirma que, sem apoio especializado, colocar uma operação de crédito no ar pode levar cerca de um ano. Além disso, a necessidade de funding e de processos robustos afasta empresas que não desejam montar toda a estrutura internamente.
Tecnologia e eficiência
Com o avanço digital, soluções baseadas em inteligência artificial ampliam a eficiência no consignado privado. A tecnologia permite ajustar modelos de precificação, reduzir inadimplência e adequar limites, taxas e prazos de acordo com o perfil de cada cliente.
Segundo José Pires Neto, a IA possibilita testar combinações, equilibrar risco e aprovação e adaptar o crédito ao canal de origem. Esse processo fortalece a segurança e melhora a rentabilidade.
Fidelização e receita
Além disso, oferecer crédito estruturado gera novas receitas para empresas de varejo, plataformas de benefícios, RHs, fintechs e operadoras de saúde. Elas podem atuar apenas na originação e receber taxas ou evoluir para financiar operações via FIDCs e securitizadoras.
Segundo Juliana Freitas, quando uma empresa oferece crédito estruturado e seguro, o cliente tende a manter o relacionamento e ampliar o consumo de produtos e serviços. O movimento reforça a expectativa de que o consignado privado se torne uma ferramenta relevante para fidelização e ecossistemas financeiros.
O avanço gradual de novos players e a busca por produtos que gerem receita recorrente explicam o interesse crescente em um mercado estimado em R$ 300 bilhões, com espaço ainda amplo para expansão do consignado privado.
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