Do Micro Ao Macro
Burnout em lideranças afeta decisões e clima nas empresas
Burnout entre líderes segue pouco visível nas empresas e impacta engajamento, decisões e resultados, segundo dados da Gallup e da McKinsey
O burnout de liderança segue como um dos fatores menos discutidos no ambiente corporativo brasileiro, apesar de seus efeitos diretos sobre desempenho e engajamento. Levantamento da Gallup indica que 70% da variação no engajamento das equipes está ligada ao comportamento do líder, enquanto a McKinsey aponta ganho de até 25% em produtividade quando há empatia e autoconsciência na gestão.
Ao mesmo tempo, muitos gestores seguem operando sob pressão contínua. Metas agressivas, contextos instáveis, demandas emocionais dos trabalhadores e pouco tempo para reflexão formam um quadro que favorece o burnout, ainda pouco reconhecido dentro das organizações.
Daniel Spinelli, empreendedor, mentor e autor de A potência da liderança consciente, afirma que o sofrimento emocional de quem lidera costuma ser tratado como tema individual, quando seus efeitos são coletivos. Segundo ele, a ausência de espaços seguros para reconhecer limites aprofunda o problema.
Burnout e pressão diária na liderança
No dia a dia, o burnout se manifesta por fadiga decisória, rigidez cognitiva e reações emocionais mais intensas. Esses sinais costumam passar despercebidos até se refletirem em conflitos internos, decisões precipitadas ou afastamentos.
A crença de que o líder precisa “aguentar” reforça uma cultura em que pedir apoio é visto como fraqueza. Esse padrão amplia o isolamento e transfere a sobrecarga emocional para o ambiente de trabalho.
Burnout afeta decisões e relações
Quando o burnout se instala, os impactos aparecem em áreas sensíveis da gestão. A capacidade de analisar cenários diminui, enquanto a impulsividade cresce, elevando retrabalho e perdas operacionais.
Além disso, a comunicação tende a se tornar defensiva. A escuta perde espaço, a paciência diminui e a segurança psicológica das equipes é comprometida. O resultado aparece em queda de engajamento, aumento de conflitos e maior intenção de desligamento.
Fatores estruturais do burnout
Três elementos ajudam a explicar a recorrência do burnout entre líderes no Brasil. O primeiro é a hiperoperacionalização, que consome tempo com tarefas que poderiam ser delegadas ou automatizadas.
O segundo fator é a cultura da autossuficiência, que desestimula a expressão de fragilidade. O terceiro é a limitação dos programas de desenvolvimento, ainda focados em habilidades técnicas e pouco voltados à gestão emocional e à presença.
Autoliderança como resposta ao burnout
A autoliderança surge como uma das competências menos desenvolvidas nas organizações. Ela envolve autoconsciência, gestão emocional e definição clara de prioridades, funcionando como proteção contra o burnout.
Dados da Gallup indicam que líderes emocionalmente saudáveis têm até três vezes mais chance de engajar seus times. Segundo Spinelli, essa condição favorece decisões mais ponderadas, comunicação mais clara e relações de trabalho mais estáveis.
Caminhos para lidar com o burnout
Metodologias voltadas à liderança consciente propõem o desenvolvimento de clareza para leitura de contexto, autogoverno emocional, relações construtivas e foco equilibrado em resultados. O fortalecimento desses pilares reduz a pressão interna associada ao burnout e contribui para ambientes mais organizados.
Ignorar o desgaste emocional da liderança tem custo direto para as empresas. Investir em autoliderança e saúde emocional passa a ser uma decisão ligada à gestão de pessoas, à cultura organizacional e à consistência dos resultados em médio e longo prazo.
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