Diversidade

Edital da PM do Paraná avalia “masculinidade” de candidatos

Em nota, a PM-PR diz que o termo gerou interpretação equivocada e que não faz qualquer avaliação de gênero. Ainda assim, fará ajustes no edital

Edital da PM do Paraná avalia “masculinidade” de candidatos
Edital da PM do Paraná avalia “masculinidade” de candidatos
Amabilidade, capacidade de confiar nas pessoas e prudência são menos exigidos que "masculinidade" - ou capacidade de não se emocionar com cenas de violência
Apoie Siga-nos no

No sábado 11, a Polícia Militar do Paraná publicou seu novo edital, com 16 vagas para cadete (sendo duas reservadas para negros). E o documento trouxe uma particularidade: entre os 72 critérios de avaliação do exame psicológico, a corporação promete levar em consideração a “masculinidade” dos candidatos. O teste é uma das etapas finais do concurso.

De acordo com o edital, masculinidade se traduz como a “capacidade do indivíduo de não se impressionar com cenas violentas, não se emocionar facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”. Exige-se que os interessados tenham “masculinidade” em um nível maior ou igual “regular”.

Não demorou para surgirem críticas ao edital. A Aliança Nacional LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexuais) divulgou nota de repúdio à avaliação de masculinidade.

Leia também:
Por que os homens também precisam do feminismo?
É possível desmilitarizar a polícia brasileira?

“Entendemos que a exigência, entre diversos equívocos, desconsidera a possibilidade de mulheres candidatas a cadete, ou quer que elas também tenham características de “masculinidade”, e que, portanto, é um retrocesso discriminatório e permeado por machismo, chauvinismo, patriarcalismo, sexismo, binarismo de gênero, heteronormatividade, afirmam. “Fere a Declaração Universal de Direitos Humanos e a Constituição Federal Brasileira no que diz respeito à igualdade de todas as pessoas, além de estar na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) em relação ao alcance da igualdade entre os gêneros”.

Em nota, a PM do Paraná informou que o uso do termo, que “tem essa denominação por opção do autor do instrumento psicológico”, gerou interpretação equivocada. Segundo o órgão, o psicólogo Flávio Rodrigues Costa, responsável pela elaboração do exame, afirmou não haver “conotação de diferenciação de gênero, sexo ou qualquer forma discriminatória” e que o teste recebeu o aval de “instrumentos de avaliação existentes no mercado”.

Ainda assim, a PM afirmou que fará ajustes no termo “masculinidade”. “A Polícia Militar do Paraná esclarece que está promovendo o ajuste no termo que gerou a polêmica, para ‘enfrentamento’, sem prejuízo à testagem psicológica necessária à definição do perfil profissiográfico exigido para o militar estadual”, diz a nota.

Em edital do mesmo concurso, publicado no ano passado, a PM também descrevia os mesmos critérios de avaliação psicológica – com o termo masculinidade já incluso. Em 2016, no entanto, citava apenas 20 critérios. E nenhum deles fazia referência a gênero. Era mais uma avaliação sobre a confiança, assertividade, capacidade de liderança, autocontrole, entre outras características, dos candidatos.

Nos últimos dois anos, no entanto, com mais critérios listados, sobrou espaço para abrir dúvidas sobre o que se espera dos policiais do Paraná. Além da masculinidade, o edital parece buscar pessoas “fortes” e pouco amáveis.

Por exemplo, os itens “amabilidade” e “confiança nas pessoas” e “prudência” são pouco cobrados – colocados em níveis “maior ou igual a baixo”.  

Amabilidade, segundo o edital, é a “capacidade de expressar-se se com atenção, compreensão e empatia às demais pessoas, buscando ser agradável, observando as opiniões alheias, agindo com educação e importando-se com suas necessidades”. Ao mesmo tempo, cobra um nível pouco maior de empatia dos candidatos.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo