Só tem uma curiosidade nessa história: Thifany é uma mulher transexual lançada por um partido historicamente antifeminista e pouco aberto às lutas LGBTIs. Já foi a casa de Hélio José, atualmente senador pelo Pros, um político acusado de abuso sexual (denúncia rejeitada pela Justiça) e que chegou à sigla com o discurso de que mulheres estão aí para dar “prazer e alegria” aos homens.
O partido acolheu também Denise Abreu, que cogitou se candidatar à Prefeitura de São Paulo, em 2016, mas desistiu para apoiar João Doria. Por aquela época, postou em seu Twitter que “o partido da mulher é antifeminista”.“É a resposta necessária para reposicionar a mulher em seu devido lugar, um lugar especial como centro aglutinador da família.” Suêd Haid, presidenta do partido, já avisou que o PMB é contra o aborto. Mas que querem uma coisa: colocar mais mulheres no poder.
Para fechar o pacote, ainda filiou políticos com convicções claramente contrárias às de Thifany. Um deles foi o pastor Ezequiel Teixeira, adepto das ideias de “cura gay”, e responsável por suspender os serviços do programa Rio sem Homofobia, quando era secretario do estado do Rio de Janeiro.
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“Eu me sinto acolhida aqui, assim como todas as LGBTs. Digo pelo estado de São Paulo. Eu e a Marcia Lima, que também é transexual, vimos que o partido tem algumas questões que realmente não batem com as nossas intenções”, conta Thifany. “Mas, infelizmente, no Brasil, precisamos de um partido para concorrer”, reclama.
E o PMB a ajudou a firmar sua candidatura. Thifany quase ficou de fora dessas eleições – o nome dela não constava na lista de filiados do PMB. Segundo ela, a presidenta nacional, Suêd Haid, mandou carta para Brasília e para o TRE para provar que Thifany havia se filiado a tempo de concorrer às eleições. Ao que tudo indica, segundo ela, a candidatura deve ser aprovada.
Foi bem diferente do que rolou em 2014, quando era pré-candidata a deputada estadual pelo PSB. Naquela ocasião, mais uma vez, o nome dela não constava na lista de filiados do partido. Teve a candidatura impugnada. O partido a tranquilizou e fez um convite para gravar um vídeo como pré-candidata da causa LGBT. E nunca a avisou sobre a decisão final do TRE de manter a impugnação. “O Caio França, filho de Marcio França, também era candidato. E mexeram os pauzinhos para ele sair como único candidato do litoral”, conta.
No PT, em 2012, a experiência foi ainda pior: não conseguiu nem espaço como pré-candidata. Conhecida na cidade de Ubatuba por defender transexuais e travestis, um grupo de amigos de Thifany juntou 200 assinaturas em um abaixo-assinado para pedir a candidatura dela à Câmara dos Vereadores da cidade. Ninguém deu a mínima, segundo ela. “Eu sempre achei que o PT fosse bem socialista, atento às demandas LGBTs. Mas eles me receberam muito mal”, relembra.
Com o PSOL, a parceria também não saiu como ela esperava. Morava em Caraguatatuba, quando membros do partido a convidaram para sair como pré-candidata à Prefeitura da cidade. Topou, mas, segundo ela, sem qualquer apoio da sigla. “Não me ajudaram em nada. O material da campanha chegou 10 dias antes das eleições. O presidente queria, na verdade, apoiar o candidato do PMDB e desistir do meu nome”, relembra. Ganhou a candidatura, mas perdeu nas urnas.
É por essas histórias que Thifany, entusiasta da melhoria na educação e ativista transexual, não se importa com a ideologia e o histórico do partido – que, apesar de dar pinta de conservadorismos, aposta e apoia uma maior presença feminina na política. “Digo que não sou de nenhum partido. Estou em um partido. Não quero carregar os erros dos colegas. Meu partido sou eu”, explica.