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Digitais femininas

Feira de estamparia fortalece o empreendedorismo das mulheres com conteúdo técnico e acesso ao crédito

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Oportunidade. A educação inclusiva e de qualidade, um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, norteiam o evento, diz Yeda Monteiro – Imagem: Redes Sociais/Future Prints
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Entre tintas, lonas, prensas térmicas e padrões gráficos, a indústria da comunicação visual vive uma transformação que muda a configuração de um setor antes dominado por homens e agora cada vez mais ocupado por mulheres que empreendem, criam e gerem os próprios negócios em um dos mercados de maior expansão entre micro e pequenos empreendedores brasileiros.

Em um dos principais eventos de negócios de impressão digital, estamparia e sinalização da América Latina, a ­FuturePrint, as mulheres agora são protagonistas. A edição programada para julho, no Distrito Anhembi, em São Paulo, terá presença recorde de lideranças femininas, com empreendedoras conduzindo painéis, oficinas e debates voltados à prática profissional, inovação e sustentabilidade. Para se ter uma ideia do crescimento desse público, dois anos atrás, 33% dos visitantes da feira eram mulheres. No ano seguinte, o índice subiu para 36%. E, em 2025, a organização projeta novo avanço, impulsionado por ações voltadas diretamente a esse público. “Primeiro, é bom salientar que metade dos visitantes da feira é formada por micro e pequenos empresários”, afirma Yeda Monteiro, CEO da feira. “Entre eles, há um número cada vez maior de mulheres em busca de capacitação e apoio para transformar suas habilidades em negócio próprio.”

Aos poucos, o espaço das profissionais deixa de ser periférico. Nas oficinas práticas e nas mesas de debate, elas discutem gestão, inovação e sustentabilidade com propriedade técnica e visão estratégica. Circulam pelos estandes como fornecedoras, empreendedoras e educadoras. E seguem a desenhar seus próprios caminhos, não mais como exceção, mas como força emergente no setor.

O otimismo dos organizadores também se mostra no projeto físico da feira. A mudança para o Distrito Anhembi, com 49% mais área útil do que o espaço anterior, vai facilitar o acesso aos serviços oferecidos. A nova estrutura amplia o destaque para os estandes, o que deve aumentar o número de atendimentos e ofertas de crédito às novas empreendedoras. Entre os corredores do evento, a Sala de Crédito atrai cada vez mais a atenção de mulheres que desejam transformar uma atividade doméstica em fonte de renda. O espaço oferece contato direto com bancos, cooperativas e fintechs, com apoio de entidades como Sebrae, Fiesp, Abigraf e ­Senai. Ali, empreendedoras em estágio inicial recebem orientações sobre financiamento, aquisição de equipamentos, gestão do caixa e condições de pagamento.

É um ponto de partida para o empreendedorismo, pois, segundo os organizadores, 70% do público que procura a Sala de Crédito está de olho em empréstimos para comprar máquinas. Outros 20% pedem apoio para aquisição de insumos e 10% solicitam capital de giro. Dois anos atrás, 125 empreendedores foram atendidos no espaço, com propostas que somaram 9,5 milhões de reais. Cerca de um quarto dessas solicitações partiu de mulheres. Em 2024, essa participação cresceu e alcançou 36%. “O espaço é para todos, mas os grandes empresários têm seus gerentes e conhecem melhor os caminhos. Aqui, o foco é em quem ainda busca entender como dar os primeiros passos com segurança”, diz Yeda Monteiro. A CEO destaca o perfil das mulheres que chegam até a Sala de Crédito. Muitas perderam o emprego nos últimos anos e passaram a trabalhar com estamparia ou brindes personalizados a partir de casa. “Elas querem empreender, mas sem sair do território da família. Buscam uma atividade que permita estar perto dos filhos, da rotina, e que, ao mesmo tempo, gere renda com autonomia.”

A FuturePrint oferece uma ponte entre empreendedoras e financiadores

Em busca de aprimorar os critérios de governança ESG, a FuturePrint passou a se orientar por alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e incorporou à estrutura ações para equilibrar impacto ambiental e inclusão produtiva. Um dos focos é o ODS 4, que trata da educação de qualidade e inclusiva. A escolha norteia a programação técnica e o acesso gratuito à maior parte das atividades oferecidas ao público. A meta, segundo os organizadores, é estimular a formação de novos empreendedores com conteúdo aplicável e acessível.

Esse compromisso aparece em uma das principais iniciativas ligadas à moda e à reutilização de materiais. No projeto (RE)ESTAMPA, coordenado pela estilista Rita Comparato, estudantes e designers iniciantes desenvolvem peças autorais a partir de resíduos têxteis. Mais de 800 quilos de tecidos serão reaproveitados. As criações serão apresentadas no desfile do Focus­ Fashion Summit, como parte da programação do evento. O processo envolve todas as etapas da produção, do corte e costura à curadoria final. A proposta almeja mostrar que o reaproveitamento pode resultar em peças com identidade e valor de mercado. A iniciativa conecta impacto ambiental, trabalho criativo e geração de renda, especialmente para quem dá os primeiros passos na cadeia da moda.

Outras atividades também colocam a prática no centro da experiência. É o caso das oficinas da iniciativa Sublimação em Ação, voltadas para técnicas de impressão em pequenos formatos. Com foco em gestão, precificação e vendas ­online, as oficinas atendem principalmente quem atua em casa, muitas vezes com produção sob demanda. Para muitas mulheres, é o primeiro contato com o universo da sublimação têxtil ou da personalização de brindes, segmentos considerados rentáveis, mesmo com estrutura enxuta. “A feira permite esse tipo de virada”, avalia Yeda Monteiro. “Vemos mulheres que chegam com uma ideia vaga e, em poucos dias, saem com clareza sobre custo, mercado e modelo de negócio possível.”

Para a executiva, a natureza pulverizada do setor gráfico favorece o ambiente de colaboração, aprendizado contínuo e troca. “É uma área que compartilha. O conhecimento circula, se multiplica, gera oportunidade. A feira reflete isso: técnica, conteúdo e conexões para quem está começando a construir o próprio caminho.” •

Publicado na edição n° 1371 de CartaCapital, em 23 de julho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Digitais femininas’

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