Ativistas e movimentos sociais organizam um ato pela morte de Lindolfo Kosmaski, militante LGBT de 25 anos, na cidade de São João do Triunfo, interior do Paraná. No protesto a ser realizado no sábado 8, às 9h30 da manhã, no centro do município, os manifestantes devem pressionar a Justiça pelo andamento das investigações sobre possível assassinato por homofobia.
O corpo foi encontrado carbonizado e com dois tiros dentro de um carro em uma estrada rural da cidade, na manhã de 1º de maio. Em seguida, foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de União da Vitória e liberado no dia seguinte. O enterro ocorreu na segunda-feira 3.
O caso virou alvo de inquérito na Delegacia de Polícia Civil de São João do Triunfo, sob responsabilidade do delegado Michel Leite Pereira Silva. A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado do Paraná acompanha a apuração, por meio da promotora Andréa Cristina Koslovski. Procurados, o delegado, a promotora e a Secretaria de Segurança Pública do Paraná não se manifestaram.
Hermes Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Educação Pública do Paraná, conhecia Kosmaski e visitou a família no fim de semana. Segundo o sindicalista, o jovem havia saído de casa na noite de sexta-feira 30 para ir até um comércio, sozinho, dirigindo seu carro, e não retornou.
Na madrugada, um incêndio em uma plantação chamou a atenção da comunidade, derivado do fogo colocado no automóvel. Kosmaski teria sido amarrado no banco dos passageiros, de acordo com o relato que Leão ouviu dos familiares. O veículo e o corpo foram identificados pelo Corpo de Bombeiros.
“São características de uma ação marcada como crime de ódio”, diz o sindicalista, que visitou o cenário do crime.
Kosmaski foi candidato a vereador na cidade em 2020, pelo PT, e se dedicava à causa LGBT no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O fato de que o jovem era engajado e estava em evidência na região representa um indício para a família de que o assassinato teve motivação política, afirma Leão.
Clau Lopes, presidente do Conselho de Direitos Humanos do Paraná, relatou a CartaCapital que Kosmaski estava recebendo ameaças virtuais com discursos de ódio, que incluíam ofensas a sua orientação sexual. A entidade também acompanha as investigações.
Lopes afirmou que está em curso uma articulação para oferecer assistência à família, que ficará sob vulnerabilidade econômica “bem maior” após a morte de Kosmaski. O jovem tinha a única renda fixa na casa, de cerca de 1,4 mil reais, que obtinha com um contrato temporário como professor de Física no Colégio Estadual Francisco Neves Filho.
Kosmaski era o mais velho dos 5 filhos dos agricultores Adolfo e Rose. Dois irmãos são menores de idade. Procurada, a família preferiu não se pronunciar.
“É uma família muito pobre. Com muito esforço, o Lindolfo conseguiu o seu diploma na Licenciatura”, conta Lopes.
Uma nota de pesar foi emitida na terça-feira 4 pela Universidade Federal do Paraná, onde Kosmaski se formou em Educação do Campo, em parceria com a Escola Latino-americana de Agroecologia. Na mesma universidade, o jovem cursava mestrado no Pós-Graduação em Educação em Ciências e em Matemática.
“A UFPR reitera o posicionamento contra qualquer tipo de violência ou discriminação”, escreveu a instituição.
O prefeito de São João do Triunfo, Abimael do Valle (PT), cobrou que o caso seja esclarecido e publicou uma imagem com a hashtag #HomofobiaMata, no domingo 2. A bancada petista na Assembleia Legislativa do Paraná protocolou requerimentos de votos de pesar pelo assassinato. Na quarta-feira 5, o deputado estadual Arilson Chiorato (PT), presidente da sigla no Paraná, propôs um projeto de lei que cria uma delegacia especial para crimes de intolerância.
O MST, por sua vez, homenageou a passagem de Kosmaski na organização e reivindicou punição aos culpados.
“O MST destaca o seu compromisso de lutar por uma sociedade sem LGBTfobia e na construção de um mundo onde a vida e todas as formas de ser e amar sejam garantidas plenamente.”
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