Diversidade

Sobre o encontro Julho das Pretas que escrevem no DF

Uma tarde de troca, escuta e conhecimento acalantou corações em momento duro de pandemia

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Uma folha em branco.

Uma folha em preto.

Algumas folhas de pretas realidades.

Diversas folhas escritas por escritoras negras foram divulgadas, pensadas, expostas, conhecidas e descobertas no I Julho das Pretas que Escrevem no DF.

Afinal, mais um mês de julho chegou e com ele a renovação da oportunidade de assistirmos a evidências de fortalecimento do Julho das Pretas. O pioneiro evento em Brasília, realizado na Banca da Conceição no dia 24 de julho, antecipou o início da celebração do Dia da Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, e do Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Foi uma autêntica manifestação de pluralidades e diversidade.

No gramado da Asa Sul de Brasília, foi exposta a literatura infanto-juvenil de Cida Chagas, com o seu Caminho de um ninja, ao lado da sensível escrita sob o formato de e-book de Ramíla Moura, jornalista de formação.

Ao circular nos espaços entre as bancas organizadas com flores, afeto e historicidade, era possível se deparar com a nossa obra, intitulada Livre Circulação de Trabalhadores e Seguridade Social: estudo comparado entre União Europeia e Mercosul, bem como com a experiência de Hellen Rodrigues Batista, facilitadora do projeto Escrevivências.

Sim, as escrevivências. Não esqueçamos que “para a mulher negra, escrever é um ato político”, como precisamente assinala Conceição Evaristo. Rememoremos as nossas realidades, as dificuldades, as necessidades, as capacidades de ocupar espaços, de resistir e de existir. E que o nosso olhar não se acostume às ausências, título da obra da jornalista paraibana Waleska Barbosa, idealizadora do I Julho das Pretas que Escrevem no DF, preta que reuniu e integrou essas mulheres escritoras com uma velocidade organizativa ímpar. Sua fala, ao abrir o encontro, deixou antever a potência do caminho a ser percorrido pelo evento no futuro próximo.

Ao longo da tarde, a recepção da jornalista e cronista Conceição Freitas na banquinha da 308 Sul contou ainda com a palavra inspiradora das homenageadas, precursoras mulheres negras em Brasília: as jornalistas Jacira Silva e Rosane Garcia, e a educadora Lydia Garcia, cuja musicalidade arrematava cada discurso de modo a preencher as almas e arrebatar os corpos negros.

O som também ficou a cargo de Kaju, Juliane Ataide, DJ, poeta e compositora.

Essa breve (e não exaustiva) menção às escritoras negras presentes na primeira edição o evento busca marcar não só esse momento inicial, mas toda a mobilização das mulheres negras escritoras do país até os dias atuais.

Embora ainda haja uma dissonância gritante quanto à presença feminina negra na composição das vozes plurais literárias, o contexto atual, da ainda persistente pandemia, permitiu, de maneira ímpar, a reunião para a troca, a escuta, o conhecimento e a descoberta em um ambiente de estratégia cultural e política que possibilitou um formato de força expressiva surpreendentemente possível.

Inegável que pandemia de Covid-19 ceifou inúmeras vidas negras, silenciou mulheres, arrefeceu mobilizações, impediu criações e produções. No evento do último sábado, porém, houve um acalento de esperança por novas uniões. Afinal, como o grupo entoou em uma só voz, em um dos momentos de ápice de integração da jornada:

“Um sorriso negro

Um abraço negro

Traz felicidade”.

E trouxe.

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