Cultura

Operário cria esculturas com manequins para denunciar feminicídio

Um artista cria um ‘jardim’ no interior do Paraná para desvelar mortes de mulheres e provoca controvérsia

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Pintados como se estivessem retalhados, ou assinalados com símbolos místicos, os manequins pendem das árvores do quintal presos pelo pescoço ou empalados nos troncos. Lágrimas de sangue escorrem dos olhos, há talhos nas pernas e nos dorsos. Para alguns, trata-se de um Jardim de Esculturas macabro. Outros creem que é uma manifestação de satanismo.

“Muita gente chega até ali na calçada e atravessa pro outro lado da rua para não ter que passar aqui em frente”, diverte-se o autor, Odir Martins, o Ratinho. “Tem gente que diz que é macumba.” Teve uma mulher da cidade que o denunciou no Facebook por ocultismo e satanismo. Ele acha tudo muito engraçado.

O Jardim de Esculturas de Odir tem causado certa controvérsia na cidade de Cianorte (a 507 km de Curitiba, no norte do Paraná). Todos querem saber o motivo de suas obras, mas o autor tem muitos afazeres para ficar explicando. Se bater palmas na casa dele, fica tudo mais claro: “Tinha uns manequins velhos na garagem. Eu ia jogar fora, mas pensei em usar para dizer alguma coisa. Eu tenho notado que há uma onda de assassinatos de mulheres no Brasil atualmente, muitos feminicídios. Pensei em fazer algo que fosse uma denúncia dessa situação”, conta o artista. Com seus brincos e colares de caveiras, já foi gótico de dormir em caixão de defunto, para tirar onda, mas hoje é apenas um pacato fã de heavy metal, adora Iron Maiden, Megadeth, Gorgoroth e Motörhead.

Odir Martins, o criador do Jardim das Esculturas, em Cianorte (PR), já foi acusado de satanismo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Odir é operário, trabalha na gigantesca fábrica de frangos da cidade, que abate 12 mil aves por hora, 180 mil por dia. Quando não está no trabalho, opera criativamente em uma tranquila casa de madeira na Avenida Pará, na Vila Sete, bairro pacato da cidade, forjando peças em seu ateliê ao qual não dá acesso frequentemente, tem que se tornar muito amigo dele para conseguir passar do portão.

No seu quintal, além de quatro cães que lembram os dachshund (aquele cachorrinho Cofap), pontificam dois Fusca (um Fuscão Fafá e outro 1979) estacionados há tanto tempo que as rodas já vão submergindo na terra, e ele explica o porquê. “Eu estou esperando uma certa oxidação da lataria deles para que percam essa cara de novos”, diz, rindo. “Tem até uns produtos que aceleram isso, mas eu prefiro assim.”

Fã das grandes tribos da motocicleta, também rebusca uma moto “bolinha” (uma Honda CG 125) para dar uns passeios. Inveja os amigos que se lançam no mundo de moto, que chegam à Patagônia chilena de motocicleta, mas nunca vai muito longe para não deixar os cães sós.

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