Diversidade
Deputado e psiquiatra defendem que transexualidade é “epidemia”. Advogado vê LGBTfobia
Psiquiatra Akemi Shiba e o deputado Eric Lins (DEM) farão conferência sobre o tema na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul será palco, no próximo dia 18, de uma palestra que trata a transexualidade como epidemia. Com o nome “Epidemia de Transgêneros: o que está acontecendo com as nossas crianças?”, a conferência será ministrada pela médica psiquiatra Akemi Shiba e foi idealizada pelo deputado estadual Eric Lins (DEM).
Tanto a médica quanto o deputado fazem parte de um grupo chamado “Escola Sem Doutrinação”, que segue a mesma ideia do movimento “Escola Sem Partido” e defende que as escolas não podem trabalhar temas relacionados à formação crítica e humana dos alunos, como educação sexual e identidade de gênero.
A assessoria do deputado Eric confirmou a palestra e disse que o parlamentar usou seu cargo para dar visibilidade ao tema defendido por Akemi. A palestra não faz parte de nenhum evento da casa.
Deputado Eric Lins (DEM). Foto: Assembleia Legislativa do RS.
Akemi Shiba é uma psiquiatra que vai contra o que determina o Conselho Federal de Medicina (CFM). A profissional defende que adolescentes trans não podem fazer o tratamento hormonal a partir dos 16 anos e que a cirurgia só pode acontecer depois dos 21.
Além disso, ao chamar a transexualidade de epidemia, a psiquiatra classifica como doença algo que já foi provado que não é. Em 2018, a Organização Mundial da Saúde deixou de classificar transexualidade como disfunção mental.
A médica postou um artigo no site “Articulação Conservadora” em que justifica sua opinião baseada em uma organização religiosa de pediatras dos EUA. A American C0llege of Pediatricians defende, entre outras coisas, que família é formado por pai e mãe e que sexo seja feito só depois do casamento.
Akemi também diz no artigo que “ideologia de gênero” é descendente da teoria crítica da escola de Frankfurt e faz uma releitura de Marx, após o fracasso da URSS. “Eles propuseram a revolução cultural ao invés da revolução com armas, como rege o manifesto comunista. As minorias são os neoproletários oprimidos pela “classe burguesa” e que ao destruírem valores “burgueses” como família, religião, cultura e propriedade privada tomarão o poder”, diz a psiquiatra.
Crime de racismo
Ao defender a transexualidade como doença, indo contra o que defende a OMS e o CFM, Akemi pode ser enquadrada na lei de racismo, que desde 2019, após uma decisão do STF, passou a englobar também a LGBTfobia.
Segundo o advogado Paulo Iotti, responsável pela ação no STF que criminalizou a LGBTfobia, a psiquiatra praticou crime ao induzir ou incitar o preconceito (art. 20 da Lei 7716/89). “Vai contra todos os parâmetros do CFM, em uma deturpação que é uma clara tentativa de criar histeria moral contra pessoas trans e o ativismo trans em particular”, defende o advogado.
Nota enviada pela assessoria do deputado Eric
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