Do Micro Ao Macro
AI Commerce muda a lógica do varejo e avança em 2026
AI Commerce já influencia decisões de compra de mais da metade dos brasileiros e passa a reorganizar vendas, marketing, logística e gestão no varejo
O AI Commerce entra em 2026 como um dos principais vetores de reorganização do varejo global. Mais do que uma tendência tecnológica, o modelo representa uma mudança estrutural na forma como consumidores compram e empresas operam.
Dados recentes mostram que 52% dos brasileiros já utilizaram ferramentas de inteligência artificial para auxiliar compras entre 2024 e 2025, enquanto 74% afirmam que a tecnologia influenciou suas escolhas, segundo o Relatório do Varejo 2025, da Adyen.
Na prática, o AI Commerce reúne aplicações de inteligência artificial voltadas a vendas, experiência do cliente, logística, marketing, precificação e gestão de estoques. O objetivo é tornar o comércio digital mais integrado, orientado por dados e capaz de antecipar comportamentos de consumo.
AI Commerce se consolida como infraestrutura
Os investimentos globais reforçam esse movimento. A International Data Corporation (IDC) estima que os gastos com inteligência artificial alcancem US$ 632 bilhões até 2028. No varejo, essa expansão deixa de ser experimental e passa a ocupar uma camada estrutural das operações.
Para Thiago Muniz, CEO da Receita Previsível e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), o AI Commerce amplia a previsibilidade do negócio. “A inteligência artificial passa a conectar dados de relacionamento, vendas e operação, permitindo ciclos comerciais mais estáveis e decisões baseadas em comportamento real”, afirma.
Do digital à organização orientada por IA
A evolução recente da tecnologia altera o papel da inteligência artificial no varejo. Para Kenneth Corrêa, professor de MBA da FGV e autor do livro Organizações Cognitivas, o avanço recente está ligado à IA generativa e aos agentes inteligentes.
“Não falamos mais apenas de previsão de demanda. Hoje existem agentes autônomos que pesquisam preços, criam campanhas em tempo real, realizam atendimento e executam vendas. O varejo passa a operar como uma organização cognitiva, onde a IA conecta a intenção do cliente à entrega”, explica.
Esse cenário impulsiona sistemas de recomendação personalizados, precificação dinâmica baseada em margem e demanda, automação logística integrada e estratégias de marketing capazes de antecipar interesses antes mesmo da busca ativa.
Decisão baseada em dados redefine o varejo
O impacto do AI Commerce não se limita à jornada do consumidor. A forma como varejistas escolhem tecnologias e organizam processos também muda. Plataformas de software passam a ser avaliadas com base em métricas de uso, eficiência e sobreposição de funções.
Segundo Fernando Neto, COO da plataforma Stack, a inteligência artificial já influencia decisões internas. “Empresas estão revisando processos e escolhendo tecnologias com base em dados gerados por IA, identificando desperdícios e redundâncias que antes passavam despercebidas”, diz.
Segurança ganha papel central no AI Commerce
Com mais dados circulando entre sistemas de recomendação, checkout, CRM e logística, a segurança digital se torna um ponto crítico. Pesquisa da Serasa Experian mostra que 48,1% dos consumidores já abandonaram compras online por falta de confiança no site ou aplicativo.
Para Fernando Corrêa, CEO da Security First, a ampliação do uso de IA aumenta a superfície de risco. “Modelos automatizados exigem auditoria contínua, monitoramento de APIs e controle rigoroso dos fluxos de dados. Segurança passa a ser parte estrutural do AI Commerce”, afirma.
Busca, marketing e comportamento mediado por IA
O comportamento de descoberta de produtos também se altera. Em vez de buscas diretas, consumidores passam a navegar por recomendações contínuas em marketplaces e redes sociais, modelo já consolidado em plataformas de conteúdo.
Para Thiago da Mata, CEO da Kwara, essa lógica exige atenção. “Com estoques amplos e dados em tempo real, a personalização deixa de ser opcional. O modelo de recomendação orienta preferências e decisões no varejo digital”, analisa.
No marketing, a mudança exige adaptação. Para Bruna Madaloni, CEO da Hay Hyve, o impacto do AI Commerce está na reorganização da jornada de compra. “As marcas passam a responder em tempo real a contextos, emoções e sinais culturais. A tecnologia amplia a leitura desses sinais, mas exige clareza e intencionalidade”, afirma.
MarTech integra dados e decisões
O avanço do AI Commerce também reposiciona o ecossistema de marketing. Segundo Lucas Monteiro, Martech Leader da Keyrus, a inteligência artificial conecta dados de vendas, estoque, atendimento e comunicação em fluxos únicos.
“Modelos de IA já apoiam segmentações dinâmicas, ajustes automáticos de campanhas e ofertas em tempo real, acompanhando o comportamento do consumidor”, diz.
O que impulsiona o AI Commerce em 2026
A expansão do AI Commerce em 2026 será acelerada por consumidores mais familiarizados com IA, cadeias de suprimento baseadas em machine learning, integração entre lojas físicas e digitais, automação operacional e marketing preditivo. Também surgem novos modelos de monetização apoiados em dados e curadoria personalizada.
Esse conjunto de fatores indica que o AI Commerce deixa de ser apenas uma inovação pontual e passa a compor a estrutura central do varejo. Em 2026, dados, automação e inteligência artificial tendem a ocupar papel decisivo no planejamento, na operação e na relação entre marcas e consumidores.
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