Do Micro Ao Macro
Alfabetização em IA se torna prioridade e define o futuro das empresas
78% das companhias já utilizam inteligência artificial, mas 74% ainda enfrentam barreiras para gerar valor; especialista aponta caminhos para ampliar resultados


A inteligência artificial está presente nas operações de 78% das organizações, segundo levantamento da McKinsey, mas 74% delas ainda não conseguem converter o investimento em ganhos concretos. O desafio não está na tecnologia, e sim na cultura corporativa e na falta de preparo para utilizar os dados disponíveis de forma estratégica.
Estudos do World Economic Forum apontam que 40% das habilidades exigidas no mercado de trabalho mudarão nos próximos cinco anos, evidenciando a urgência de uma nova mentalidade. “A resistência à mudança ainda é o maior obstáculo. Muitas lideranças enxergam a IA como uma ameaça, enquanto os silos internos dificultam a integração entre negócios e tecnologia”, explica Paulo Simon, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Keyrus no Brasil.
Mesmo com a expansão do uso de dados, muitas empresas continuam baseando decisões em intuição. A falta de maturidade analítica limita a capacidade de interpretar informações e aplicar soluções orientadas por IA, o que gera um paradoxo: organizações investem em tecnologia, mas não extraem seu valor real.
O papel da alfabetização em IA
Para Simon, o AI Literacy — ou alfabetização em inteligência artificial — surge como resposta a essa lacuna. “Mais do que ensinar conceitos técnicos, o AI Literacy eleva o nível de compreensão e confiança das equipes, promovendo mudanças culturais que permitem extrair valor da tecnologia”, afirma.
Relatório da DataCamp, The State of Data & AI Literacy 2025, mostra que a alfabetização em IA é a habilidade que mais cresce em importância entre executivos C-Level. Simon destaca cinco pilares que explicam o impacto do aprendizado em IA nas empresas.
Cinco pontos para entender a importância da alfabetização em IA
1. Mentalidade organizacional
A alfabetização em IA ajuda a quebrar a visão da tecnologia como uma “caixa-preta”, democratizando o conhecimento e estimulando a curiosidade. Quando líderes entendem fundamentos e limites da IA, engajam suas equipes de forma mais estratégica.
2. Maturidade analítica
Empresas que estruturam programas de AI Literacy aprendem a coletar e aplicar dados nas decisões de negócio, criando uma cultura orientada por evidências e não por suposições.
3. Confiança decisória
Líderes alfabetizados tomam decisões com base em dados e reduzem o tempo entre o insight e a ação, tornando as operações mais ágeis.
4. Espaço para inovação
A educação contextualizada e o uso de casos práticos fortalecem o aprendizado. Ambientes de experimentação segura permitem testar ferramentas de IA sem riscos, acelerando a curva de aprendizado.
5. Inovação contínua
Empresas que priorizam AI Literacy desenvolvem ciclos permanentes de aprendizado e melhoria. Segundo a DataCamp, 69% dos executivos já consideram a alfabetização em IA uma das competências estratégicas mais importantes para o futuro.
Como aplicar nas organizações
Simon explica que a implementação deve ir além de treinamentos técnicos. “O sucesso está em tratar a alfabetização em IA como parte da transformação organizacional, combinando estratégias complementares”, afirma.
Programas de mentoria colaborativa são exemplos de iniciativas eficazes. Jovens profissionais trazem domínio tecnológico, enquanto executivos seniores oferecem visão de negócio, o que acelera o aprendizado e aproxima inovação da prática. Parcerias com universidades e centros de pesquisa também mantêm os programas atualizados e conectados às tendências do mercado.
Resultados e oportunidades
Empresas que aplicam programas estruturados de AI Literacy já colhem resultados tangíveis. “A melhoria na tomada de decisão e a redução do tempo entre insight e ação geram vantagem competitiva e consolidam uma cultura de inovação”, destaca Simon.
O investimento de R$ 23 bilhões no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) reforça a prioridade nacional em preparar o país para essa nova etapa tecnológica. “A alfabetização em IA não é um projeto pontual, é uma jornada contínua que transforma a forma como as organizações aprendem, decidem e inovam”, conclui.
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