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Bets avançam e pressionam consumo no varejo, aponta especialista

Explosão das bets movimenta centenas de bilhões e reduz a circulação de recursos no comércio tradicional, afetando o varejo

Bets avançam e pressionam consumo no varejo, aponta especialista
Bets avançam e pressionam consumo no varejo, aponta especialista
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
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O avanço das bets se tornou um dos fatores que mais preocupam o varejo brasileiro. A expansão do mercado de apostas online movimentou R$ 240 bilhões em 2024, segundo a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), o que equivale a quase 1% do PIB.

Em paralelo, entidades do setor calcularam que cerca de R$ 103 bilhões deixaram de circular no comércio formal no mesmo período.

Ao comentar os números, o vice-presidente comercial da Rakuten Advertising no Brasil, Salomão Araújo, afirmou que há uma migração contínua de recursos do consumo tradicional para as apostas. Segundo ele, essa dinâmica altera a previsibilidade das vendas e reduz o fluxo de caixa de supermercados, farmácias, lojas de vestuário, eletrodomésticos e e-commerce.

Impacto direto das bets

A transferência de recursos ocorre de forma pulverizada e sem retorno produtivo.

De acordo com Araújo, o dinheiro gasto em apostas não gera empregos, não movimenta cadeias de fornecimento e tem destino concentrado em plataformas internacionais. Esse comportamento fragiliza o comércio local e reduz a capacidade de reinvestimento das empresas.

Mudança nos hábitos de consumo

Em seguida, o especialista destaca que parte desse consumo é impulsiva e pouco planejada.

Araújo explica que a volatilidade dos gastos afeta a organização financeira das famílias e reduz a previsibilidade das vendas no varejo.

Dados do setor estimam retração de até 11,2% no faturamento anual em alguns segmentos, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio.

Em 2024, cerca de 1,8 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes em função dos gastos com bets. Em regiões de menor renda, até 30% das famílias destinam parte relevante do orçamento às apostas, muitas vezes impulsionadas pela expectativa de retorno improvável.

Resposta do varejo

A pressão sobre as vendas leva empresas a buscar alternativas.

Araújo aponta que campanhas baseadas em dados e comunicação preditiva conseguem ampliar relevância e conversão ao longo da jornada de compra. Para ele, o uso de informação proprietária e modelagens preditivas permite acionar o consumidor no momento certo, reduzindo desperdício de mídia e aumentando eficiência comercial.

Estratégias de afiliação

Outra frente envolve marketing de afiliados e parcerias.

O especialista afirma que esses modelos permitem monitoramento contínuo de desempenho e criação de redes estratégicas capazes de ampliar alcance e elevar tíquete médio. O uso de análise de dados e IA auxilia na identificação de influenciadores e canais com maior potencial de conversão.

Programas de fidelização, cashback e benefícios têm sido utilizados como mecanismos de recorrência. Em um ambiente de consumo fragmentado, essas estratégias ajudam o varejo a disputar atenção e orçamento com maior consistência.

Perspectivas

Para Araújo, a presença das bets deve continuar influenciando os padrões de consumo.

Ele afirma que o setor varejista ainda possui capilaridade e força para reorganizar sua atuação, desde que avance em tecnologia, dados e diversificação de receitas. Segundo ele, compreender as novas dinâmicas de comportamento será determinante para construir relações mais duradouras com os consumidores.

O avanço das bets coloca pressão sobre o fluxo financeiro do varejo, exigindo respostas estruturadas e estratégias de engajamento mais eficientes, segundo avaliação do especialista ouvido pela reportagem.

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