Do Micro Ao Macro
Disputa pelo banco principal: ranking revela mudanças nas escolhas dos brasileiros
Levantamento mostra disputa entre instituições digitais e tradicionais pela preferência nas movimentações financeiras dos clientes


A preferência bancária dos brasileiros passa por uma mudança acelerada. Um levantamento da Okiar, empresa especializada em pesquisas de mercado, apontou que o Nubank se tornou a principal instituição financeira para 21,7% da população. Na sequência aparecem o Itaú, com 14,2%, e o Bradesco, com 12%.
O estudo indica que, em média, cada pessoa mantém quatro contas bancárias. No entanto, ao escolher onde centralizar suas movimentações financeiras, os brasileiros estão cada vez mais migrando para os bancos digitais.
Bancos digitais ganham espaço entre as contas principais
Embora o Nubank esteja à frente no ranking de principalidade, ele ainda ocupa a terceira posição em número total de clientes. Segundo o Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional, a liderança nesse quesito pertence à Caixa Econômica Federal, com 154 milhões de contas, seguida por Bradesco (109 milhões) e, depois, o próprio Nubank (100 milhões).
Esses dados sugerem que abrir uma conta é apenas o primeiro passo. O desafio maior para os bancos é conquistar o status de conta principal, aquela que concentra o fluxo financeiro do cliente.
Competição aumenta após avanço das fintechs
De acordo com Walney Barbosa, Diretor de Delivery da Okiar, o cenário mudou com a chegada das fintechs e dos bancos digitais. “Até 2010, os grandes bancos operavam com baixa competição e a principalidade não era uma preocupação central”, afirma. Segundo ele, as novas regulamentações estimularam o surgimento dessas instituições, aumentando o acesso ao sistema financeiro e oferecendo mais flexibilidade aos consumidores.
O estudo da Okiar mostra que os bancos digitais já respondem por 42% das contas principais no país. Os bancos tradicionais ainda detêm 58% da principalidade, mas enfrentam pressão crescente para manter essa posição.
Perfil do cliente influencia escolha da conta principal
A análise da Okiar também identificou diferenças regionais e comportamentais. Os bancos tradicionais seguem mais fortes no Sudeste e no Sul. Já nas demais regiões, os digitais ganham espaço.
Outro ponto levantado é a relação entre a estabilidade financeira e a escolha da instituição principal. Pessoas com renda variável, como autônomos, MEIs e trabalhadores informais, tendem a preferir os bancos digitais. Por outro lado, trabalhadores com carteira assinada, aposentados e empresários ainda concentram suas finanças nos bancos tradicionais, principalmente por motivos como conta salário e crédito consignado.
Walney Barbosa reforça: “A escolha passa por critérios de acesso. Quem precisa de agilidade opta por instituições menos burocráticas. Já quem tem vínculos antigos, costuma permanecer nos bancos tradicionais”.
Estratégias dos bancos para manter ou ganhar espaço
O ranking também aponta caminhos para as instituições financeiras que buscam melhorar sua posição no mercado. Os bancos tradicionais precisam aprimorar os canais digitais e estabelecer maior conexão com o público mais jovem.
As instituições digitais, por sua vez, devem ampliar a penetração entre pessoas de 30 a 44 anos. Além disso, precisam fortalecer a percepção de segurança e mostrar que têm capacidade de gerir toda a vida financeira de seus clientes.
Segundo o levantamento, a disputa por principalidade seguirá acirrada nos próximos anos. “O cenário é dinâmico. Quem lidera hoje pode perder espaço amanhã se não acompanhar as demandas dos clientes”, alerta o Diretor da Okiar.
Metodologia
O Ranking de Principalidade Financeira da Okiar foi realizado com base em entrevistas com mais de mil pessoas, entre 27 e 28 de janeiro de 2025. A pesquisa apresenta nível de confiança de 95% e margem de erro de três pontos percentuais.
O perfil dos entrevistados inclui 52% de mulheres e 48% de homens. Além disso, 49% dos participantes residem na região Sudeste.
Walney Barbosa conclui: “As instituições precisam combinar solidez com modernidade. A reputação pode ser uma vantagem competitiva se estiver acompanhada de uma experiência digital fluida, menos burocracia e uma comunicação que dialogue com as novas gerações”.
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